OS ATAQUES CONTINUAM....

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Duas semanas depois, Luciana, apesar de ter resistido á tentação de enviar outras mensagens desaforadas a seu agressor, continuou sendo torpedeada via celular e computador: "Bruna te razão, o carinha é um imbecil, só me chama de gorda! Por que eu continuo dando a ele tanto poder para me machucar? Além de gorda, sou uma idiota por estar sofrendo desse jeito! Esse desgraçado contaminou minha rede! O que antes para mim era só prazer agora é sofrimento!".

Abatida com os ataques e atormentada por um enorme raiva de si mesma, Luciana estava cada vez mai isolada. Não conseguia nem mais falar sobre o problema com Bruna e Paulo, que também não sabiam o que mais poderia fazer a não ser falar com seus pais e com a orientadora da escola. "Se ignorar as mensagens não está produzindo o efeito desejado,  se não descobriu quem ataca e não consegue deixar de se incomodar com isso, que alternativa resta a não ser pedir ajuda aos adultos?", argumentavam os amigos.

Sentimentos contraditórios se chocavam na cabeça de Luciana: "Isso também não vai adiantar! Na escola, vão dizer pra eu não botar pilha nesse idiota, meus pais já estão fazendo um drama  enorme com as dores de cabeça e de estômago que eu ando sentindo e, com certeza, vão pensar que me tirar do computador vai resolver todos os problemas! E o pior é que eles vão cismar de conversar com orientadora, ela vai falar com a turma, todo mundo vai ficar sabendo que o carinha está me zoando e que eu estou sofrendo com isso, muitos vão dizer que são zoados e não estão nem aí pra isso, vão ficar rindo de mim por transformar um probleminha á toa no maior problemão, eu vou ficar morrendo de vergonha, me sentindo uma idiota completa e aí vai ser o fim! Prefiro morrer!...".

Enquanto isso, Marcelo tratava de ampliar os ataques, que passaram a lhe dar enorme prazer. Adorava ver Luciana toda encolhida, a cabeça baixa, o rosto abatido, sem sequer ir para o pátio na hora do intervalo. Tornou-se "sócio" de Leonardo, que acabou lhe revelando o que pretendia fazer com a lista de contatos da turma:

-Cara, o lance é o seguinte: eu consegui convencer o Gil a provocar uma briga com o Henry no pátio e imobilizá-lo  com uma "gravata" Enquanto isso, você filma a cena no meu celular. Depois a gente coloca na rede e encaminha para todo mundo, só pra gozar com a cara do moleque1

-Irado! O veadinho vai ter um ataque! É bom pra ele deixar de se nerd gay, ridículo, combinando a cor da bermuda com a camisa, o cabelinho todo penteadinho, sentadinho na primeira fila, puxando o saco dos professores. Ele merece!

-Viu o que ele fez ontem quando a turma fez "Uh,uh"?

-Não! Acho que foi na hora em que eu saí da sala para ir ao banheiro...

-O gayzinho virou para tráz e falou com a galera: "Ih, gente qual o problema? Só porque eu sei as respostas certas e os professores gostam de mim?"- Leonardo afinou a voz e exagerou no trejeitos para imitar o colega 

-Não acredito! Ele fez isso? Esse moleque merece morrer! Outro dia, entrou todo cheio de marra no carro da mãe, importado que nem ela!

-Ouvi falar que a mãe dele é inglesa. Mas não precisava ficar metido a besta falando inglês com a professora! Já não basta tirar dez em todas as provas?

-É, a mãe dele é inglesa e o pai é brasileiro. Parece que, em casa, ele fala inglês com a mãe e português com o pai-acrescentou Marcelo.

-Como que você descobriu isso?

-Pô, cara, eu gosto de ouvir a conversa dos outros, assim fico sabendo das coisas!

Porém, mesmo considerando-se "sócio" de Leonardo em alguns ataques, Marcelo nada lhe revelou sobre Luciana. Queria mantê-la como vítima particular: ser seu torturador secreto dava-lhe especial prazer. No início ficou frustrado quando ela parou de responder com mensagens desaforadas. Depois,chegou á conclusão de que isso desnecessário: apenas observar as mudanças de comportamento já mostrava a dimensão do estrago de seus ataques incessantes

A Face OcultaOnde histórias criam vida. Descubra agora