Trigésimo segundo dia

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As folhas que entram pela janela parecem bailar ao vento enquanto vão de encontro ao chão seco. Se elas soubessem que abriram mão da liberdade ao atravessar aquele pequeno portal em direção ao interior da minha pequena cela, nunca teríam atravessado-a.

Eu me perco no tempo enquanto fito a pequena abertura no alto da perede, na forma de um leque, com três barras de ferro que a atravessam verticalmente. Meu único contato com o mundo exterior. Por ela passam apenas vento, raios de sol e algumas folhas amareladas. Parece uma janela baixa, na base de uma casa talvez. Como se eu estivesse em um porão.

Logo abaixo da janela, em uma tábua de madeira presa a parede a quase um metro do chão fica a minha cama, com um colchonete fino e um cobertor velho e empoeirado. O chão e as paredes são feitas de pedras, secas e cortantes.

Não há nada que me ofereça o mínimo de conforto, sem luz elétrica ou sequer uma vela... Ele não se arriscaria a me deixar mexer com fogo. Também não há nada que separe o meu momento de refeições, (das quais se dividem em três: café da manhã, almoço e jantar), do banheiro improvisado, equipado com apenas um vaso sanitário para as necessidades fisiológicas. Ao menos tem água encanada para a descarga.

Tudo é muito monocromático e silencioso durante todos os dias, sou tão consumida pelo tédio que respirar se torna altomático e não mais prazeroso. Porque não me sinto mais viva. Estou morrendo aos poucos junto com as folhas que morrem secas no chão seco.

Nada nesse lugar parece ter vida.

A menina do cativeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora