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"Quem é capaz de soprar a tristeza pra bem longe? Ninguém é."
- Charles Bukowski

A cocaína entra pelas narinas de Camila, ela está de olhos fechados e com a cabeça curvada pra aspirar o pouco do pó que restou em sua mão.

Em três minutos ela vai começar a sentir os primeiros efeitos da droga, a garota está bem ansiosa pra isso.

Cabello pega o pequeno envelope transparente e joga na lixeira preta, ao lado da escrivaninha.

Dois minutos.

Um minuto.

Pronto.

Camila não precisa fingir.

Ela agora é só mais uma drogada no Reino Unido.

Ninguém sabe que fazem dois anos que a garota usa entorpecentes.

Ninguém faz questão de saber, contanto que Camila continue cantando.

Camila é cercada de pessoas, mas na realidade nenhuma delas se preocupa o suficiente.

Ah, Camila sempre está sorrindo.

Camila deve amar a vida que tem, afinal quem não adoraria ser uma Cabello?

Eu queria ser como Camilla, essa garota é sortuda!

As pessoas só veêm o que querem ver.

E a tristeza é algo pra se ignorar.

Está nublado, em um parque não muito distante crianças estão brincando, elas estão sorrindo, sem saber o que a vida reserva pro futuro.

Sem saber que muitas delas irão ser só mais um número futuramente.

Um número de adolescentes que não querem crescer.

Um número de drogados do Reino Unido.

Dezenas de garotas estão se drogando.

Mas uma delas merece atenção, pois ela está chorando.

Ela sempre chora quando ninguém está por perto.

Ela não tem uma amiga, portanto ela enxuga as próprias lágrimas com a manga do casaco cinza.

A garota diz mentalmente "vai passar, vai passar".

É o mantra repetido todas as noites quando o efeito da droga acaba.

Seja lá o que for que Camila diz que vai passar, isso nunca passa, porque todo dia ela diz a mesma coisa com lágrimas escorrendo pelo rosto.

A garota vive um inferno rotineiro, e ela está certa em acreditar.

Porque de fato vai passar Camila, vai passar.

graffiti » camren.Onde histórias criam vida. Descubra agora