Ano novo vida nova

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Mais um ano se inicia e até aqui sempre fui muito estudiosa, mas isso aos poucos foi mudando... Por quê?
Porque meus pais me colocaram em uma escola horrível pra estudar. Por que eu não tô estudando na tão sonhada escola? Porque já estamos no final de fevereiro e eles nunca lançaram a lista de aprovados; até hoje tô na dúvida se passei ou não. Como eu não podia me atrasar no ano letivo, meus pais resolveram fazer isso comigo enquanto não saísse a lista de convocados, tive que aceitar apesar de não gostar de lá.

Meus pais não são terríveis assim à ponto de me botar em uma escola ruim só por eu não ter passado, é que na verdade todas as escolas públicas da minha cidade são terríveis e as particulares de ensino médio são muito caras, então como não se sabia se era provisório ou não, eles me botaram lá. Se eu não passar na outra eles vão me botar em uma particular melhorzinha, bom, eu acho.

Minha mãe se chama Soraia e ela é daquelas pessoas engraçadas que tiram piada de tudo, mesmo tendo seus momentos de tristeza, baixa autoestima e lamentação. A gente tem uma boa relação, conversamos muito e rimos mais ainda, ela é ótima com remédios e eu acho que se ela tivesse condições ela seria uma médica incrível, além de ser uma ótima pessoa. Não nos parecemos fisicamente - ela é negra tem mais ou menos a minha altura com os cabelos pretos crespos e curtos - mas em jeito e traços de personalidade parecemos muito, tanto nas piadas, quanto nos acessos de tristeza e baixa autoestima.

Já o meu pai - que se chama Heitor - e eu nos parecemos muito fisicamente minha mãe dizia que quando eu era bebê nossos sorrisos eram idênticos, ele é mais baixo que eu, é branco e quando tinha cabelo, era castanho escuro, liso e cheio de movimento; hoje em dia sobrou apenas alguns fios deixando uma enorme careca que me auxilia na hora de procurá-lo em meio a multidão. E em personalidade ele é aparentemente carrancudo e as vezes é realmente, ele não é muito comunicativo puxei isso dele infelizmente e péssimo pra se expressar, apesar de tudo isso ele é um ótimo pai e se você parar pra realmente conhecê-lo verá que tem uma ótima pessoa atrás daquela cara de zangado. Ele faz de tudo pra dar o melhor pra mim e pra minha irmã.

E por falar nela, que é o xodó da casa, hoje Dafne tem 3 anos, um pouco menos que 1 m de altura - ela é alta e esguia pra idade dela - é morena um pouco mais clara que minha mãe, é quase idêntica a mim se não fosse pela cor da pele, seu cabelo é preto liso e cacheado nas pontas que vão até a cintura e ela tem uma franja bem fofa rente a sobrancelha igualzinha a minha quando eu era criança, seus olhos são castanhos quase negros e redondos que emitem uma inocência e fofura de explodir o coração.

Bom, eu não sou alta e nem tão baixa, tenho 1,64 m de altura, branca - atualmente bronzeada por pegar Sol constantemente voltando da escola de pé ao meio-dia - meu cabelo como sempre é curto, um pouco maior que a altura do ombro liso e preto, meu rosto é infantil e arredondado, apesar de ser magra; apesar da minha família todos terem os olhos castanhos escuros, eu tenho olhos cor de mel um tanto quanto avermelhados. Muitos até acham a cor bonita por ficarem vermelhos no Sol.

Meus pais me matricularam nessa tal escola com duas semanas de aula, ou seja fui uma das últimas a chegar na turma. Geovana também tá estudando lá, só que em outra sala - o 1e - e com o meu azar, me colocaram na 1a, sala onde não conheço ninguém.

Primeiro dia de aula que saco. Minha animação pra ir é zero, já tô sentindo uma pré-vergonha, antes mesmo de tentar me comunicar com alguém. Ai, tô atrasada. Que ótimo.
Só tive tempo de comprar a parte de cima do uniforme, ainda falta a calça horrível, por isso hoje vou de calça jeans pra me deixar mais estranha entre os outros alunos.

Chegamos, meu pai e eu e fomos pra coordenação, olho em volta - que lugar estranho.
Entramos na segunda sala do comprido corredor cheio de portas, lá dentro estava sentada uma senhora de óculos com os cabelos pintados de louro escuro amarrados em um rabo de cavalo, meu pai conversa com ela, enquanto eu olhava pra parede sem prestar atenção.

