Dona Catarina continuava costurando e economizando, com a esperança de que um dia alguma coisa boa pudesse acontecer e abrir as portas da faculdade para seu filho; no entanto, assim como seu Roberto, Eduardo partilhava da mesma descrença com relação ao curso de Medicina. Com o tempo, o garoto ficou cada vez mais descrente da possibilidade, apesar da mãe insistir em que ele deveria correr atrás dos seus sonhos. Então, ele achou que o melhor caminho a seguir seria o possível, ou seja, trabalhar em uma fábrica.
A indústria era a mais concorrida da cidade e apenas abriu uma vaga de emprego. Na porta, havia muitos homens esperando para fazer a entrevista, e o rapaz olhava todos à sua volta percebendo que eles eram adultos, com idade entre trinta e cinquenta anos. Aparentavam ser muito experientes. Seria muito difícil disputar o cargo com eles.
Todos fizeram a ficha de inscrição, depois haveria uma prova com questões escritas de conhecimento e teste prático. O total de inscritos foi de dez pessoas para um só posto. O rapaz, obviamente, ficou ansioso, apesar de ter alguma experiência no estágio que fizera na fábrica de engrenagens.
Em quinze dias, foi divulgado o resultado, e para alegria da família, Eduardo havia conseguido o trabalho. Mas como poderia ter conquistado a vaga se havia pessoas tão experientes pleiteando o cargo? Essa questão foi logo esclarecida quando o chefe do setor de mecânica chamou o rapaz para a entrevista.
Eduardo chegou na portaria e ficou esperando ser chamado pelo departamento de pessoal. Havia uma guarita onde um porteiro vestido de camisa branca e gravata o recebeu. Ele deixou a carteira de trabalho na Seção de Recursos Humanos e foi à seção onde iria trabalhar para conhecer o seu chefe. No caminho reparou a grande altura que tinha o corredor de acesso à produção da firma. Era para que os caminhões de descarga chegassem o mais próximo possível do almoxarifado. O jovem caminhou curioso e viu a seção de têmpera das peças onde faziam o último tratamento dos metais para que o aço ficasse mais duro e resistente. Depois viu as diversas máquinas pelas seções no caminho, divididas entre si por gradeamentos.
— Oi novato! Se precisar de alguma coisa fala com a gente que estamos sempre prontos a ajudar. — Disse um dos colaboradores da seção de controle de qualidade que usava um jaleco azul.
— Obrigado. Vou precisar de ajuda sim. — Eduardo respondeu com um sorriso.
O garoto continuou a andar pela fábrica e chegou à sua seção. Logo encontrou o chefe. Ele se chamava Dário. Aparentava uns cinquenta anos de idade, estatura baixa, beirando 1,60 metro, no máximo, pele enrugada e cabelos lisos esbranquiçados.
— Você sabia que você foi o único inscrito a responder às questões de trigonometria e cálculos de ângulos para a confecção das peças? Meus parabéns! Por isso eu o escolhi. Gostei do uso daquela fórmula D x d/2C (Diâmetro maior multiplicado pelo diâmetro menor dividido por duas vezes o comprimento) para calcular os ângulos das peças cônicas. Nós, da oficina mecânica, particularmente, usamos as tabelas prontas para obter esses resultados, mas conhecimento nunca é demais. Entretanto, temos um problema, você fará dezoito anos e logo terá de se apresentar para o serviço militar. Se você tiver que servir o exército, não será possível trabalhar aqui, pois o horário é integral e precisamos muito de um profissional com tempo disponível, até mesmo para fazer horas extras.
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O Bisturi de Ouro
Misteri / ThrillerEduardo é um garoto pobre, com problemas de dores reumáticas, cuja família emigra da Suíça para tentar uma nova chance no Brasil. Na última metade do século vinte, as indústrias da cidade de Monte Belo, no Estado do Rio de Janeiro, precisam de mão d...