Já estou perto do meu destino. Rua 30, edifício 5. Residência de August Ólquine, famoso por suas peripécias no ramo da engenharia robótica.
Você deve estar perguntando-se qual o meu objetivo. Quero ser pinóquio. Se ele pôde passar de madeira esculpida para ser vivente, quero ao menos aproximar-me disto.
Eu quero sentir. Estou com defeito. Sinto inveja de quem pode sentir. Os conceitos do Sistema já não me bastam. Quero sentir. Quero ser capaz de proferir meu próprio conceito sobre o Azul e o Violeta, talvez o Vermelho também. Quero saber o que é frio. Quero sentir, pois estou com defeito.
Ele abre a porta. Me olha, de baixo à cima. Ele já viu que estou com defeito. Partes da minha superfície emborrachada já não existem mais. Tenho medo do que ele possa fazer comigo. Medo é coisa de quem tem defeito. Veja, já falo como defeituoso.
- August Ólquine. - digo com som rouco saindo de onde deveria existir uma boca, mas há apenas uma saída de som - Quero ajuda. Estou com defeito. Preciso sentir. Preciso ver. Não quero viver mais tempo. Não vivo, para dizer a verdade. Simplesmente existo. Quero ver o céu e sentir a matéria antes de deixar de existir. Estou com defeito.
- E porquê veio aqui? Sou aposentado, olhe no seu Sistema. - Ele expressa pouca confusão. Parte de suas feições indica irritação.
- Eu tenho sonhos. Não pertenço mais ao Sistema. Me ajude. Estou com defeito.

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Céu Azul
Short StoryO curto e reflexivo relato de um Andróide que tinha sonhos. Uma história que instiga a romper as barreiras do sistema que nos é imposto no dia-a-dia. Estamos todos com defeito.