UMA INSANA PAIXÃO

II

Eu caminhava até a sala do Sr. Parker em passos lentos e furiosos. - Eu estava irritada e nervosa só de saber que tenho que ir até a sua sala, imagina quando eu chegar lá... - Respirei fundo dez vezes antes de bater em sua porta.

- O que queres comigo, Srta. Luchini? - Ele abriu porta dando espaço para que eu passasse. Ele está bem sério, mas consigo enxergar um sorriso debochado no canto dos seus lábios.

Ele caminhou até sua mesa, sentou-se e fez sinal para que eu me sentasse também. - Obviamente, não vou sentar! Um, dois, três, respira Brunella! Você precisa desse emprego para mostrar para os seus pais que não precisa ser sustentada com a fortuna deles. - Aproximei-me de sua mesa lhe entregando o meu relatório.

- Eu enviei o meu relatório para o senhor semana passada, e esqueceu-se de olhar e assinar. - Falei olhando diretamente para os seus olhos.
- O Senhor anda muito esquecido... - Ele franze o cenho e seus olhos de jabuticabas assassinas que ocultam muitas coisas sobre ele queimam sobre mim.

Eu gosto desse olhar, eu gosto do homem que se esconde atrás deles e que me deixa louca para descobrir quem é ele de fato. Observo Anthony Parker há um ano e nunca o vi se atrasando e nem acompanhado das mulheres da empresa que flertam com ele descaradamente apesar de sua fama fora daqui. Nós dois temos raiva um do outro que se mistura com desejo e isso é muito óbvio, mas eu e ele nos fechamos para isso e talvez seja por isso que sempre nos mantemos longe um do outro nos camuflando em nossas brigas. Ele é tão teimoso e fechado quanto eu, mas frio e calculista e eu lhe tiro do seu conforto.

- Quanta audácia e impertinência, Srta Luchini... - Respirou fundo ao falar, levantando-se da sua cadeira e apoiando seus braços fortes sobre a mesa ficando próximo a mim que prendia a respiração sentindo medo e desejo ao mesmo tempo.
- A Senhorita sabe que não pode falar assim comigo, não sabe? - Rosnou, mas eu conseguia ver o seus lábios se forçando para não esboçar um pequeno sorriso.
- Eu sou o chefe dessa empresa, portanto quem manda aqui sou eu! Se retire da minha sala, por gentileza... - Falou entredentes.

Esse é o momento em que eu estou paralisada olhando para o rosto lindo do meu chefe pensando se eu saio correndo dessa sala pela minha audácia ou se eu faço um "bom" proveito da minha impulsividade e o respondo.

- Sim, Senhor! Eu saio, com maior prazer... - Eu levantei bruscamente da cadeira saindo da sua sala ouvindo meus saltos batendo no chão com força, e caminhando de volta até a minha mesa movida a ódio.

Nós sempre nos estranhamos e nos provocamos de tal maneira que para quem olha de fora, com toda a certeza do mundo me vê como uma mulher insana e sem medo de perder o meu cargo nessa grande empresa. Eu sei que eu nunca agi totalmente profissional com ele desde que eu entrei na empresa, mas ele nunca me tratou totalmente de forma profissional também. Há sempre provocações, brigas, troca de olhares carregados de ódio e desejo entre nós dois.

A minha família é rica e eu nunca quis esbanjar do luxo e das regalias que isso me traz. Com isso, terminei a faculdade e sai das abas dos meus pais tendo o maior apoio deles, por incrível que pareça, para buscar a minha independência.

E sem esse trabalho, como eu alcançaria minha independência? Como eu terminaria de pagar o meu apartamento? Tais questionamentos me fazem pensar que eu devo mudar minha postura em relação ao Sr. Parker e começar agir profissionalmente com ele porque eu não estou podendo abusar da minha sorte e nem do Sr. Parker. - Ok... Eu sei que eu deveria ter pensado nisso antes, mas esse homem me tira completamente do sério. - Por que ser um homem que afeta tanta a minha sanidade?