Prologo

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Simplesmente não aguento mais. As vozes... Aquelas malditas vozes! Ana, querida, por favor, saia dessa casa enquanto pode, se não você vai perder a sanidade que nem eu perdi.

O papel ainda estava na maquila de datilografar quando a mulher que carregava os sacos com mantimentos viu a breve carta. Primeiro, veio o choque. Depois a surpresa. Depois de ver a carta ela começou a correr pela mansão que nem louca, quase se perdendo entre o labirinto que eram aqueles imensos e estranhos corredores. Andou pela ala oeste e depois pela ala leste. Nada dele. Entrou em cada quarto. Nenhum sinal do homem o qual ela dedicou dez anos de sua vida. Andou pelo hall, olhou para a claraboia. Não.

Meu Deus, onde ele está?!, perguntou Ana para si na sua mente.

Mesmo tendo pavor do porão, ela entrou lá. Não. Nada. Nenhuma alma viva. Nenhuma vivalma. Ele tinha desaparecido, era como se nada tivesse acontecido. Ele simplesmente sumiu e pronto. Acabou. Nenhum sinal de luta.

Ana desceu para a pequena cidade e foi à delegacia naquele mesmo dia assustada e exaurida de correr pela imensa mansão. Quase bateu o carro, um fusca Volkswagen branco que ganhara de presente de casamento em 1946, na traseira de um caminhão.

Depois de várias buscas incessantes pelos arredores da antiga mansão e dentro também, deram como o corpo dele desaparecido e Ana foi embora de lá. Ela tinha medo daquela casa, ela não sabia o por quê. Mas, mesmo assim, ela não vendeu a mansão, mantendo ela sob o seu nome e a sua possessão.

Mal ela sabia que o seu marido não havia se matado como a pequena carta insinuava. Não, meu caro leitor.

A mansão era velha e má, muito má, e ela matou ele. Era um de seus "joguinhos", e ela gostava muito de brincar com os seus habitantes. Como punição ela permaneceu fechada por um breve espaço de tempo, até 1973 quando Ana cometeu suicídio num ato de louca paixão e saudade do marido que a deixara. A carta dizia: Não aguento mais viver sem ele.

Para falar a verdade, aquilo era obra da mansão que mandou uma de suas entidades mais malignas atormentar a pobre Ana até o dia em que ela não resistisse e se suicidasse. A entidade se transformou no marido que sempre dizia: "Junte-se a mim, não consigo viver aqui sem você, Ana".

No testamento de Ana, dizia que ela deixava a mansão de herança a sua secretária, uma jovem de 21 anos sem um futuro programado e morando na miséria de um apartamento consideravelmente bom em um bairro de classe média de São Paulo.

Caro leitor, você não pode imaginar o quão feliz e excitada, não pense besteira, ela ficou ao ouvir que herdou uma mansão. Uma das coisas que ela mais gostava eram de mansões e não demorou muito até ela ir morar lá.

O ano de 1976 foi o pior ano da sua vida.

A Mansão do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora