Transfusão

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HERMIONE


Tudo parecia tão irreal após acontecer que eu comecei a gostar de fingir que tudo não passara de um pesadelo.

A semana da vampirização, milha luta para conservar um tanto de humanidade, os momentos passados na Sala Precisa... nada disso me fez imaginar que eu seria capaz de fazer algo como o que fiz no dormitório da Torre de Grifinória.

Só sei que, no momento que me vi a sós com a assassina do irmão de Rony, a mulher que havia feito todos os Weasleys sofrerem além do imaginável, me entreguei completamente a um instinto que superou facilmente o de vampirizada. Sede, ódio e agonia se misturaram num turbilhão que me jogou para frente.

Tudo passou como num frenesi; eu quase não prestei atenção ao que estava fazendo... não me lembrava de nada.

A única prova do que eu fiz, quando terminei, eram um corpo estraçalhado e o líquido escarlate que cobria minha boca e minhas mãos.

Tão rápido como veio, o turbilhão desapareceu, deixando um vazio imenso em mim.

Eu fiquei sem reação por alguns segundos. Meus olhos ardiam enquanto eu encarava minhas mãos ensanguentadas.

Antes que eu sequer notasse, um soluço se formou em minha garganta.

A sensação de ter matado alguém me dominou por completo. Era esmagador e angustiante.

Mas havia sido justo... havia um motivo para ser feito...

Tinha que ter sido justo...

Balancei a cabeça. Justificado ou não, tinha sido horrível.

"Parabéns", minha consciência me puniu, amargurada. "Agora você é realmente um monstro".

A vampirização nunca foi um dos motivos. Vampirizada ou não, eu teria feito a mesma coisa. Eu teria vingado Fred. Teria vingado o sofrimento da família Weasley.

Mas o sangue que agora estava dentro de mim não era meu.

Me deitei no chão, abraçando meu corpo. Imaginei que a única sensação pior do que a que eu sentia naquele momento era morrer.

A porta do dormitório se abriu de novo. Levantei do chão quando Rony e um dos aurores da guarda entraram.

O auror não se demorou muito; apenas olhou pasmo para o corpo ao canto da cama de Harry, foi até ele, segurou-o e o levou para fora.

Rony trazia uma tigela com água e um pano nas mãos, que colocou no criado-mudo ao lado da cama mais próxima.

Abaixei a cabeça. Não queria que ele me visse. Não queria nem que chegasse perto de mim.

Mas não podia ter ficado mais aliviada quando ele abarcou meu corpo em seus braços.

– Hermione... - a voz dele estava angustiada.

Solucei de novo, indiferente ao que ocorria ao meu redor. Quando percebi, já estava sentada na beira de uma das camas. Rony tentava virar meu rosto para que eu o olhasse. Eu sacudi a cabeça.

– Hermione... por favor... olhe para mim.

Virei para ele, olhando em seus olhos. O que vi ali era uma angústia que eu definitivamente não esperava.

– Eu disse para você não fazer isso - sua voz quebrou na última palavra - falei que não precisava...

As lágrimas estúpidas que lutavam para sair de meus olhos finalmente escorreram.

Sangue e Alma (A Saga da Lontra) - Temporada IOnde histórias criam vida. Descubra agora