A âncora

Capitulo 01

O som das aguas calmas, o roído do motor do barco, não tem coisa que mais acalma a mente de Séci, até uma onda enorme engolir o barco e acabar com a calmaria do sono, e tudo vai ficando escuro e frio até que...o som do despertador invade o grande quarto verde. Invade o sono da menina estirada na cama com cabelos que mais parecida um emaranhado de lã negra na cara de uma pessoa. Seus olhos se abrem, no inicio tudo um pouco embasado, e a dor de cabeça que não passava dês da noite anterior começou a incomoda-la novamente, como se um martelo estivesse programado para bater em sua testa a cada dois segundos. A menina se levanta e passa direto pelo espelho da penteadeira, não querendo ver seu estado. Ela entra no closet ao lado de seu banheiro e pega uma toalha. É inevitável chegar ao banheiro e não dar de cara com seu reflexo no enorme espelho que tem sob a pia. Encarando o fato de que uma hora teria que encarar sua própria face uma hora ou outra do dia, ela repare em si - Os olhos que já foram o retrato de alguém que um dia foi feliz agora estavam caídos e tristes, com olheiras em volta, a pele pálida contrastava ainda mais esse detalhe. Os cabelos negros caídos no rosto de forma mórbida.

Ela sabia que não deveria ter chorado tanto na noite anterior,e mais do que tudo sabia que não deveria se culpar pelo que aconteceu. Porem um sorriso aparece em seu rosto quando chega a conclusão de que parece uma personagem recém saida dos filmes de Tim Burton.

"Eu odeio esse espelho" ela pensa enquanto começa a se despir de costas para seu reflexo a fim de não ver o que não queria, sabia que se sentiria mal. Ignorou fato daquelas marcas do passado ainda estarem em seu ante- braço em ainda estarem vermelhas (algumas já estavam, apagas por conta do tempo), mas automaticamente seus dedos da mão esquerda se direcionam para a marca, alisando os riscos finos, que a essas alturas não ardiam mais

"Nunca mais vou fazer isso de novo, isso é uma promessa" e era uma promessa...para ela mesma. O problema é que já havia feito essa promessa doze vezes e doze vezes ela a quebrou .

"Como se não bastasse dormir em uma cama com estrado quebrado ainda tenho que ouvir o som de dois velhos transando no quarto ao lado"

Apesar do conforto de ser tratado em uma casa velha como a Pensão da Dona Mirna, Benjamin nunca pode se sentir a vontade em um lugar como aquele. Aquele lugar novo, emanava alegria,e aquela atmosfera alegre e divertida cheia de gente sorrindo o tempo todo sem se preocupar com os contras da vida o deixava louco as vezes. O pior de tudo é que ele sabe que não tem outra opção a não ser morar lá e mostrar toda sua gratidão (que ele realmente tem) a Dona Mirna, por cria-lo durante todos esses anos sem nem ao menos tem uma gota de laço sanguíneos para uni-los. Mesmo depois da mudança de área que Dona Mirna decidiu fazer, fez questão de leva-lo junto para a nova cidade sem menores precedentes, e embora a falta de atenção por parte de todos da casa (excerto Mirna, é claro), Benjamin sempre tenta colocar uma coisa na cabeça "Esse é o meu lar".

A pensão de Dona Mirna, embora em uma casa nova, parece a mesma de antes, mesmas decoração e é claro mesmas pessoas. Na verdade aquilo não era de fato uma pensão, para qual quer um. Lá vive uma família inteirinha que consiste em seis pessoas e mais os maridos e esposas e filho, Dois peixes, e uma maritaca. Talvez seja por isso que Bem não se sinta em casa, por que tirando os animais ele é o único... como ele gosta de chamar "Agregado" da casa.

Hora de se arrumar para o primeiro dia de aula e como todos sabem, o primeiro dia de aula é o que marca, a primeira impressão é a que fica, certo ¿ Não para Benjamin.

Ele se arruma da maneira que se arrumaria como qualquer dia, era escola nova, gente nova, mas não se importava. Ele apenas abre a porta do armário e tira uma camiseta velha jogada no chão do mesmo. Cheira a peça e...não esta mal mesmo, coloque um perfume e vai cheirar bem.