Capítulo 3

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Só me dei conta do que realmente estava acontecendo quando Helena, a moça do orfanato, veio falar comigo.

- Ei, mocinha - Ela pousou a mão sobre meu ombro e sorriu. - Por que tão triste?

- Ah, nem sei, moça. - Comecei, não conseguindo me controlar quanto ao sarcasmo - Talvez pelo fato de que eu passei 6 anos longe da minha mãe, ou pode ser porquê eu nunca conheci meu pai ou até mesmo por minha mãe ter morrido dias antes do meu aniversário... Eu não sei, talvez eu nem tenha motivos para choro.

- Oh - Ela respondeu, meio sem jeito - Bem, mas nós cuidaremos de você agora. Não precisa ficar triste, nem com medo. - Revirei os olhos, aquilo não era para mim, e quer saber? Eu não iria ficar ali por muito tempo.

Juntei minhas coisas e segui para o meu novo quarto, " número 412" pensei comigo. Cheguei à porta do 412, e fiquei lá, imaginando o que me esperaria do outro lado. Felizmente, não era um monstro. Era só uma menina surda. Ela estava sentada em uma das camas, me encarando com um sorriso, um sorriso amável, então sorri de volta.

- Oi. - comecei, meio insegura. Ela não respondeu, mas talvez tenha entendido. Nós duas ficamos nos olhando, sem ter a menor ideia do que fazer, até que Helena bateu à porta.

- Que bom que já se conheceram. 

- Ela tem algum problema? - Perguntei, ainda confusa com tudo o que estava acontecendo.

Helena deu uma risada, como se já esperasse minha reação.

- Ela é surda, Julie. Bella sobreviveu à um acidente de carro. De algum modo, o cinto de segurança prendeu-a segundos antes de tudo acontecer. Ela ainda está traumatizada com essa história, mas é uma menina alegre igual a qualquer outra.

- Mas ela não ouve nada mesmo?

- Muito pouco. Mas ela consegue fazer leitura labial.

- Ok... - Sentei-me ao lado de Bella, tentando parecer simpática, mas não sabia por onde começar com ela. Então, sem que eu percebesse, ela me abraçou, me abraçou forte e confortável, e eu apenas a abracei de volta. Ah, eu estava precisando daquilo, com certeza.

Ficamos sentadas na cama assistindo desenhos animados na pequena TV do quarto. Era impressionante o jeito com que, mesmo surda, ela ainda conseguia assistir aqueles desenhos tranquilamente.

Naquele mesmo dia, ficamos juntas a tarde inteira, aquela menina ruivinha me mostrou que eu não estava sozinha. Mais tarde, ela me mostrou muitas outras coisas. Ah, como queria tê-la aqui comigo agora.

Eu Não Estou SozinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora