André
Dois anos atrás...
"When she was just a girl
She expected the world
But it flew away from her reach
And the bullets catch in her teeth
Life goes on, it gets so heavy
The wheel breaks the butterfly
Every tear a waterfall
In the night the stormy night she
'll close her eyes
In the night the stormy night away she'd flyAnd dreams of
Para-para-paradise
Para-para-paradise
Para-para-paradise
Oh oh oh oh oh oh-oh-oh"
Coldplay - ParadiseRio de Janeiro. Outubro de 2013.
Era mais uma terça-feira comum. Tinha terminado as aulas do dia. Por mais estressante que a minha rotina seja, sou apaixonado pelo meu trabalho. Lecionar é a minha maior paixão, seguida da música.
Sou professor de Inglês, matéria que amo desde quando era uma criança. Não é a matéria preferida dos alunos, mas com a ajuda da música, tenho conseguido fazer com que os alunos se interessem mais pelas aulas. Assim, na sala de aula, consigo unir as duas paixões da minha vida: o Inglês e a música. Os alunos têm adorado e me sinto realizado.Recolhi meu material, guardei no armário e resolvi caminhar até o ponto final do coletivo, com a esperança de encontrar um lugar vazio, e também porque me sentia estranhamente inquieto, e talvez andar ajudasse a fazer com que a inquietação passasse.
Estava uma noite amena, céu claro e bem quente. Uma típica noite de primavera carioca. No caminho até o ponto, tem uma praça com uma sorveteria. Habitualmente, passo por ali e a vejo sempre lotada, mas nunca entro. Gosto bastante de sorvetes, porém a sorveteria é um point dos adolescentes e, bem, gosto muito dos meus alunos, mas o contato na sala de aula já é o suficiente.
Não sei se foi o calor, o cansaço, a ausência do barulho ou as luzes da sorveteria que me chamaram a atenção, mas fui atraído para aquele lugar. E foi aí que algo aconteceu...
Foi um encontro comum. Diariamente, a cada segundo, milhares se esbarram assim, sem razão, sem motivo, sem querer. Mas era assim que tinha de ser.
Tudo foi muito rápido. Em segundos, um momento simples e provavelmente sem importância. Era para ser somente isso. Um esbarrão. Um tropeço. Mas então eu a vi.
Eu vinha, você ia e, de repente, você sorriu. E havia algo no seu sorriso. Como se iluminasse todo o lugar. Perdido no seu sorriso, no desajeito dos meus passos, tropecei em meus pés e esbarrei em você.
Brava, esbravejou em alto e bom som um: "AI CARAMBA!"
Reclamou que derrubei seu celular. Automaticamente pensei: "que garota mais absurda e engraçada!" e sorri, observando aquele pequeno ser de longos cabelos loiros, olhos verdes e roupa esquisita.Como para pedir desculpas, me abaixei de forma rápida para apanhar seu telefone. Ignorei o fato de você também ter culpa no tropeço, afinal, você estava distraída digitando em seu telefone, e suas reclamações, que basicamente se resumiam em resmungar algo como "babaca seco me sujando de sorvete", e tentei ser gentil.
Não sei bem o motivo, mas fiquei curioso em relação a você, queria ter a chance de encontrar aquela garota tão engraçada novamente, e, antes de lhe entregar o celular, rapidamente salvei meu número com o nome "babaca da sorveteria".
Nunca entendi o motivo de ter colocado meu número no seu telefone. Não é o tipo de coisa que normalmente faço. Eu nem sei o que esperava, se é que esperava algo. E pela primeira vez em muito tempo, eu fiz algo apenas por fazer, sem pensar em nada.
Levantei meus olhos apenas para encontrar os seus, ainda um pouco apertados pela irritação, mas ainda assim intensos. Você tinha um pouco de sorvete na bochecha e na sua blusa preta. Abri um meio sorriso e você pareceu ficar um pouco mais irritada, pois suas bochechas ganharam um tom avermelhado, o que achei ainda mais engraçado, confesso.
Tentando ser rude, você puxou seu telefone sem dizer nada, me deu um olhar gelado e saiu batendo os pés. Achei infantil, mas ainda assim engraçado. Era meio difícil acreditar que uma mulher como você fosse capaz de mostrar irritação batendo os pés. O que lhe tornava ainda mais interessante.
Então você se foi, balançando seus longos cabelos loiros, seus shorts jeans e seu allstar de canos longos. E eu fiquei ali na porta da sorveteria parado, não conseguia desprender o meu olhar de você e te observei caminhar até virar no final da rua.
Inexplicavelmente, não gostei de te ver indo embora. Para amenizar a inquietação que agora queimava em meu peito, resolvi entrar na sorveteria e procurar aquele sorvete de cor estranha que a vi comer. Passei os olhos e lá no final o encontrei: era um sorvete azul, blue ice. Resolvi experimentar. Mais esquisito que a cor ou o nome, foi eu gostar do sorvete e ficar imaginando se ele tinha um gosto parecido com o seu.
Tais pensamentos me fizeram tomar dois sorvetes naquele noite e para minha total surpresa, desde aquele dia, o sorvete de blue ice passou a ser o meu favorito. Paguei minha conta e segui meu caminho com um breve sorriso.
Cheguei em casa com o sorriso ainda nos lábios, ainda envolto pela atmosfera leve e engraçada da noite. Minha vida social deve ser muito parada mesmo, pois havia tempos que eu não me divertia tanto. Me senti leve e relaxado. Tudo isso por conta de uma garota que nem sabia o nome.
Tomei um banho e, ao contrário de me perder nos estudos como todas as outras noites, resolvi colocar uma música para manter o clima de relaxamento. A primeira música que tocou me levou direto a uns olhos verdes, bochechas vermelhas e resquícios de sorvete azul nas bochechas. Era Paradise, do Coldplay.
Cantei baixinho enquanto gravava na minha mente aquele sorriso. Há tempos não sou mais um adolescente nem acredito em amor à primeira vista, mas, naquele instante, me vi completamente encantado pela "maluca da sorveteria."
Adormeci um sono tranquilo e revigorante, com sonhos em uma sorveteria cercada de sorvetes azuis enquanto era observado por dois olhos incrivelmente verdes e sedutores.
* Tradução do trecho da música do início do capítulo:
"Quando ela era apenas uma garota
Ela tinha expectativas do mundo
Mas este escapou de seu alcance
E ela capturou as balas com seus dentes
A vida continua, fica tão pesada
A roda corrompe a borboleta
Cada lágrima, uma cachoeira
Na noite, na noite de tempestade, ela fechou os olhos
Na noite, na noite de tempestade, ela voou para longeE sonhou com o
Para-para-paraíso
Para-para-paraíso
Para-para-paraíso
Oh oh oh oh oh oh-oh-oh"
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Um encontro com o acaso (DEGUSTAÇÃO )
RomanceDEGUSTAÇÃO | Estão disponíveis seis capítulos. O livro completo poede ser adquirido em e-book, na Amazon: https://www.amazon.com.br/encontro-com-acaso-Dresa-Guerra-ebook/dp/B01H2AZCMQ Informações sobre o livro em formato físico: autoradresaguerra@gm...