No final da reunião na igreja, os fiéis sempre conversavam sobre a missa e aproveitavam para colocar os assuntos em dia. Eduardo se aproximou de um de seus amigos, o Silvio, e perguntou-lhe:
— Você conhece aquela garota que estava sentada perto de mim hoje?
— Qual?
— A loirinha que estava ao lado do homem magro, com um grande topete...
—Não perdeu nada, hein? — Silvio brincou.
Eduardo ignorou o comentário e perguntou novamente se o amigo a conhecia. Por fim, Silvio resolveu saciar a curiosidade do amigo.
— Sim, eu a conheço. Ela se chama Helena e vem há pouco tempo aqui. Pensei que já a tivesse visto — Eduardo negou com a cabeça. — Eu descobri quem ela era porque quando começou a frequentar a igreja, muitos outros caras ficaram interessados nela. Logo descobriram o seu nome... E aí, você está de olho nela também?
— Não, não... É apenas curiosidade.
— Sei... Tá bom então. — Silvio disse, sorrindo.
Mas parecia que Eduardo tinha de conhecê-la já que, para a sorte dele, o pastor da igreja pediu que sua mãe passasse a dar aulas de educação religiosa à dona Manuela, mãe de Helena. Resultado: as duas senhoras tornaram-se amigas. Quando a mãe dela vinha à sua casa, Helena sempre a acompanhava e os dois ficavam trocando olhares. Além disso, o irmão dela, Rodrigo, passou a ser amigo de Eduardo.
Depois de certo tempo, os pais de Helena se mudaram para uma casa próxima à dele, umas três quadras de distância. Rodrigo passou a convidar Eduardo para ir à casa deles constantemente e o jovem não recusava. Sabia que assim veria Helena, deixando a visita ainda mais interessante. Numa dessas ocasiões, Rodrigo disse:
— Eduardo, vamos até minha casa assistir a um filme que aluguei na vídeo-locadora?
— Claro que sim. Pode ser hoje à tarde?
— Tudo bem. Estarei esperando.
Ao chegar à casa do amigo, começaram logo a assistir ao filme, mas Eduardo só queria saber que horas Helena chegaria do colégio. Como seria o momento de falar com ela? Sentia-se ansioso com a oportunidade de vê-la em sua própria casa mais uma vez.
E quando ele menos esperava, Helena chegou.
Ela viu que Eduardo estava na sua casa e sorriu para ele. Mesmo tímido, o garoto sorriu de volta.
— Oi, maninho — disse ela, dando um beijo e um abraço em Rodrigo.
— Convidei o Edu para assistir a um filme aqui em casa.
— Que surpresa encontrar você, Edu! Tem de vir nos visitar mais vezes.
— Agora que vocês moram mais perto, as visitas serão mais comuns, eu acho.
— O que estão vendo?
Ela aproximou-se de Eduardo e deu-lhe um beijo no rosto. Foi suficiente para deixá-lo vermelho de vergonha.
— É um filme de aventura — Rodrigo respondeu.
Ela sentou-se ao lado do rapaz, e terminaram de ver o filme em silêncio.
— Vocês já lancharam? — Helena falou, descontraindo o clima.
— Meu estômago está vazio. Faz um lanche para a gente, Helena? — Pediu Rodrigo.
— Claro que sim. Em alguns minutos estará pronto.
Rodrigo então disse:
— Edu, tenho de ir à casa do Sandro, meu vizinho, consertar a bicicleta dele. Ele me pediu que eu o ajudasse a hora que pudesse. Enquanto minha irmã faz o lanche quero ir lá rapidinho. Vamos?
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O Bisturi de Ouro
Mystery / ThrillerEduardo é um garoto pobre, com problemas de dores reumáticas, cuja família emigra da Suíça para tentar uma nova chance no Brasil. Na última metade do século vinte, as indústrias da cidade de Monte Belo, no Estado do Rio de Janeiro, precisam de mão d...