Capítulo 8

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A vida é uma merda. Merda merdosa.
Levanto-me da cama pela primeira vez hoje. O Callum passou a noite fora e até me sinto aliviada por isso.
Desço até a cozinha e faço um chá bem quente, onde queimo a garganta segundos depois. Estou farta de merdas.
Alguém toca à campainha. Olho para o meu relógio da cozinha. São 15:32. Dirijo-me à porta, como quem se dirige para a morte e abro-a, sem olhar antes para ver quem é. Só espero que seja engano.
Quando a abro vejo uma cara familiar que demoro uns segundos a perceber quem é.
-Emma?-pergunta o Zayn.
"Estas com mau aspeto, precisas de droga?" "Posso levar o teu filho e nunca mais o devolver?", imagino cenários. Apago-os da cabeça, abanando-a no ar e respiro fundo.
-Sim. O que é que queres?
Sou seca, sou antipática, sou anti-social, sou desprezadora, sou o que quiserem, mas se tivessem a minha vida queria ver como eram.
-Não venho cá há algum tempo e queria saber se estás bem...-ele olha mais pormenorizadamente para a minha cara que deve estar cheia de lágrimas e ranho dos meus choros intermináveis e para o meu cabelo miserável.
-E como raio é que tens a minha morada?!
-Longa história... Acho que precisas de coisas mais importantes neste momento do que saber isso.
-Diz.
-Eu só queria saber como estavas! Ouvi dizer que tu e o Callum estavam chateados... E só quis vir ajudar. Sabes, Emma, se precisares eu posso deixar-te ficar na minha casa até isto se resolver...
Nunca se vai resolver. Metam isso na cabeça.
-Ouve, Zayn. O que é que queres mesmo? Comer-me enquanto estou vulnerável? O negócio das drogas correu mal e queres raptar o meu filho para o venderes e teres dinheiro para recomeçar? Ou queres que eu me drogue e gaste todo o meu dinheiro nisso?
-Emma! Não é nada disso! Só quero ser teu amigo. Só isso.
-Amigo o tanas! Só te queres aproveitar de todos nós!
-Isso é mentira! Só quero o teu bem.
-Só queres tudo e o que é! Eu estou bem. Obrigada. Adeus!-tento fechar-lhe a porta na cara, mas ele prende-a com o pé.
-Vem. Para de te armar. Não tens ninguém. Ou vens ou nunca mais te volto a ver na vida. Eu estou aqui para te ajudar, mereço ao menos que me deixes.
Suspiro e sigo-o até ao carro.
*
Só acordo na manhã seguinte com um dos seus braços em cima do meu corpo. Retiro-o e levanto-me.
Tenho 16 chamadas perdidas do Callum.
21 da minha mãe.
13 do Luke.
E chega.
O que é que se passa?
Decido ligar ao Luke, e a única voz que me apetece ouvir neste momento.
-Emm?
O meu coração acelera.
-Luke.
-Preciso de falar contigo. Aconteceu uma coisa.
Queres voltar? Queres o que? Não quero nada. Só quero fugir daqui.
-O quê?
-O Charlie...-ouço choro do outro lado.
-O Charlie! Deixei-o em casa sozinho-o meu coração acelera.
-Tens de vir já para o hospital.
-Mas o que é que se passa??-pergunto, altíssimo.
-Ele... Ele está mal, Emm. Ele está muito mal.
Desligo antes de ter tempo de nada e corro porta fora da casa do Zayn. Reparo que só está aqui o carro do Zayn. Volto a casa, procuro a chave. Saio de novo e entro no carro. Arranco a fundo.
O Charlie. O Charlie. O Charlie.

5 vezes - 2ª ParteOnde histórias criam vida. Descubra agora