Prólogo

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Não aguento mais esperar. Por quê tanta demora?  Meu Deus eu vou infartar! Caminho para lá e para cá. Vou fazer um buraco neste chão. Não me deixaram entrar. Disseram "Você não pode entrar srta."E eu rebati: "Por quê?" "Você...é... Está muito nervosa, pode assustar a paciente." Como se Gisele fosse se incomodar com minha presença no dia mais importante de sua vida! Eu deveria entrar lá... E, sei lá, eu só deveria entrar e pronto.
Hoje é o dia do nascimento da Rosemary. Rose, para os íntimos. Eu sou íntima! Afinal serei sua madrinha. Esperamos ansiosas por esse dia, nunca uma criança foi tão amada e esperada. E toda essa preocupação tem um motivo, Rose é uma menina muito especial. Ainda na gravidez descobrimos uma pequena anomalia em seu cromossomo 21, ela tem um a mais. Isso mesmo, Rose tem Síndrome de Down. Então nossos preocupações dobraram com ela e com Gisele, uma gravidez de risco. Por isso não há mais unhas nos meus dedos. Já faz mais de 45 min, lá dentro a mãe de Gisele está junto a ela. Seu pai também está aqui, na sala de espera, sentado mexendo sem parar as mãos. Nervoso como eu, só que sem os chiliques.
- Com licença.
Viro-me abruptamente pega de surpresa. O médico avalia-me.
- Você é algum membro da família? - Mas que?
- Eu sou! - Diz Sr. Johnson sem deixar eu falar.
- Olá como vai? - Diz sem presa o médico apertando a mão do pai de Gisele.
- Por favor, como estão Gisele e o bebê? - Interrompo-os impaciente, Sr. Johnson parece agradecido. O médico avalia-me mais uma vez.
Ele suspira, irritado com minha petulância.
- Ambas estão bem.
- Ai... - Suspiro aliviada. Eu o abraço, feliz demais para ligar para sua cara de reprovação.

Já faz nove meses desde a minha viagem à Nova York. Depois daquele domingo, não pude mais ficar naquele lugar, a cidade é maravilhosa, mas nela há lembranças dolorosas demais. No dia seguinte, comprei uma passagem de trem e voltei para o Alasca. Naquele dia eu não dei aula. Na verdade, não dei aula a semana inteira. Peguei uma virose daquelas, desta vez foi de verdade. Até hoje minhas costas doem. Mas o real motivo para isso tudo, foi que, eu não tive forças para suportar a dor que senti quando tive que afastar definitivamente aquele homem de mim. Eu me proíbo de pronunciar ou se quer pensar no nome daquele...daquele homem. Enfim, eu fiquei mal, perdi dois quilos, ganhei mais insônia e uma péssima cara de quem levou um pé na bunda, mesmo sendo ao contrário... Só que, "num belo dia", quando levantei da cama e olhei-me no espelho, fiquei assutada com o que vi. Aquela pessoa que me fitava de volta, não era eu. Era um ser moribundo, depressivo e fatigado. Não gostei nada daquilo. Então aos poucos criei coragem e tomei um banho, vesti roupas novas e dei um jeito nas minhas olheiras. Mas só quando subi nos meus saltos foi que me senti realmente eu mesma. Inabalável e impenetrável.
Eu havia deixado ele para trás, então porque não seguia em frente? Foi com esse pensamento que larguei a depressão e voltei à ativa. Claro que não com aquela vitalidade de antes, mas eu tentei e estou tentando. É isso que importa, certo?

Como Livrar-se DeleOnde histórias criam vida. Descubra agora