Capítulo 2 - Samantha

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Na noite anterior...

Estava ali parada exatamente 40 minutos. No meio do nada. Meu celular tocou:

- Onde você está? - quase gritei ao atender

- Opa, opa... Calminha aí, gatinha. - disse Liam

- Vai chamar a sua avó de gatinha, marginal!

Ele riu, um riso sínico que me faz ter vontade de socá-lo.

- Estou virando a esquina. - ele disse sem preocupação

Automaticamente olhei para a esquina da rua deserta. Ouvi um barulho de motor, e o carro deu as caras. Liam estacionou por ali mesmo.

Cruzei os braços enquanto ele saia do carro e andava na minha direção. Alto, sensual e perversamente perigoso como Liam sempre costumava ser.

Ele estendeu a mão para mim, como quem esperasse que eu desse a sacola que carregava na mão esquerda.

-  Não tão rápido, espertinho - o bloqueiei,com o peito meio estufado, colocando a mão com a fita cassete dentro da sacola nas minhas costas, na defensiva.

- Para de graça, você me deve...

- Não te devo nada! - cortei-o - todos os favores que você me fez, foi porque você quis.

- A culpa não é minha se você rebola bem

Buf. Típico argumento de canalha. Continuei, ignorando-o.

- Escute - levantei o dedo indicador contra o peito dele, só pra ficar mais dramático, ameaçador. - eu não estou aqui para brincadeiras, minhas barbies foram queimadas a um bom tempo e a minha idade não me permite mais esse tipo de atitude. Cadê. O. Resto. Do. Dinheiro?

- Dentro do carro. - bufou ele - Entrega a fita, e tenha a porcaria do seu dinheiro.

- Como vou saber que você não vai colocar meu nome no meio da confusão toda? - indaguei

Ele riu sinicamente. Argh, como eu detestava aquilo.

- Você parecia confiar bastante em mim algumas noites atrás.

Esse imbecil está tirando uma com a minha cara. Quer jogar? Vamos jogar então.

- Você só sabe apelar para o sexo porque é fraco demais em todas as outras aéreas possíveis, não é? - levantei a sobrancelha e o encarei olhando nos olhos, intimidando-o.

Ele recuou, mas não quis deixar que eu percebesse, soltou mais umas de suas risadinhas como quem não se sentira ofendido. Ignorei a risada, mais uma vez e por fim continuei.

- Sabe que estou prestes a acabar com a tua vida se entregar essa fita que prova o policial corrupto e nojento que você é, sendo subornado por traficantes de merda igual você e sua profissão que prioriza tanto e que é, alias, tudo que você tem nessa sua vida medíocre.

- Olha aqui, garota... - Liam me puxou pelo braço direito, apertando-o.

- Me solta ou explodo o que sobrou desse teu cérebro - com o braço livre, levantei um pouco a renda de minha blusa que cobria a arma em minha cintura. 

Ele pestanejou e bufou. Soltou-me e virou-se, andando em direção ao seu carro

- Me segue. - ordenou ele.

Fui atrás dele, batendo o pé. Odiava a forma como ele achava que podia mandar em mim. Atrasava um pouco os passos certificando-me que estava mantendo distância o suficiente para conseguir fugir caso precisasse. Ele abriu a porta com força, entrou, sentou e fechou-a. Parou e ficou me olhando como se fosse óbvio que eu devia fazer o mesmo. Analisei por alguns segundos a situação. É, realmente ficar trocando dinheiro e fitas incriminadoras no meio do nada não era uma boa opção. Alguém poderia estar de olho. Alguém está sempre de olho quando estamos fazendo alguma coisa errada, sempre.

Apressei-me e sentei no banco do carona, o olhando fixamente e tentando agir agora como dois adultos.

- No três - ele anunciou rompendo minha expectativa de maturidade

Preparei a fita e ela a maleta.

- Um... - comecei.

- Dois... - ele deu continuidade

- Três! - falamos juntos e trocamos nossas respectivas promessas

Abri a maleta. Nossa! Nunca vira tanto dinheiro na minha vida. 100 mil reais bem na minha frente.

Quando voltei a olhar para Liam ele estava abrindo a fita. Ops... Eu não esperava por aquilo. Só consegui puxar a maleta enquanto saia do carro em disparada.

O peso da mala me atrasava, mas eu lutava contra isso e tentava manter a velocidade

- Vagabunda! - o ouvi gritar atrás de mim.

Um tremor percorreu minha espinha e tentou paralisar minhas pernas. Aquilo era... Era medo? Quanto tempo não o sentia!

- SAMANTHA! - ouvi a voz familiar antes que minha irmã mais nova surgisse da esquina a qual eu corria em direção

Suze?  Ela vinha correndo ao meu encontro? Mas o que diabos ela estava fazendo aqui?

- SAM, ABAIXA!

- FOGE SUZANNE, FOGE!- eu balançava os braços desesperadamente para que ela voltasse

E naquele momento, tudo foi muito rápido.
Minha irmã corria na minha direção. Liam atrás de mim.
Coloquei a mão em minha cintura, estava pronta para fazer o que fosse preciso naquele momento, ainda mais agora com minha irmã ali. O que não deveria ter acontecido.

Mas a arma... CADÊ A...? CADÊ A MERDA DA ARMA?

- SAMANTHA! - Suze pulou em cima de mim assim que nos esbarramos, empurrando-me e fazendo com que eu caísse.

A última coisa que ouvi antes da pior cena da minha vida foi um barulho seco, seguido de minha irmã caindo ao meu lado, e os passos apressados de Liam antes de entrar no carro e sair cantando pneu por aquele bairro desconhecido e estranhamente deserto.

- Sam... - a voz de Suze era fraca.

Engoli em seco quando vi a poça de sangue que formara no espaço entre nós duas.

Só consegui gritar por socorro antes de cair em um pranto desesperado e ver a pessoa que mais amava no mundo fechar os olhos pelo que parecia ser a última vez.

The Heartbreaker: As Estações de SamanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora