Eduardo é um garoto pobre, com problemas de dores reumáticas, cuja família emigra da Suíça para tentar uma nova chance no Brasil. Na última metade do século vinte, as indústrias da cidade de Monte Belo, no Estado do Rio de Janeiro, precisam de mão d...
O pai de Helena trabalhava numa fábrica na cidade de Monte Belo e as coisas não andavam bem por lá. Devido a uma crise do setor, o serviço estava escasso e a indústria começava a demitir pessoas. Infelizmente, foi questão de tempo até que ele fosse mandado embora. Para sua sorte e azar do casal apaixonado, surgiu uma vaga de emprego em uma fábrica de amortecedores automotivos em São Paulo, onde moravam alguns de seus parentes. Ele ganharia um salário maior, nessa grande indústria no ABC paulista, e assim não pôde recusar a vaga. Por consequência, os pais de Helena resolveram se mudar, deixando a filha em lágrimas.
Ela foi à casa de Eduardo comunicar o fato, muito triste, e encontrou-o no portão, sentado, com as mãos no queixo, como sempre fazia quando era menino.
— Edu, meu amor, eu não tenho boas notícias — disse, com as mãos atrás do corpo e lágrimas nos olhos. — Preciso comunicar algo muito triste...
— Hoje acordei com um mau pressentimento... — Disse Eduardo, sem fitá-la, com um olhar perdido. — Quando cheguei em casa do colégio algo me dizia que alguma coisa ruim estava para acontecer. Nem quando Chopinho correu para me receber, como ele faz todos os dias, me tirou um sorriso do rosto. Me sinto triste hoje e o pior é que não sei o porquê.
Ela apertou os lábios, decidiu não enrolar, e contou tudo de uma só vez:
— Meu pai conseguiu um emprego em São Paulo e teremos de nos mudar — despejou sobre o menino. — Mas continuaremos a nos ver, nem que seja de vez em quando, e daremos um jeito de nos falarmos.
Eduardo a fitou, quando a ficha caiu, finalmente, e as lágrimas doeram nos olhos dele. Ele se levantou e a abraçou. Ambos chorando, juntos. Era a dor de perder o primeiro amor para um lugar distante, de onde havia a impressão que aquele sentimento jamais voltaria.
— Não posso acreditar no que estou ouvindo.... Não sei ficar sem você...
— Eu nunca vou te esquecer, Edu — retrucou Helena, tentando conter sem sucesso o choro.
— Não quero que vá. Eu amo você...
E os dois se abraçaram e se beijaram, pensando em como seria o futuro daquela relação.
Mas o destino escreve certo por linhas tortas, e o futuro a Deus pertence — lembrou-se Eduardo, como a sua mãe sempre dizia.
No dia da despedida, Eduardo acompanhou Helena e sua família até a Rodoviária. Os móveis já haviam sido transportados horas antes de caminhão. Lá eles se despediram com um longo beijo. Edu ficou olhando o ônibus se distanciar, até sumir de vista, o coração em pedaços, esfarelando-se no chão daquele lugar.
Despedida tem cara de morte. Algo difícil de traduzir, a não ser através da tristeza. Era como Eduardo se sentia, o coração a comprimir dentro do peito. Como esquecê-la? Era uma força estranha dentro dele, uma busca desesperada por algo que lhe enchia de vida... Ah, Helena. Quem os entenderia? Não desejava que nada se misturasse as formas dos lábios de Helena em sua boca, a sensação de sua voz que trovoava dentro dele, — a eterna memória da única lembrança que sobrara: os olhos de sua amada o procurando na imensidão, a medida em que o ônibus se afastava da plataforma, como se um desespero mudo tomasse conta de sua face, enquanto suas mãos alvas e delicadas tocavam o vidro da janela. O coração pede por algo que não voltará, bem sabe.
Viverá à espera do reencontro, como se tivesse morrido naquela rodoviária, sem dar-se conta de sua morte. A paixão viva, vermelha carmim, como algo que pulsa feito sangue num espaço abrangente de seu ser.
— Eu não posso esquecê-la! — Dizia ele baixinho, repetidas vezes. — Estou condenado a morrer amando-a — murmurava, limpando as lágrimas grossas com a ponta do casaco.
Do outro lado da cidade, o invejoso e dissimulado Glauco, sabendo da partida da jovem, comemorava. Saber que a pessoa que ele mais invejava no mundo estava exatamente naquele momento em profunda tristeza era para ele como se fosse um presente.
Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.