Capítulo 1 - Samantha

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  - Você sempre volta. - disse a garçonete
Levantei o olhar até alcançar o sorriso de satisfação da moça parada a minha frente.

- Eu ando com problemas de recordação ou realmente não tive o prazer de te conhecer? - eu disse, levantando uma das sobrancelhas sem mostrar muito interesse.

A garçonete riu, como se a minha ironia fosse exatamente a que ela esperava encontrar.

- Kate. Eu sei, o prazer é todo seu - a garçonete esticou a mão para mim.

- Samantha - apresentei-me, agora prestando mais atenção.

Houve uma troca de olhares por alguns segundos. Agora prestando mais atenção, não pude deixar de reparar em seu cabelo ruivo e ondulado de uma forma de dar inveja em qualquer garota caindo sobre seus ombros. Seus olhos eram cor de mel. Ela era bem bonita.

- Então - comecei antes que ela concluísse que o silêncio entre nós era uma falta de educação minha - acho que minha memória não anda fazendo seu trabalho com dignidade. Não me recordo de você.

Ela riu e balançou a mão como quem achasse o que eu disse coisa banal.

- Não se preocupe. Ninguém fica prestando atenção nos bastidores de um bar.

Peguei minha cerveja, dei mais um gole.

- Faz muito tempo que trabalha aqui? - indaguei

- Eu estava aqui quando essa bodega foi aberta. - ela bufou

- Dormiu com o dono? - desafiei, e era mais uma afirmação do que uma pergunta.

- Várias vezes. - ela soltou uma risada alta jogando a cabeça para trás

- Eu sabia - bati com o punho fechado levemente na mesa - Isso sempre funciona.

Ok, eu admito. Gostei dessa garota. Ela não se intimidou com uma das minhas perguntas inadequadas. E tem senso de humor.

- Quantos anos você tem? - ela perguntou, de repente.

- Quantos anos você arriscaria? - rebati.

- Vinte e um! - ela disse me olhando com os olhos semicerrados, analisando.

- Vinte e três - contei-a

Ela fez uma carinha de desaprovação.

- Tenho vinte e cinco. - ela me analisou como quem achasse que a diferença de nossa idade algo importante, ou sei lá - Você tem um olhar doce, que te faz parecer ser muito novinha. Mas tem alguma coisa nesse seu rosto que me faz pensar que já passou por poucas e boas nessa vida.

Opa! Por essa eu não esperava.

- Bola de cristal ambulante. - a acusei, sorrindo.

Nossa conversa foi interrompida quando uma garçonete loira, piriguete e escandalosa fez cena para que Kate fosse ajuda-la. Juro que ouvi um "como pode ser a preferida do patrão?" sair da boca dela.

Kate revirou os olhos antes de dar um sorriso de despedida para mim e se afastar. Seu cabelo ruivo ondulado se mexendo no ar.

Voltei a observar minhas mãos apoiadas na mesa em volta da garrafa de cerveja, enquanto pensava na noite passada.

A imagem da minha irmã entrando na minha frente para me livrar do tiro veio de novo e de novo para atormentar e me para me deixar mais culpada do que eu já estava. Minha irmã. A única pessoa que amo de verdade na face dessa terra. E agora ela estava deitada na cama de um hospital por conta daquele canalha, resto de paborto, verme.

Nunca me meti em confusão tamanha, como me meti naquela noite.

The Heartbreaker: As Estações de SamanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora