E começou mais um dia no shopping, o melhor da segunda feira era que as lojas ficavam vazias, mas tínhamos que criar vitrines para atrair novos clientes.
Valentina chegou e contou tudo e todos os babados da festa, como se eu conhecesse e soubesse o caráter de cada um que ela estivesse falando. -Agora tenho que ir, vou fazer uma entrevista para contratar uma nova assistente pessoal.
Desde pequena a Valentina sempre teve alguém que fizesse tudo por ela e realizasse suas vontades, mas nem todo mundo tem paciência com ela, o que faz as assistentes (quase babás), irem embora depois de três meses.
-Bom dia, a Valentina está?
Muitos homens entravam na loja para comprar presentes para suas namoradas, mas como aquele homem eu nunca tinha visto na vida. A beleza dele era como se todos os personagens que um dia imaginei nos livros se tornasse real.
-Não, mas você pode deixar recado.
-Meu nome é Rafael, eu sou arquiteto e estou fazendo o projeto do apartamento dela. Você pede para ela ir ao meu escritório? É no quarto andar. Fazendo favor.
-Peço sim.- Disse com um sorriso para que ele voltasse mais vezes.
Algumas horas depois a Valentina voltou, com aquela cara de que precisa de favores. Já imaginei que ficaria depois do meu horário.
-O que deseja?
-Alice só você pode me salvar. Eu fiz cinco entrevistas, e quase nenhuma sabia responder o que eu queria, só uma, mas ela tem filhos e marido.
-Mas eu não conheço ninguém que saberia atender suas expectativas.- Mentira. Só não queria mandar alguém para a tortura.
-Não Alice, eu quero você como minha assistente pessoal. O salário é bom, eu te dou vale transporte, vale refeição e até um plano de saúde para você, sua vó e até a doidinha da sua irmã.
-Preciso pensar, a loja não pode ficar sozinha.
-Acho que a loja é minha, lembra? E você vai receber o triplo do que recebe aqui.
-Olha eu preciso pensar. Ah, e o Rafael, arquiteto, pediu para você ir no escritório dele.
Meu turno acabou. Fui conversar com o senhor José, ele era o segurança do shopping. Ele era como um pai de todos os funcionários e com sua experiência, me indicou que eu aceitasse a oportunidade. Afinal, consegui aguentar a Valentina por um ano.
Chegando em casa contei para minha vó, que não gostou da ideia. Para ela eu estaria indo para uma torturante batalha contra a humilhação. Fiquei dividida, mas eu ainda teria tempo para pensar.
Os dias se passaram e eu torci para que a Valentina não aparecesse tão cedo, ainda não sabia a minha resposta. Destraída em meu pensamento nem percebi que a madrasta da Valentina estava ali.
-Desculpa, estava destraída.
-Tudo bem. Meu nome é Paola. Eu trouxe alguns vestidos para ajudar com o estoque da loja.
-Ah sim.- Peguei os vestidos e coloquei no estoque.
-Você vai aceitar o emprego de assistente da Valentina?
-Não sei, estou pensando ainda.
-Olha, eu ficaria muito feliz se você aceitasse. Pela Valentina, claro.
-Pois é, vou pensar.
-Tenho que ir, foi um prazer Alice.- Ela me deu um abraço longo, as pessoas da família da Valentina eram bem carentes.
O telefone tocou e era minha tia. Avisando que minha vó estava sofrendo outro infarto. Fechei a loja e no caminho avisei a Valentina.
Fiquei com a minha vó o tempo todo, conseguiram salva-la a tempo, mas seria necessário maiores cuidados. Dormi como acompanhante e acordei com uma mensagem da Sara.
"O que aconteceu com a vó? A tia Tilde não quer me contar. E ainda brigou comigo, mas eu não sabia Alice, não é culpa minha!"
Já estava tão cansada de ser responsável por tudo, que não respondi e deixei ela ficar com peso na consciência, afinal, ela também tinha uma parcela de culpa. Coloquei o celular no silencioso.
Acordei com milhares de mensagens da Talita desesperada, por dentro eu até que estava rindo. É bom ser má as vezes.
"Calma, ela deu outro infarto, mas já está bem. A visita é às 15h. Pode vir que a tia não estará aqui.".
Meu celular tocou.
-Oi Valentina.
-Sua avó já está bem?
-Sim, agora só precisa de um acompanhamento.
-Hoje o Léo vai fazer plantão aí. Eu peço para ele assumir o caso da sua avó.
-Mas eu não vou poder pagar, nós estamos na parte pública.
-Esqueça. Encare isso como um agradecimento.
-Está bem, obrigado.- Talvez a Valentina não fosse tão má como eu imaginava.
Resolvi dar um passeio pelo hospital, as vezes, ficávamos tanto tempo lá que as enfermeiras se tornaram intimas. Conversamos, elas me deram apoio e voltei para o quarto. Antes de entrar ouvi a voz da minha vó.
-Olha menino, você vai ter que cuidar de mim muito bem!
Abri a porta correndo para impedir que minha vó adicionasse mais um para sua lista de " médicos mais odiados ", mas quando entrei, fiquei sem reação nenhuma.

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RomanceSinopse: Alice sempre se conformou em ser abandonada, trocada e até humilhada. O futuro não espera por ela, afinal, ele já deu oportunidades demais para ela. Porém, se o futuro não ajuda o passado sim. Alice irá descobrir que as segundas chances que...