Capítulo 4

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Depois de uma semana naquele lugar, com policiais vindo sempre para me entrevistar ou entrevistar os outros, eu não estava nem um pouco confortável. Confesso que era mais animado do que o lar, mas não deixava de ser um lugar sombrio, de onde eu queria sair o mais rápido possível.

Lembro-me muito bem daquele dia, ah... Aquele dia! Salvou minha vida. Eu estava passeando nos corredores do orfanato (que pelo que vi, era ENORME), quando ouvi a voz da diretora discutindo com alguém, um homem... Eu (como legítima curiosa) me aproximei devagar e em silêncio para ver se conseguia ouvir alguma coisa, não estavam conversando alto, o que dificultou bastante... Mas ainda consegui ouvir uma boa parte, era sobre minha mãe.

-Encontramos isso no quarto queimado. Acredito que seja a única coisa que nos ligue ao ocorrido, será que Julieta poderia identificar para nós? -
"Isso?! Isso o quê?? Da minha mãe? Que eu posso identificar??" Quase não me contive, mas continuei ouvindo a conversa, pois sabia que se alguem soubesse que eu, a novata, estava ali escutando conversa atrás da porta da diretora, com certeza seria castigada ou jogada na rua.

- Acho melhor não senhor Walter, pode conter coisas muito importantes, não é bom entrar nesse assunto com a Julie depois dessa semana, sei que foi muito difícil para ela. - Ouvi a diretora falar, "É claro que eu posso! Me mostrem!! É da minha mãe!" Eu não aguentei mais e empurrei a porta com toda a força - Me mostrem! O que quer que seja! Era da minha mãe, então eu tenho o direito de saber! - Os dois me olharam com cara de espanto... Oops! Pensando bem, acho que não foi uma boa hora para dar uma de rebelde...

- Olha, temos uma aqui uma curiosa... - O homem me olhou dando um risinho. Ele parecia ser legal, e foi até simpático (eu poderia jurar que ele iria me algemar" mas meus olhos foram involuntariamente em direção à mão dele. Parecia um caderno, meio judiado pelas queimaduras, mas ainda mantinha seu formato. "Um caderno? É isso? E que caderno é esse? Não lembro de nenhum ca..." meus pensamentos foram interrompidos por uma expressão de repreensão e uma voz não muito irritante.

-Então, dona Julieta, quer dizer que você gosta de ficar ouvindo conversas atrás da porta? Que maravilha, não? Só espero que não nos dê muito trabalho ao longo desse ano. - Há! Como se eu fosse ficar lá até o fim do ano... Eu fugiria de lá na primeira chance que tivesse, mas agora, outro detalhe estava em meus planos. Eu precisava daquele caderninho nas minhas mãos e, só então, eu figiria dali. E a grande questão era: Como eu pegaria aquele caderninho queimado? Como eu enganaria a pericia? Eu tinha só 11 anos... Mas, oh, graças a Deus puxei esse lado do meu pai, ser persistente seria uma grande qualidade, se não me metesse em confusões quase sempre. E eu irei chegar até isso com vocês, mas não agora.

Eu Não Estou SozinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora