11. Xeque-Mate

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Depois que entramos no táxi, Clarissa continuava emburrada e eu não sabia o motivo. Eu sabia que ela estava com raiva porque balançava o pé sem parar e tamborilava os dedos,era assim que ela agia quando estava impaciente segurando-se para não falar alguma coisa, então resolvi perguntar, já irritada com aquele silêncio:

-Você quer me falar alguma coisa? Porque esse silêncio sem motivo não é nada esclarecedor!

-Sem motivo?? Haha você é engraçada. - ela disse com ironia na voz

-Não estou entendendo!

-Então deixa eu te iluminar: Sabe quanto tempo você me deixou completamente sozinha com aquele bando de gente esquisita? É claro que você não sabe porque estava muito ocupada deixando um cara completamente estranho morder a sua boca!!

-Ei, pera aí! Como assim um completo estranho? Era o Heitor que estava me BEIJANDO e você estava ciente que isso poderia acontecer!

-Não estava ciente não! Eu vim para você se divertir e encontrar um cara aparentemente legal,que eu não sei mas talvez em um FUTURO desconhecido você acabaria beijando! Mas eu não esperava que iria ser hoje e muito menos que você me deixaria 2 horas esperando!- ela disse praticamente gritando e apontando o dedo para mim. Eu estava perdida com aquela situação, não sabia se ria da cara de Clarissa ou dava razão a ela,porque afinal eu mal conhecia Heitor, e ela continuou:

-Será que você não pensou em como eu estava desconfortável no meio daquela gente? Eles estavam usando drogas do meu lado!- ela disse com terror na voz ao mesmo tempo que se cheirava para saber se estava fedendo à maconha. Naquele momento me senti mal por ela, e percebi que eu era egoísta, e ainda sou. Se está bom para mim eu não me incomodo se o mundo está entrando em colapso. Gostaria de mudar...mas algumas coisas nunca mudam.

-Eu só achei que você não ia gostar de ficar segurando vela.
- menti. Aliás, quando eu estava com Heitor eu não pensei em Clarissa nenhuma vez.

-Deixa quieto, não quero mais falar sobre isso. Você já é bem grandinha para fazer escolhas, certas ou erradas! Só espero que você não se arrependa delas.- ela parou um instante e depois retomou. - Eu só quero que você seja feliz,independente do que seu pai diga ou te obrigue a fazer, você não pode deixar que isso afete a sua sanidade e senso de auto-preservaçao! A única certeza que eu tenho é que você será ótima em qualquer coisa que desempenhar, sendo médica ou até mesmo professora! Porque eu sei e confio plenamente na sua capacidade. Eu te amo pirralha!- ela disse me agarrando de surpresa e pude sentir suas lágrimas em meus cabelos. Eu a abracei de volta e agradeci da mesma maneira que faço até hoje:

-Você é a melhor amiga que alguém poderia ter e a irmã que eu tive a chance de escolher! Eu que te amo Clá!- e choramos juntas até chegar em casa.

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Ao chegar em casa no dia seguinte fui recebida pelo próprio Dr. Pedro, que atendeu a porta na minha segunda batida.

-Bom dia Ana Lúcia! Como foi a sua noite? Cansativa?- disse com a calma fingida de sempre, ele estava no modo inquisidor.

-Bom dia papai,muito pelo contrário. Foi bem tranquila! -Uau! Eu estava ficando boa naquilo.

-Ah que bom! Nenhum de nós gostaria de perder um jogo de xadrez por causa de uma noite mal dormida!- ele estava certo,eu não havia dormido suficiente aquela noite e poderia deixar algum detalhe passar despercebido,ainda mais em um jogo de concentraçao como o xadrez.

-Pode ficar despreocupado! O senhor sabe que eu consigo vencer aqueles garotos até dormindo!

-Você está confiante! Nunca te vi assim.

Naquele Tempo...Onde histórias criam vida. Descubra agora