Amigos

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Passaram-se duas semanas desde que comecei a estudar no Colégio Oswaldo Cruz, aliás, esse é o nome do colégio que eu nunca tinha dito pra vocês. Todo colégio público aqui, tem nome desses caras famosos na história do Brasil.

Apesar de toda a deprê e "antissociabilidade", conheci um pessoal legal na escola - eu e esse meu jeito esquisito de só conseguir ser sociável se as pessoas vierem falar comigo.

Me aproximei muito da Rebeca e da Larissa, as duas são uma graça, discutem mais do que tudo, mas no fundo, não vivem uma longe da outra. Também me aproximei de Roger, um carinha que senta atrás de mim, ele curte ler uns livros de rituais satânicos não sei pra que, ele faz circo e teatro, Roger é bem eclético. Esguio, cabelo castanho encaracolado e fala cantando de um jeito engraçado, desconfio que ele seja gay apesar de até agora não ter dito ele tem a alma bem colorida.

Conheci Eduardo, outro carinha que senta na cadeira a frente da de Rebeca todos nós nos sentamos próximos uns dos outros. Ele é muito divertido e adora inventar mentiras mirabolantes pra encabular eu e as meninas. Ele é bem alto e tem o cabelo liso preto com um topete que é sagrado. Outra pessoa que também fiz amiade, foi o Thalis, ele é baixo, tem o cabelo preto cortado quase que no zero, e é uma ótima pessoa pra sorrir - e eu que sou a palhaça dos grupos de amizade adoro gente assim - pois ele ri muito de tudo que você fala.

Bom, olhando bem até que eu não sou um desastre em relações pessoais.

Segunda-feira, chego na sala, Roger tá concentrado lendo seu livro de bruxaria, Rebeca e Larissa tão conversando alguma coisa interna elas são amigas há mais tempo e Thalis tá fazendo a atividade. Vou em direção a minha cadeira e falo um "oi" pra todo mundo, eles respondem e voltam a fazer o que estavam fazendo.

Thalis para de escrever e pergunta: "Fez a atividade?"

"Fiz nada." Respondi

Ele ri de um jeito engraçado como sempre e diz: "Essa bicha é doida."

Sorrio e encaro a porta, de repente entra uma menina nova: ela é da minha altura, cabelo castanho claro comprido e cacheado, olhos grandes e fisionomia tranquila. Ela caminha em direção à cadeira atrás de Roger que é a última da fileira e se senta.

É bem estranho, mas apesar de ser tímida, quando tô acompanhada de amigos, não sinto a timidez, é como se eles me dessem o poder de falar com qualquer pessoa.

E foi isso que fiz. Levantei da cadeira e fui falar com a garota nova:

"Oi, meu nome é Verônica."

"Oi, eu sou Emmily, mas pode me chamar de Emmy." Ela respondeu animada.

"Estudava aonde?" Puxar assunto? Desconheço. Mas ela tava tão animada que nem precisava fazer as melhores perguntas pra dar um bom papo.

"Eu estudava no Santa Mônica, minha tia é diretora de lá, eu ia estudar lá esse ano, só que rolou uns problemas com ela e minha mãe e eu vim pra cá. " Ela respondeu, explicando.

"Hum... Saquei. Tem quantos anos? Perguntei tentando prolongar o assunto.

"15, vou fazer 16 em Junho. E tu?" Ela tem as respostas bem completas até demais.

"Tenho 13." Respondo.

"Treze??" Perguntou ela incrédula. "Mas tu é nova, pulou alguma série? "

"Comecei com 2 anos e meio e pulei o maternal." Respondi.

A aula começou e como de costume eu, Larissa, Rebea, Thalis, Roger, Eduardo e agora Emmy conversamos a aula quase toda. Meu descompromisso com a Oswaldo Cruz é gritante. Tanto que responder os professores e até gerar algumas discussõezinhas tão fazendo parte da minha agenda escolar. Não que eu seja extremamente rebelde, mas tô aqui de má vontade e também na fé de que vou mudar de escola, passando ou não na que eu quero.

"Ei vocês silêncio." Dizia a professora, já estressada na aula de Português.

Ela não vai muito com minha cara, já que eu a corrijo constantemente - será que eu sou aquela chata da sala que vive corrigindo os professores? Foda-se rs - quando ela escreve no quadro. Ninguém merece uma professora de Português escrevendo "dissionario".

Não demos ouvidos pra ela brigando com a gente. Hoje é Sexta-feira e a Emmy já estava incluída no nosso meio, conversando na aula como a gente - somos péssima influência.

"Saiam da sala, vocês tão conversando demais." A professora diz.

Beleza. Pego minha bolsa segurando a vontade de rir, pois ela expulsou sete alunos de uma vez, isso é um recorde, saio acompanhada dos meninos, e vamos até a entrada sentar no meio fio pra conversar mais ainda.

"Vai fazer o que final de Verônica?" Larissa me pergunta continuando o assunto que conversávamos na sala.

"Sábado nada eu acho e Domingo de noite vou pra igreja." Respondo enquanto tentava me equilibrar em um pé só no meio fio.

"Tu é católica? " Thalis pergunta.

"Não, sou evangélica. "
Desde e sempre acompanhava minha mãe todos os Domingos à noite nos cultos, quando eu era mais nova - uns 3 a 5 anos - dormia durante a pregação. Hoje em dia eu até presto atenção em algumas.

Já está quase na hora de ir embora e a Gio aparece com as suas amigas vindo na nossa direção.
"Ei ei Verônica, hoje à tarde tem treino de handebol, tu vem né? " Gio me pergunta toda animada. A gente jogava handebol juntas no fundamental, ela como goleira - muito boa por sinal - e eu como ala direita.

"Oh mais é claro que eu venho." Digo sorrindo e levantando do meio fio. "A Emmily também vem." Falei olhando pra ela - foi mais um pedido indireto do que um aviso.

Ela me olhava com cara de "What?"

"Bora, vai ser legal. E aquele meu crush que eu te falei vai tá aqui, esqueceu que ele estuda de tarde? Quero te mostrar ele." Digo me animando mais ainda ao lembrar disso.

"Tá falando do Paulo que fazia curso com a gente? Eu conheço uma menina que estuda com ele, ele até tava com a gente conversando semana passada no handebol." Gio fala se encostando em mim, mas eu começo a dar pulinhos de animação, quando escuto o que ela diz.

"É ELE MESMO. PODE ME AJUDAR GIOOO!" Cara, não acredito. Eu via o lá no curso e o achava lindo demais - até usava as vezes o fato de admirar ele pra fazer ciúmes no meu antigo namorado, Bruno - e agora ele tá estudando aqui, posso conhecer ele finalmente se a timidez permitir.

Quatro e meia. Hora de me arrumar pra esperar a Emmy chegar pra irmos pra escola. Tomo banho e me visto, enquanto penteio meu cabelo, vou pensando em mil possibilidades de encontrar e conhecer Paulo.

Paulo é lindo. Cabelo liso cor de mel com um penteado desgrenhado, branco, meio alto, fisionomia calma, rostinho de príncipe e era bem fechado no curso. Um mistério.

E se ele for hoje falar com a Gio e ela me apresentar ele, e rolar aquela troca de olhares? E se a gente se esbarrar quando eu estiver chegando? E se...? Muitos "E se's" na minha cabeça como sempre.

Emmily chega e vamos saindo da minha casa. Dou um tchauzinho pra minha mãe e não consigo conter o riso durante o caminho, eu fantasiava demais conhecê-lo, ele era minha curiosidade particular.

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⏰ Última atualização: Sep 30, 2015 ⏰

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