Entre Dois Mundos

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Hermione abriu os olhos lentamente e se deparou com uma suave luz dourada de sol invernal entrando por uma fresta na janela. Piscou algumas vezes ante a repentina claridade e se virou na cama. Não havia ninguém ao seu lado. Ela se sentou de súbito, assustando Bichento, que cochilava enroscado a seus pés.

Ao seu redor, o dossel de veludo escarlate abria a visão para o dormitório iluminado pela luz da manhã. Com a sensação de que seu coração tinha diminuído para o tamanho de uma noz, Hermione afagou atrás das orelhas de seu gato de modo a transmitir no gesto um pedido de desculpas por tê-lo assustado. Bichento ronronou e, com seus profundos olhos amarelos, fitou por um instante os arregalados da dona como que percebendo algo estranho antes de se aninhar a ela.

Tremores percorriam todo o corpo de Hermione, que, abraçada a Bichento, respirava fundo e tentava regularizar as batidas de seu coração. As outras meninas, dormindo a sono solto, nem de longe notavam a reação da colega.

Hermione dirigiu o olhar à janela e vislumbrou a neve cair suavemente pelas torres até os jardins do castelo. Então soltou um suspiro angustiado e deixou que as lágrimas que vinha reprimindo caíssem por seu rosto.

Hogwarts. Ela nunca imaginou que houvesse um dia em que ela não fosse querer estar ali. Não. Ela ainda amava a escola, a qual seria eternamente seu segundo lar. Mas acordar de volta àquele lugar só podia significar uma coisa: o retorno ao passado. Uma época sem Rose e Hugo, seus filhos, que agora eram parte inerente de sua vida; uma época em que Ron, apesar de muito próximo, era apenas um amigo que estava muito longe de declarar suas verdadeiras intenções. Intenções que Hermione nem sabia se, naquele tempo, ele já tinha, pois quando adolescente o garoto sempre fora impermeável como uma colher de chá para esclarecer seus sentimentos.

Tomando fôlego e lembrando a si mesma o porquê de pertencer à Grifinória, Hermione deixou que Bichento saltasse graciosamente de seu colo e seguiu para o lavabo do dormitório feminino. Não houve dúvidas, o espelho confirmou que se postava diante dele uma menina no auge de seus quinze anos, com cabelos bastante volumosos como de costume, já sem o efeito da Poção Capilar Alisante, e indícios de que chorara muito na noite anterior pelas marcas de inchaço embaixo dos olhos.

Restava apenas uma coisa a fazer agora: confrontar Rony. Só de pensar nisso Hermione desviou o olhar do espelho, por reflexo. Ela lavou o rosto e o pescoço, pois estava suando frio. Era preciso se preparar. Decidiu que como ainda era cedo, ela daria um passeio pelos jardins da escola antes de procurar o amigo e encará-lo frente a frente, então se agasalhou bem.

A sala comunal da Grifinória estava incrivelmente vazia e silenciosa. Isso se devia ao fato, lembrou-se Hermione, de que aquele era o dia seguinte ao Natal, feriado na Grã-Bretanha, o que era uma boa desculpa para todos acordarem tarde.

Ela se sentiu imediatamente aliviada por não encontrar ninguém na sala. O único som que veio a ouvir era o crepitar da lareira. Mas ao passar pelo buraco do retrato, levou um grande susto ao trombar com alguém que usava o mesmo para entrar na sala. A Mulher Gorda soltou um gritinho e Rony, parecendo tão surpreso quanto Hermione, ajudou a amiga a não se desequilibrar.

- O que... - começou Rony

- Eu que pergunto! - cortou-o Hermione - O que você estava fazendo lá fora a essa hora da manhã?

- Apenas dando uma volta... Mas está muito frio, então vim buscar meu cachecol. - disse ele simplesmente, dando de ombros e colocando as mãos nos bolsos do casaco.

- Hum. ­- foi só o que Hermione conseguiu dizer.

- Quer subir comigo?

- O que? - indagou a garota, aturdida.

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⏰ Última atualização: Oct 01, 2018 ⏰

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