Depois de um tempo sentado naquele chão tentando juntar os caquinhos de Íris Anderson que se espalhavam por aquele minúsculo dormitório Harry só podia pensar no quão frágil e machucado o coração da garota era, porque para ele só alguém realmente sem nada podia ter ele como seu tudo. Ele não podia e nem nunca iria entender o papel que exercia na vida daquela pequena criatura quem ele tinha ali aconchegada em seus braços cobertos de tatuagens que chamaram a atenção dos olhos da garota que passarou a observar cada traço ali desenhado. Harry foi tirado de seus devaneios quando pode sentir dedos finos e gélidos passando delicadamente sobre sua pele que se encontrava quente e com uma fina camada de suor graças a cargas de emoções negativas pelas quais ele havia passado minutos atrás.
-Eu queria saber o significado que cada uma delas tem pra você- Íris dizia enquanto observava cada linha, curva e ponto que habitavam na pele daquele a quem ela tinha como seu quase príncipe encantado sabe daqueles que costumam vir em cavalos brancos, só que esse seu príncipe tinha umas certas exceções, ele não era príncipe, nem encantado e especialmente não possuía um cavalo branco. Harry Fletcher odiava cavalos, uma queda brusca e a quebra de três partes de sua perna esquerda o impossibilitando de andar por cinco meses e de fazer longas e doloridas sessões de fisioterapia aos 9 anos de idade foram o suficiente para fazê- lo odiar o suficiente cavalos para todo o resto de sua vida, e só de pensar na possibilidade de Harry vindo a seu encontro em cima de um cavalo branco fazia Íris rir como se não houvesse amanhã, mas mesmo se o garoto não tivesse pavor de cavalos ela não desejava que ele viesse salvá- la dela mesma montado em um cavalo miserável qualquer, mas sim em uma harley davidson, definitivamente harleys faziam mais o estilo de Íris.
-Você já é uma quase psicóloga, deveria entender o significado do que as pessoas desenham na pele e o que elas tentam expressar através dessas imagens
-Sim mas não consigo entender o que leva alguém a carregar uma marca pra sempre sabe?
-Todos nós carregamos marcas que não queremos Íris, as minhas são visíveis, eu as desejei e paguei por elas, já as suas e as de muitas outras pessoas são invisíveis, não desejáveis e na maioria das vezes vieram de graça. A vida fez questão de marcar vocês com cicatrizes que nunca vão se apagar.
-Não sei o que é pior, se é você me tratar com frieza ou com pena, isso me faz ter nojo de mim mesma
-Sério que você vai ter outro ataque outra vez? Um por dia não é o suficiente pra sua cota de louca?
-Me desculpa se eu fico preocupada com o fato de que você ta afim de virar uma tela do Picasso cheio de desenhos psicodélicos
-Não começa Íris, já basta essa sociedade capitalista hipócrita que impõe várias coisas nojentas para serem padrão agora lá vem você pra me dizer o que é certo e o que não
-A questão é que as pessoas te rotulam pelo que você aparenta Harry, e eu não quero que as crianças e os velhinhos que forem seus pacientes no futuro não confiem o suficiente em você por causa de todos esses rabiscos que você tem no braço
-Eu tenho que ir
-Sério que você vai me deixar aqui sozinha depois de um dos meus surtos e de tudo que eu disse pro bem do seu futuro profissional Fletcher? Não acredito que fui tão otária de esperar uma atitude diferente dessa de um egoísta como você.
-Não se faça de vítima, eu vim aqui pra te ver não pra ouvir merda e presenciar os seus ataques, volto pra gente jantar quero saber tudo sobre nyc, te pego as oito e espero que você já esteja pronta.