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Assim que desci no ponto de ônibus, que ficava na porta da minha casa, corri para dentro aos berros.

— PAAAAAAAI?

— Que foi, Alice?

— Como o que foi? Cadê a carta?

— Boa tarde pra você também, filha — ironizou.

— Ah qual foi, senhor Raul. Tudo bem. Boa tarde. Desculpa. Agora, cadê a carta?

— Está na mesa da sala.

Fui correndo até a mesa, peguei a carta e abri.

Temos o imenso prazer em informar que você foi aceita...

— Aaaaaaaaaaaaaaaaah — gritei descontroladamente. — Consegui pai, eu consegui. Eu vou para Londres.

Corri até ele e o abracei. Mas ele não estava tão feliz quanto eu, e tentava esconder isso.

— Parabéns, Alice. Quando que é a viagem?

— Hmmm... — encarei o papel, buscando aquela informação. — Amanhã.

— Já?

Eu também não esperava que o embarque fosse tão rápido.

— É. Tenho que ir arrumar as malas, ligar para Lanay e ajeitar tudo.

— Mas e o passaporte? — sua feição era de pura tristeza.

— Já está tudo resolvido. Eu só tenho que arrumar as malas e ir. Até a passagem eles mandaram — peguei e mostrei para ele.

— Então é isso. Você vai mesmo, Alice?

— Pai, sabe que meu sonho sempre foi estudar fora. Ainda mais um curso que amo.

— Mas você sabe cozinhar muito bem. Não precisa fazer curso — ele suspirou.

— Pai, por favor. Sabe que quero fazer isso, porque a mamãe sempre me incentivou. Era o sonho dela também.

— Ela não está mais aqui. Não precisa mais fazer isso.

— O que quer dizer com isso? — questionei, incrédula.

— Sua mãe morreu! Sabe disso. Então pode esquecer essa história de Londres.

— Que? — solto uma risada nervosa. — E desde quando pode me proibir de algo? Pai, eu consegui essa viagem, por mérito meu, não precisei do seu dinheiro. Sou maior de idade, já posso responder pelas minhas atitudes. Então saiba que o senhor não pode e nunca poderá me proibir de ir para Londres.

Subi as escadas sem olhar para trás. A casa pequena, é composta por sala, cozinha e banheiro no andar de baixo. E no de cima, dois quartos e um banheiro. Também tinha um quintal com tamanho suficiente para se fazer um churrasco dia de domingo.

Joguei as coisas em cima da cama e rapidamente liguei para minha prima. Ela também esperava por um positivo.

— Lanay? E aí?

— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaah — ela gritou como uma louca. — Eu consegui, Alice, consegui. Espera, e você?

— EU TAMBÉM! Conseguimos Lany, vamos para Londres, fazer o que sempre quisemos.

— Sim. E ninguém nos impedirá.

— Bem — suspirei — meu pai achou que podia, mas eu disse umas verdades para ele.

— Alice, você já tem dezoito. Seu pai não pode mais te prender dentro de casa.

— Eu sei e ele não irá. A viagem é amanhã. Temos que começar a arrumar as malas.

— Vou fazer isso agora — ela disse, ainda dando uns gritinhos.

— É eu também. Mais tarde eu te ligo para combinarmos sobre amanhã.

— Está bem. Beijo.

—Beijo.

A viagem era amanhã, para um lugar insuportável de frio e eu só tenho uma miséria jaqueta jeans e alguns casacos. É nessas horas que eu queria ser podre de rica. Poder comprar tudo o que quisesse, sem se preocupar com a fatura do cartão, ir para onde eu quisesse, em um estalar de dedos e fazer intercâmbios, sem precisar de bolsa.

Peguei todas as roupas de frio possíveis e enfiei dentro de uma mala que eu tinha. Depois peguei uma mochila, coloquei umas outras roupas dentro. Apenas deixei uma calça, uma blusa de manga e a jaqueta jeans em cima da poltrona do quarto e um par de all-star.

O voo de doze horas para Londres, estava marcado para as onze da manhã.

Já passava das oito e eu não tinha comido nada. Havia ficado tão empolgada com a viagem, que não tive tempo para sentir fome.

Resolvi descer para fazer o jantar. Meu pai estava jogado no sofá assistindo um jogo qualquer de futebol.

Fui para cozinha e pus a água para esquentar. Depois que minha mãe morreu, ficamos apenas os dois. Ele vive muito solitário, o que me faz ficar preocupada em como ele vai se virar depois que eu for. Mas do jeito que a nossa vizinha Maria, se insinua para ele, tenho certeza de que ele não passará fome.

Fiz o macarrão rapidamente, preparei um molho branco que meu pai adora e joguei por cima. Coloquei a mesa rapidamente e o chamei.

Ele não olhou para mim, apenas colocou a comida dele e foi comer na frente da TV. Nem o questionei, apenas coloquei a minha comida e me sentei na mesa, sozinha.

Assim que acabei, lavei a montanha de louça suja que estava na pia e subi para o meu quarto. Peguei meu pijama e fui para o banheiro. Tomei um banho rápido, escovei os dentes e voltei para o quarto.

Liguei para Lanay. Tínhamos muito o que combinar.

— Alô? — atendeu.

— Oi Lany. E aí, já fez as malas?

— Já sim. Ocupei duas malas.

— Eu só tenho uma mala mesmo — dei de ombros — Mas já está pronta também.

— E como a gente faz amanhã? Se encontra direto no aeroporto?

— É melhor. Quem chegar primeiro espera na porta, aí entramos juntas, fazemos o check-in e embarcamos! — ela soltou um gritinho.

— Vou tentar dormir, porque não faço a mínima ideia se vou conseguir.

— Nem eu! Eu também vou. Boa noite e até amanhã.

— Boa noite.

Desliguei e cai na cama. Coloquei meus fones de ouvidos, para ver se conseguia pegar no sono. E até que foi bem fácil.

VIAGEM DOS SONHOSOnde histórias criam vida. Descubra agora