Séci nunca foi boa em testes de educação física quando o assunto era rapidez. Bom a menos que colocassem um saco de doces no meio da quadra e chamassem sua mãe a escola. Aí ela corria o percurso completo em questão de segundos. Para sorte da garota Séci, isso nunca aconteceu. Não na escola. Mas em casa...
Escondendo a frigideira em baixo da pia, limpando o prato, Séci evita mais uma briga desnecessária sobre carbohidratos com sua mãe. Lavando seu prato e tirando a gordura que restou."Ela não vai reparar, na gordura que restou. Ela nem toca na louça.
Respira Séci"Clic. A porta se abre, revelando uma mulher com os cabelos caídos no rosto, carregando uma pasta entre os dedos, uma bolsa que poderia caber no mínimo 4 chihuahuas, sacolas de mercado e um molho de Chávez na boca. Séci apenas observa sentada no banquinho da bancada na cozinha com a boca comprimida em uma linha reta
- Ora, garota venha cá e me ajude com isso - na voz dela pode se notar o auto controle de um grito ou um palavrão
Séci da um pulo do banquinho e vai ajudar sua mãe com as sacolas e caminha até a sala colocando tudo em cima do sofá.
- Mãe eu estou indo pró meu quarto ! - Séci da um grito já subindo as escadas, mas é interrompida por sua mãe que chega a porta da sala perguntando
- Christina você já comeu ?
- Sim
- Ótimo. O que você comeu ???"Ovos mexidos. Com sal. Gordura. Tempero. Fritura. Também fiz macarrão. Sabe aquela massa que engorda ? Então, essa. Tava ótimo. Eu que fiz" Séci jamais responderia isso, mas bem que pensou
- Um pouco de vagem refogada com arroz - ela respondeu quase sussurrando com a cabeça baixa. Se sua mãe olhasse em seus olhos ia saber que a filha estava mentindo.
- Excelente, precisa se manter assim se quiser arranjar algum emprego - a mae anda até a sala e se joga no sofá folheando uma revista de moda Italiana - Ninguém quer uma obesa desfilando na passarela
Séci continua parada na beira da escada mordendo o lábio e cutucando a cutícula. Como ela queria reunir coragem para dizer a sua mãe o quão esquelética se sentia nos últimos tempos, e o quanto gostaria de ganhar algumas calorias.
- Não é mesmo filha ?
- É...é sim mãe
Ela então sobe os últimos degraus deixando as palavras pairando sobre sua cabaça. Aquelas palavras não eram ela, e sim sua mãe.
A verdade é que em casa, Secilia Christina era privada de certos prazeres da vida, sempre fora. Graças a pressão de sua mãe querer dar a garota um futuro nas passarelas, Secilia fechou suas idéias em sua própia cabeça. O colchão macio é sentido debaixo de seu corpo e seus cabelos negros contrastam com a colcha branca. Fica por minutos a olhar para o teto cor de creme. Mas então ela viu. Ela encontrou a esperança. Em uma teia de aranha. Fina. Pequena. No cantinho da parede bem no auto. Certa vez alguém lhe disse que teias de aranha trazia esperança. Poderia ser bobeira, mas as palavras de seu pai ficaram gravadas em sua mente.
"Tão pequena, mas faz tanta diferença, é um milagre que um inseto tão minúsculo produza isso. Vem de seu próprio corpo, tecida com perfeita cautela. É um milagre acompanhado de esperança. A dupla perfeita"Séci não se lembra se a voz de seu pai era tão doce quanto ela se lembra. Mas uma coisa ela acaba de reparar. Tanto Dona Marta quanto seu Pai, que não estavam com ela agora. São lembrados com vozes de anjos
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A âncora
Historical Fiction"Sempre bonita, sempre bem arrumada, o mais perto possível da perfeição" era assim que Secilia pensava antes de sua reputação ir por água abaixo. Porem mesmo antes dos "contras", a imagem perfeita que a garota tentava manter era apenas uma mascara q...