Perseguição Implacável

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O shopping estava cheio naquele sábado chuvoso, muita gente subindo e descendo pelas escadas rolantes, passeando pelos corredores , olhando as vitrines e lotando a praça de alimentação. Marcelo foi o primeiro a escolher o sorvete de manga na casquinha, enquanto Elisa, sua meia-irmã, não conseguia decidir entre seus quatro sabores preferidos. Quando , finalmente , escolheu o de maracujá e começou a saboreá-lo , Marcelo , que já estava acabando o seu, discretamente esbarrou no braço dela, fazendo o sorvete cair no chão .

- Mãeeee.... o Marcelo fez isso de propósito! - reclamou, choramingando.

- Não fiz não, foi sem querer! - defendeu-se , a cara de sonso revelando a mentira.

-A mim você não engana , rapaz!  É claro que você fez de propósito, só não sei por que você cisma de perseguir sua irmã desse jeito! Esquece que já tem 14 anos e ela só 8?

- Não fiz de propósito! Você e o Vitor  acham que eu sou o culpado de tudo e só acreditam nessa pirralha que adora me ferrar!

- A voz de Marcelo estava muitos decibéis acima do aceitável.

- Fale baixo, as pessoas já olhando pra você - advertiu Vitor, aproximando-se de Marcelo.

-Eu falo como eu quiser, e você não pode se meter porque não e meu pai!

- Marcelo, o Vitor é meu marido e pai da sua irmã , você deve respeito a ele, sim! Eu vou comprar outro sorvete para a Elisa e descontar da sua mesada!

- Hum , até parece... Você ameaça e depois esquece... - retrucou Marcelo , irônico, indo para o outro lado da sorveteria para atender no celular a ligação de um amigo do prédio:

- E aí , cara, tu não tá em casa , não?

- Não , tô no shopping, mas vou chegar daqui a pouco , qual é a boa?

- Tá todo mundo a fim de bater uma bola, mas tá falando gente no nosso time. Pô , cara , tu devia estar aqui , acabamos de soltar bombinhas na garagem , o segurança veio correndo, e a gente se mandou a tempo!

      No grande condomínio com três blocos de apartamentos onde morava a mãe, Vitor e Elisa, Marcelo e mais cinco amigos "tocavam o terror" , implicando com as crianças na piscina e nos brinquedos do parque, derrubando as lixeiras e deixando a sujeira espalhada no chão para, escondidos , se divertiam vendo a raiva dos faxineiros falando palavrões enquanto limpavam a área uma vez mais. Como corriam rapidamente para os esconderijos previamente combinados, nunca eram pegos, embora todos os porteiros e os seguranças soubessem quem eram os arruaceiros. E os vizinhos também, principalmente quando os garotos corriam para cima e para baixo pelas escadas de grudarem chicletes ou pedaços de fita-crepe nas campainhas dos apartamentos , fazendo-as tocar sem parar.

No prédio onde o pai do Marcelo morava com a atual mulher e Tiago, seu meio-irmão da mesma idade de Elisa , havia poucos apartamentos e uma pequena área de lazer , com piscina , mas sem campo de futebol. E , mesmo que houvesse um , não adiantaria , porque a maioria das crianças não passava dos 6 anos . Da idade de Marcelo , só a gêmeas do andar de baixo , que ele depreciava por serem "arrumadinhas demais", preocupadas com roupas , cabelos e maquiagem. Por isso, sua maior diversão nos fins de semana em que passava com o pai era implicar com Tiago, que considerava Marcelo seu ídolo e com quem dividia o quarto:

- Sai do computador, moleque safado, agora é minha vez de jogar!

-Peraí , Marcelo, tô terminando essa fase. Quer jogas a outra comigo?

- Claro que não, seu idiota, isso é jogo de neném!

-Então deixar eu jogar o seu?

-Tá maluco? Tu é muito burro pra jogar o que eu jogo!

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