"Tudo bem, vou levar ela até a sala." Diz a senhora levantando da cadeira.

"Ok, obrigado." Meu pai também levanta apertando a mão dela e indo rumo a porta me deixando nesse lugar estranho.

"Tchau." Ele disse dando um leve sorriso e acenando pra mim.

"Tchau." Digo sem emoção observando ele ir embora da sala.

A senhora me chama: "Vamos para a sala?"

Me viro pra ela e aceno com a cabeça, que me leva até a primeira sala à direita de outro corredor um pouco mais amplo que o anterior. Ela bate na porta e abre: "Licença professora, vim só deixar essa aluna nova."

Que ódio dessa velha falando assim, que ódio dessa situação, penso com toda minha força, ela aponta pra sala indicando pra que eu entre. Entro e vou logo a procura de uma cadeira vaga, enquanto eu procuro a professora me dá boas vindas, me viro pra ela e dou um sorriso tímido, olho pro quadro e vejo escrito química pelo menos uma matéria boa pra começar.

Encontro uma cadeira vaga no canto direito no fundo ótimo um lugar discreto. Me sento e tento prestar atenção na aula, mas me sinto incomodada com os olhares que percebo quando olho de soslaio.

Com o decorrer da aula, a professora manda uma aticidade em sala pra fazer em trio, já fico apreensiva - vou sobrar nessa porra.
Logo uma menina baixinha que senta no outro canto em frente a porta, ou seja, na maior distância de mim, me chama pra fazer com ela e seu amigo que senta bem atrás.

Me levanto com minha bolsa e vou tentando levar a cadeira desajeitadamente até ela, passando por todo mundo que vergonha, a professora percebendo minha dificuldade em carregar a cadeira até lá pergunta: "Bora gente, ninguém vai ajudar ela não? Cadê os cavalheiros?"

Beleza, ninguém levantou pra me ajudar. Depois da luta com a cadeira cheguei até o lado da garota que me chamou pra fazer atividade com ela.

"Oi, como é teu nome?" Ela me perguntou inclinando-se na minha direção.

"Verônica." Respondi.

"Ah, o meu é Debora, e ele é o Lucas." Disse Débora apontando para o amigo.

Sorri tentando parecer simpática e disse oi para o Lucas que retribuiu o sorriso. Não tínhamos os livros ainda, então a professora deu para cada grupo um livro, Débora começou a ler a questão, no final ela com uma careta:
"Entendi não, olha ai Lucas." Disse entregando o livro a ele.

Débora tem a fisionomia engraçada, é baixa e magra, tem os cabelos cacheados na altura do ombro, dentes que são uma "bagunça" na boca e um queixo extremamente acentuado.
Lucas é moreno alto e esguio, com uma aparência comum e jeitinho de tímido, ele leu e disse que também não tinha entendido.

"Deixa eu ver." Disse estendendo a mão pra pegar o livro, comecei a ler que coisa fácil vei expliquei pros dois:
"... E aqui fica a ligação covalente." Apontei pros riscos explicativos que fiz na cadeira.

"Nossa, mas tu é inteligente. Tu estudava aonde?" Débora perguntou curiosa. Eu ri, eu não sou inteligente, o pessoal daqui que tá atrasado, e foi só uma questãozinha de nada.

"Estudei no CDS, conhece?" Respondi.

"Não." Disse tentando lembrar de algum colégio com esse nome.

"Também não conheço." Disse Lucas. Novidade, ninguém conhece aquela escola.

"Ela é bem pequena." Expliquei o fato deles não conhecerem.

"Hum, é particular?" Perguntou Débora.

"É sim. "

A aula foi passando, e ao final respondemos a atividade e entregamos a professora, o resto das aulas foi um borrão pra mim.
Na hora do intervalo, nem tive ânimo pra sair da sala atrás de Geovana, fiquei na minha cadeira encostada no canto.

A aula acabou e sai rapidamente da sala em direção a saída que por sinal é muito longe pqp que lugar estranho, na saída encontro Geovana, a gente conversa um pouco e eu me despeço e vou embora. Vou de pé pra casa e longe e o Sol esse horário é terrível que daora a vida.

Chego em casa e vou pro computador ver se tem notícias do resultado da minha escola dos sonhos.

Verônica - livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora