Eu confesso que subestimei minha companheira de quarto. E confesso que eu estava totalmente errada.
Bella podia ser surda, mas não era burra. Ela já estava lá há muito tempo e conhecia cada canto como a palma de sua mão. E fez questão de me ajudar a pegar o diário de Caroline. Achei muito fofo da parte dela querer ajudar uma menina teimosa que ela mal conhecia direito, e aquele foi exatamente o começo da nossa amizade, uma amizade que eu quero levar pro resto da vida.Estávamos sentadas na minha cama jogando baralho quando Bella me perguntou o que havia de errado comigo. Depois de umas 2 ou 3 semanas eu já estava quase boa em libras, pelo menos entendia essas perguntas simples. Eu, então, contei a ela sobre tudo o que havia acontecido, e ela parecia compreender tudo muito bem, não faço ideia de como consegui dizer tudo o que estava passando, mas ela parecia estar super atenta. Depois de toda a história ser contada, Bella disse que tinha uma ideia, e eu ri. Eu realmente não acreditava que ela, justamente ELA, teria uma ideia boa o suficiente pra me ajudar. E Bella apenas sorriu, um sorriso sarcástico, como se já tivessem feito aquilo milhões de vezes, e no final, todos acabaram errados, inclusive eu.
Depois de desenhar todo o seu plano para que eu entendesse perfeitamente, e depois de eu pensar umas 500 vezes para saber se eu realmente deveria confiar naquela menina, finalmente concordei. Eu não conseguia acreditar em como aquela menina podia ter pensado naquilo tudo... Parecia até que já havia planejado aquilo antes. Sua ideia foi a seguinte: todos os dias, exatamente às 11:15, a diretora saía para buscar sua neta na escola, almoçava em algum restaurante e depois levava a menina para casa. O que dava por volta de 30 meia hora com sua sala vazia, mas detalhe: a sala ficava trancada e, além da própria diretora, apenas Hermes, o faxineiro, tinha acesso à todas as portas do orfanato. Então o plano de Bella era esperar a diretora sair e implorar para Hermes (que eu nem conheço) abrir a porta e rezar para que ninguém nos visse. Só que para isso teríamos que perder o horário do almoço, então também teríamos que envolver Marta, a moça da cozinha, nessa história também. Era uma sexta feira e nós duas acordamos antes de todas as crianças. Pelo que eu já sabia, era proibido crianças saírem de seus quartos antes das 7 da manhã, mas tomamos bastante cuidado com isso também. Era 6h10 mas eu não conseguiria sentir sono numa situação daquelas. Bella e eu descemos as escadas e fomos até ao almoxarifado, onde Hermes já havia aberto e estava arrumando os materiais. Por mais que tivesse cara de mau, ele era um amor de pessoa e adorava Bella, o que só facilitou nosso trabalho.
Depois de Bella ter explicado todo o nosso plano para ele, Hermes não estava seguro, ele dizia que se alguém o pegasse nos ajudando poderia perder seu emprego e nós não queríamos isso, mas imploramos para que e mudasse de ideia. Demorou uns 10 minutos até ele falar outra palavra.
— É... – Ele falou baixinho – Sua história é mesmo muito louca menininha... Mas você é só uma criança, o que pretende fazer com o tal caderno depois de tê-lo em mãos?
— Não sei – Dei de ombros – Acho que primeiro eu tenho que saber o que tem dentro dele. Depois... Aí a gente pensa em outra coisa, né...
— Não tenho tanta certeza assim não... Quem sabe, podemos tentar. – E então ele pegou seu molho de chaves e tirou uma. – Aqui, a chave da diretoria. Não esqueçam de me devolver assim que saírem. E não se esqueçan: se descobrirem que estou ajudando vocês eu fico desempregado.
— Obrigada, Hermes! – Dei-o um abraço apertado, e ele sorriu e retribuiu, acho que ele adorava receber afeto das crianças de lá. – Prometo que teremos cuidado.
— Tudo bem, senhorita, mas agora voltem para o quarto porque já são 6h50. Já, já irão acordar as outras crianças.
Eu apenas sorri e assenti com a cabeça. Hermes tinha um carinho muito grande pelas crianças, não importa qual entrasse no Orfanato, ele as recebia com um sorriso no rosto de orelha a orelha. Nunca pensei que conheceria alguém tão gentil quanto ele, mas infelizmente, assim como com Bella, eu também me enganei sobre ele.
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Eu Não Estou Sozinha
Teen FictionDepois de todas as tentativas de Caroline Bittencourt para ter um filho, Julieta fora seu único sucesso. Foram ao todo 12 tentativas, 11 falhas... e uma órfã. Agora, com 11 anos, Julieta busca por algo que a tire desse pesadelo, tendo como ajuda ape...