Expulsão de sala

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Esse provavelmente seria um dia bom. Todos estavam sendo legais. Luiz não parava de conversar comigo nem um pouco. Lilian me contava absolutamente tudo sobre ela. Mari estava ótima. Márcio me deixou em paz.

Eu passei o turno da manhã basicamente rindo de Israel, Márcio e Caio.

Israel vinha de outro estado, por isso falava um tanto estranho. Ele é engraçado; não deixando de lado que muitas vezes faz piadas horríveis. Bem baixinho, mais do que eu, pra falar a verdade.

Caio passava o dia se fazendo de gay. Mas, para sua felicidade, ninguém ligava, todos sabiam o quanto ele era safado, na verdade. Também muito engraçado, e era meu amigo.

Márcio gostava de me irritar, mesmo assim continuava sendo engraçado.

Na quarta aula eu me separei de Israel, Caio e Márcio, porque teria aula de matemática, com o grande implicante senhor mandão Jeickson. Lucas estava na cadeira atrás de mim, segundo o mapeamento. Lucas era muito legal e bastante inteligente. Porém, ele provavelmente amava encher o saco, ficava batucando na cadeira incontrolavelmente, cantando músicas com conteúdos sexuais, enfim, gostava de me provocar.

Jeickson entrou, fazendo todos se calarem automaticamente. Ele começou a falar de triângulos, acho. Mas Lucas não me deixava prestar atenção, de jeito nenhum.

- Luciana. - Ele murmurou.

- Que foi? - Eu falei o mais baixo possível.

- Já ouviu essa música? - Ele passou um fone e colocou meu capuz.

"Estava no escurinho
Comendo a empregada
Alguém abriu a porta
E eu comi a bunda errada"

Eu tirei o fone e revirei os olhos.

- Noooossa, bem futurista essa música né? - Eu falei irônica.

- Raul Seixas, novinha. - Ele falou e começou a fazer uma batida na minha cadeira.

- Para de bater. - Falei.

Ele não parou.

- Para! - Falei mais alto.

Quando eu me toquei estávamos rindo um da cara do outro, e Jeickson olhava com seu nojo todo.

- Luciana e Lucas. Fora. - Ele falou apontando pra porta.

- Mas... - Eu tentei responder, mas Jeickson continuava com raiva.

Me levantei e sai. Lucas me seguiu. Nós andamos um metro, mais ou menos e ele começou a rir.

- Você devia ter visto sua cara! - Ele falou rindo alto.

- Cala a boca. - Bufei.

- Tava tipo: que mundo injusto, vou me matar. - Ele imitou minha voz.

Nossa, eu estava com muita raiva do Lucas. Ele simplesmente tinha garantido que Jeickson ficasse com raiva. Ele tinha garantido a perda de aspectos que eu tanto estimava. Eu queria muito dar um murro no Lucas, e ele continuava rindo, como se nada tivesse acontecido.

Continuei andando até a coordenação impaciente. Quando chegamos o coordenador nos olhou franzindo a sobrancelha.

- O que vocês estão fazendo aqui? Ah já sei! Jeickson quer um lápis de quadro novo. - Ele ia se levantar para pegar o lápis.

- Não... Nós... fomos expulsos de sala. - Falei baixo.

- Vocês?! - Ele estava surpreso. Realmente, éramos um dos melhores alunos.

- Sim. Em minha defesa, eu apenas estava rindo dele. E o senhor estressado mandão Jeickson, me mandou sair junto com o Lucas. - Eu falei apressada.

- Pera... Luciana Never foi expulsa? - O coordenador continuava boquiaberto. - E o Lucas Filho?

- Sim... mas não vai se repetir. - Lucas finalmente falou. - Somos bons alunos, eu juro. E estávamos apenas interagindo uma vez.

- Eu sei que vocês são ótimos alunos. Esforçados. Inteligentes e comportados. Mas, não vão poder assistir o fim da aula de Jeickson. - Meus olhos entristeceram.

- Certo. - Lucas disse.

Lucas abriu a porta e me esperou para ir junto com ele. Ficamos calados esperando a aula de Jeickson acabar.

- Eu te odeio, sabia? - Perguntei.

- Claro que sim. - Ele riu.

- Sinico. - Dei um riso falso e espreitei os olhos.

- Chata. - Ele falou erguendo a sobrancelha.

- Fui eu que te fiz ser expulso da sua aula favorita? - Perguntei.

- Foi. Você falou alto. - Ele disse.

- Ah, vai se lascar. - Eu bufei.

Jeickson finalmente saiu da sala e nós entramos. Tinham umas dez pessoas nos esperando e gritando "O que foi isso?!" "O apocalipse chegou, Luciana e Lucas foram expulsos".

- A gente só conversou. Nada de mais, saímos por merecer. - Falei para todos.

- Mas você é exemplar... sei lá, é estranho, no mínimo. - Alice falou, e todos concordaram.

- Ah, eu teria que sair de sala um dia né? - Falei.

Quando cheguei em casa, minha mãe me esperava.

- Expulsa de sala, né? - Ela cruzou os braços. Lascou.



Eu, LucianaOnde histórias criam vida. Descubra agora