Capítulo 2

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   E é isso aí, depois que eu nasci, minha mãe finalmente desistiu de ter mais filhos, na verdade não foi ela, e sim o corpo dela, que não aguentava carregar nem mais um feto sequer. Não pense que nossa vida melhorou depois daí, nós  não tínhamos muita coisa e minha mãe precisava trabalhar dia e noite para nos sustentar, e como se não bastassem todos os nossos problemas, de repente chegaram mais. Minha mãe foi diagnosticada com depressão pós-parto, e o que você acha que aconteceu com ela? Bem, talvez o mais provável que pudesse acontecer numa situação dessas: Ela foi internada numa clínica, "A senhora não está em condições de cuidar de uma criança, precisa ser tratada." eu os ouvi dizer antes de levarem-na para longe de mim. Mas de uma coisa podemos ter total certeza: Não há nada tão ruim que não possa piorar, e é exatamente aí que estou querendo chegar com você.

Caroline nunca me contara a verdade sobre papai, sempre me dizia que ele estava morto. Eu não tinha mais nenhum parente próximo, e então a melhor decisão foi me deixar em uma daquelas casas de apoio para "pessoas carentes", por assim dizer.

    Eu tinha apenas 4 anos quando a vida resolveu que não queria sorrir para mim, então fiz o que qualquer criança faria, eu chorei. Pobre criança, mal sabia eu que tudo aquilo era só o começo.
   
    Acabou que eu fiquei naquele lugar mais tempo do que o esperado, e meus "cuidadores" estavam pensando seriamente em me transferir para um orfanato. A vida não estava ótima, mas pelo menos eles deixavam eu visitar minha mãe na clínica aos sábados. Estava tudo bem entre nós duas, mas novamente, eu sorri para a vida, e ela, revoltada mais uma vez, não sorriu de volta.

    Já era semana do meu aniversário de 11 anos, e eu a visitei naquele sábado como em todos os outros.

    — Boa tarde. – Tuany, a recepcionista, me cumprimentou com seu sorriso carinhoso, como sempre. – Sua mãe já está à espera.

    — Obrigada, Tuany. – Respondi com outro sorriso, haviam 6 anos que eu fazia visitas frequentes à minha mãe, eu já conhecia aquela clínica como a palma da minha mão. – Essa é uma semana especial! – E segui para o jardim, onde minha mãe me esperava, no mesmo banco de sempre. – Mãe?

    — Julie? Meu amor, como você está? – Ela levantou e me deu aquele forte abraço de mãe. – Hoje é uma semana muito importante, não é mesmo? E eu preciso te contar uma coisa!

    — O que é? Eu vou poder vir te ver no meu aniversário?

    — Não, Julie, é bem melhor. Eles vão me liberar! Eu vou voltar para casa com você! Nós duas, só nós duas! Como era antes!

    Eu até falaria algo, mas, onde estavam as palavras? Foram 8 anos presa naquele lugar, 8 anos sem a minha mãe, e finalmente tudo iria dar certo para nós duas. Pelo menos, era o que eu pensava. Nós nos abraçamos, comemoramos com risadas e choros de alegria, eles iriam liberá-la na mesma semana e ficaríamos em casa, juntas.
                               ...

    Faltavam apenas 2 dias para o meu aniversário, e fui chamada pela coordenadora do meu "lar". Ela queria conversar comigo sobre minha mãe, e eu já sabia exatamente o que era.

    No caminho até sua sala, eu não conseguia parar de sorrir pensando em tudo o que eu e mamãe iriamos fazer quando voltássemos para casa. Bati à sua porta e entrei sorridente, mas não fui recebida com o mesmo.

    — Queria falar comigo, Sra. Lavínia? – Tentei quebrar o clima.

    — Quero sim, Julie, entre. – Ela também sorria, mas não era um sorriso qualquer, era um sorriso de pena, um olhar preocupado. – É sobre sua mãe, querida.

    — Ah, sim. Eu sei. Ela já está em casa? Posso voltar para lá ainda hoje? Ah, sra. Lavínia, vai ser tão bom estar com ela novam...

    — Não, Julie. – Ela me interrompeu. – Escute. Hm, como vou dizer? Você não vai poder voltar para casa. – Eu continuava a encará-la, sem entender nada, e com medo do que viesse a sair de sua boca. – Sua mãe, Julie. Ela voltou para casa, sim, mas ocorreu um acidente. E... Bem, sua casa... Pegou fogo e... Os bombeiros conseguiram socorrer sua mãe, mas ela... Não aguentou.

    De novo as palavras me faltavam. Tudo o que eu sentia eram as lágrimas, mas dessa vez não eram de alegria. E então, desabei. Não! Não podia ser! Não comigo, nem com ela. Não era justo. Por que ela? E foi ali, agachada no chão em meio às lágrimas, que fiquei durante horas, sinceramente, não me lembro de muita coisa depois disso.

Eu Não Estou SozinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora