2. Nova vida

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Estava ainda embalada no sono quando vozes começaram a perturbar meus ouvidos. Tentei me mover e dessa vez meus dedos obedeceram meus comandos. Eu estava recobrando os movimentos aos poucos. Primeiro as extremidades, já que apenas os dedos obedeciam, o resto de meu corpo continuava sem se mexer, isso incluía os músculos do rosto. Assim que percebeu meus movimentos, os braços que me sustentavam ficaram mais apertados como se mandando eu não me mexer.

- O que você está fazendo? - perguntou uma voz grave, firme e adulta. - Não se mexa ainda, pode se machucar.

Pelo visto a pergunta era para mim, eu não responderia porque não conseguia mexer os lábios, então apenas continuei parada.

- O que aconteceu? - uma voz suave e feminina quis saber.

Bem que eu queria saber a resposta para essas perguntas. Essas e muitas outras.

- Quem é ela? - dava para ouvir a curiosidade na voz infantil.

- Vocês não tem nada melhor para fazer não? - a pessoa que me carregava reclamou com voz grossa e firme - saiam daqui, vão. E Lucas chame o George pra dar uma olhada nela, o sangue já deve estar quase puro.

Ouvi os passos se afastando de mim, e algumas palavras incompreensíveis foram direcionadas para voz que eu supunha ser a do meu captor, ou seria meu salvador? E o que ele queria dizer com o sangue está ficando puro? Onde eu estava? Quem eram aquelas pessoas?

Tentei ver até onde meus movimentos já tinham voltado e me surpreendi ao ver que já podia falar e abrir os olhos.

- Você vai entender daqui a pouco - ele respondeu sem me olhar.

Aquilo me surpreendeu, como ele sabia o que eu tinha pensado?

- Onde estão meus pais? - eu perguntei querendo saber o que tinha acontecido com eles.

Ele não respondeu. Eu olhei para ele e repeti a pergunta.

- Ei, estou falando com você! Onde estão meus pais?

- Sinto muito por eles, você foi a única que estava viva quando cheguei ao local do acidente.

- Não, não é possível - eu me contorci em seu colo tentando me livrar de seus braços - eles estão vivos preciso ajudá-los.

Eu me lembrava do acidente, mas não parecia real. Meus pais eram tudo que eu tinha na vida. Só de pensar que nunca mais os veria eu senti algo se quebrar dentro de mim.

Senti seus braços me apertarem contra seu peito, eu queria chorar, mas não consegui.

- Calma vai ficar tudo bem, nós vamos cuidar de você.

Ele falou, mas não me importei de ouvir, minha mente estava em meus pais. Eu não pude fazer nada por eles. Nem sequer me despedir eu tive a chance.

- Então, onde eu estou? E quem são vocês - Eu perguntei um pouco assustada quando ele entrou comigo em uma casa enorme, parecida com uma mansão.

- Você está num lugar seguro e nós vamos cuidar de você. - respondeu de forma vaga e repetida me colocando sentada em uma cama que lembrava uma maca de hospital.

- Tudo bem. Não importa. - eu respondi e em seguida fitei a parede. Apenas fiquei ali olhando e deixando minha mente em branco.

- Já está tarde. Você ainda tem muito sangue em seu corpo, naquela porta ali fica o banheiro - ele apontou a porta a direita - tome um banho e depois durma um pouco, amanhã eu venho ver como você está. Não se preocupe ninguém vai lhe fazer mal, eu prometo.

Depois de dizer isso ele saiu me deixando sozinha no quarto branco. Aquilo poderia ser assustador se eu não tivesse tão entorpecida pelos acontecimentos recentes. Seria quase um sequestro.

Eu olhei para o meu corpo e pela primeira vez vi meu estado. Eu estava com minhas roupas manchadas de sangue, o cheiro de ferro começou a incomodar meu nariz e eu senti a necessidade urgente de me livrar de todo aquele sangue.

Fui para o banheiro, fechei as portas e tirei minhas roupas. O resto foi automático, eu me esfregava freneticamente, tentando me livrar de todo aquele sangue que me sufocava. Minha pele estava ainda mais manchada que minhas roupas. O sangue havia secado em alguns locais, o que tornava mais difícil a remoção do mesmo.

Encontrei no banheiro material de higiene, entre eles sabonetes ainda na embalagem, usei um deles para me limpar. Depois de me esfregar com dedos e unhas e minha pele arder de tão machucada que tinha ficado eu finalmente estava limpa.

Olhei para minhas roupas sujas no chão e notei que não tinha toalha ali e que provavelmente não teria roupas limpas quando saísse do banho. Eu me recusava a vestir as mesmas roupas manchadas, então coloquei minha cabeça para fora do banheiro olhando se não tinha alguém. O quarto estava vazio, mas eu não precisaria ficar nua e nem molhada, pois em cima da cama havia uma muda de roupas e em uma cadeira ao lado da porta do banheiro havia uma toalha dobrada.

Enxuguei-me e me vesti ainda automaticamente. Fechei a porta com a chave que tinha no lado de dentro. Ainda que parecessem pessoas boas, eu não confiava neles.

Deitei na cama e o sono me tomou com uma força descomunal e assim que encostei minha cabeça no travesseiro eu adormeci em um sono sem sonhos.

***

Oi só pra avisar que a história está só em degustação. Ou seja apenas alguns capítulos estão disponíveis aqui. Mas caso tenha se interessado pelo livro você o encontra completo no site Amazon.

Filhos de Abel (DEGUSTAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora