Não brinque com Suzi

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Seria uma mentira se eu falasse que eu não gostei da tarde na praça em que passamos juntos.

Foi tão bom, lembrar das coisas que a gente brincava, desabafar, contar como sua vida mudou depois que nós não nos vimos mais, lembrar de minha avó de Minas, foi muito bom.

O pai dela se separou da mãe assim como os meus, sua mãe ganhou a guarda dela e veio morar aqui em São Paulo, ela está morando perto de mim a tempos e eu não vejo ela.

Me ajeito na cama dou uma risadinha, o dia seria maravilhoso se Mariana ligasse para mim e falasse:
-Own Martim, eu sempre te amei, fica comigo mozão.

É... Sonhei demais.

Mariana:

Já tava muito tarde quando Suzana apareceu na janela e me chamou e sua cara não parecia muito boa não.

Me despeço rapidamente de Ian e corro em direção ao meu quarto.

Ela que não brigue comigo, aliás ela nem está mais com ele e eu não pretendo me envolver nesta historia com Ian.

-Suzi -Digo e vejo ela sentada na cama e com um semblante triste.

-Suzi, desculpa -Corro para ela e lhe dou um abraço, correspondido, ufa.

-Não peça desculpas a culpa minha.

-Como assim Suzi -Suspendo o seu rosto para ver seus olhos cheios de lágrimas eu não consigo ver ela assim.

-Mari tudo começou com a minha tia.

Aceno com minha cabeça e ela continua:

-Quando eu conheci Ian eu realmente gostei dele, achei ele um lindo mas não foi aquela paixão sabe, quando eu voltei para casa eu mostrei uma foto dele a minha tia e contei um pouco sobre ele, ela tava muito legal naquele tempo e dizia que eu podia contar com ela sempre, ai chegou aquele cara que jantou com ela, eles começaram a namorar e ela ficou mais estranha, se ela já me batia agora ela me espanca -Fico indignada e choro junto a ela- Ela me forçou a continuar amiga dele até que a gente começou a namorar, não Mari não ache que era por causa dela, eu realmente comecei a gostar dele mas depois não deu mais, ele ficou chato, ciumento e parecia não gostar de mim, quando eu falava com ele, ele parecia não ouvir o que eu dizia, estava sempre com a cabeça na lua. Quando eu decidi terminar com ele eu comuniquei a minha tia, ela ficou nervosa e disse que a gente não podia perder essa chance, disse que nenhum branco se interessava por uma preta e disse que eu era uma estúpida por ser negra.

Não aguento isso e levanto.

-Aquela racista, ela está pensando que é quem? Só por que ela é uma branquinha ela está pensando que pode nos ofender assim, por que ela não está ofendendo só a você, ela está ofendendo toda a nossa raça, raça trabalhadora e que merece muito respeito, foi escravizada e é tratado como diferente, são mortos todos os dias por esses racistas podres e imundos, uma negra pode sim namorar, casar e ter filhos com um branco e podem ser muito felizes, podem se amar muito, esses mizeraveis acham que só eles tem direito da politica e só eles podem fazer medicina, direito, sabe quantas vezes meu pai sofreu racismo naquele hospital por ser o médico mais qualificado mas negro? O mundo não vai para frente assim, nós temos que acabar com isso, isso está nos destruindo.

Para e respiro as lágrimas rolam descontroladamente pelas minhas bochechas e Suzi agora também não para de chorar.

-Ela me bateu Mari, ela me bateu muito.

Corro para ela e lhe dou um abraço apertado.

-Tudo vai ficar bem ta me ouvindo?

-Humhum -Ela me responde em meio ao choro.

-Não se meta com brancos mari, eles sempre fazem isto com a gente, acham que nós somos suas escravas e somos imundas e podres, eles se dizem tão inteligentes assim mas não sabem que não temos diferença, eles não sabe que somos filhos de um único pai, eles não sabem que somos iguais.

-Shi, shi, shi, shi -Tento consolar ela em vão.

-Não são todos Suzi, tem muito branco legal, simpáticos e que nós trata bem, mas é horrivel saber que em pleno seculo XXI ainda haja racismo.

Coloco a na cama e ela deita muito abalada, eu estou abalada.

Fecho os meus olhos tentando me afastar dessa triste realidade.

Oi gente, capitulo triste né T_T.

Mas é a realidade, o Brasil é constituido de 52% de negros e é triste saber que ainda haja racismo, depois de tudo que os negros passaram, trabalharam duro, foram escravizados, ainda é motivo de chacota ser negro, temos que defender e mostrar que ser negro não é ser diferente, a cor da pele não muda seu jeito de pensar, a cor da pele não lhe diz quem você é, a nossa cor é bonita e merece muito respeite, então vamos lutar tudos contra o racismo.
#RumoA3K

Como o ImpossivelOnde histórias criam vida. Descubra agora