Interligados

Capítulo 2

Contei para minha vó sobre meu dia, como fazia sempre, ela tinha muita raiva da Valentina e disse que quando eu ficasse rica e pedisse conta ela faria questão de dizer poucas e boas para ela.

-A Sara entregou o convite do chá de bebê.

Ir no chá de bebê da minha irmã era como uma roleta russa, perigoso e igual a um baile funk, mas iríamos por ela. É complicado ver uma menina tão nova tendo que viver uma vida de uma mulher mais velha.

Minha irmã conheceu o Luan quando tinha 13 anos, eu levava ela para casa do Fred, e eles ficavam brincando , enquanto o Fred me ajudava nos estudos. Porém eu não imaginava o destino que o Luan tomaria logo com 15 anos, ele passou por toda hierarquia do tráfico até chegar a ser o braço direito do "chefe". Hoje aos 17 está nessa vida e levou a Sara junto. É difícil dormir a noite com medo do telefone tocar sendo uma notícia ruim.

Quando a Sara anunciou a gravidez toda feliz meu mundo desmoronou, não sabia o que eu havia feito de errado e a única coisa que pude fazer foi apoia-la.

Minha tia tinha um salão e aos sábados eu trabalhava como manicure, maquiadora, cabeleireira e o que mais pudesse aumentar minha renda. Todas as vezes as clientes puxavam assunto para colher informações sobre minha família, não conseguiam muito além de saber que todos estavam bem.

No domingo liguei para minha irmã para saber se iria precisar da minha ajuda e ela disse que tudo estava por conta das pessoas contratadas, se a Sara não fosse minha irmã seria da Valentina pois eram muito parecidas.

Eu e minha vó chegamos no chá de bebê, que estava mais para um baile. Para a Sara era como se tivesse um mundo só para ela, com vários amigos verdadeiros e inimigos invejosos, infelizmente era só uma criança. Após duas horas sendo torturadas pelas músicas que tocavam e pelas coisas que os jovens atualmente fazem, resolvemos ir embora.

-Opa! Onde a cunhadinha vai?

-Para casa, minha vó não está se sentindo muito bem.

Minha vó fez a melhor cara de doente que ela pôde, treinamos muito em casa.

-Olha Alice, você sabe que eu te admiro? Teve oportunidade de sair e ser uma babaca igual meu irmão, mas escolheu a família.

-Obrigado, mas tenho que ir.

-Calma, não é porque você é sempre abandonada que tem que abandonar os outros falando sozinho.

Fiquei totalmente sem reação, como um menino sem moral nenhuma poderia ter acabado comigo em uma frase?

-Muleque você pode me dar licença que eu estou passando mal? Que muleque chato.

-Calma dona Sônia! Pode ir.

Fomos embora, mas aquelas palavras continuaram ecoando na minha cabeça, como se fosse atingida no meu ponto fraco.