graffiti » camren.

t w e n t y n i n e

"Nossas vidas não são tão diferentes, embora a gente goste de achar que são."
- Charles Bukowski

Elas estão debaixo do viaduto.

Lauren está grafitando.

Nada de arte suicida, nada de lágrimas, apenas algo que eu não é possível entender, arte abstrata.

Os sentimentos confusos de Lauren colorem a parede.

Camila está um pouco mais distante, com umas cinco folhas de caderno.

Ela escreve em desespero, como se aquelas fossem suas últimas palavras antes da morte. Mas não são, Camila Cabello está mais viva do que nunca.

Camila escreve sobre sentimentos, é uma forma bastante inteligente de lidar com os seus.

O celular da filha dos ex-cantores toca, nada de música conhecida, apenas um toque padrão. Porque na realidade Camila não consegue se expressar e não se importa com a música, ela não consegue admirar cantores da mesma forma que admira poetas.

Ela põe o celular na orelha e em minutos se transforma.

Rasga as folhas de caderno com violência, levanta e sai do viaduto, esbarrando em Lauren, que quase cai.

Camila não é Camila.

Ela está transtornada.

Ela não quer gravar mais álbuns, ela não quer fazer shows, ela não quer ser pressionada por Sinuhe, a mãe desumana.

Falta humanidade no coração dos Cabello, porque o que destruiu a humanidade deles foi a fama, de gota em gota o copo foi ficando cheio de ganância.

Os Cabello foram bons um dia, mas agora o copo está cheio de ganância, a ganância cai do copo.

Transborda.

Eles já tiveram a capacidade de amar, mas numa realidade distante.

Camila passara seus 10 últimos anos se sacrificando pela felicidade de seus pais.

Porém ela não é nenhuma heroína de história em quadrinhos, ela precisa ir em busca daquilo que de fato ama fazer, ou começará com o processo de autodestruição.

Camila sai do local sem falar nada e Lauren acha estranho, sai correndo atrás de Camila.

— Camila! O que foi? Ei, espera! - Ela grita.

Então Cabello se encosta numa árvore e suspira com a expressão de dor.

Camila precisa de uma boa dose de cocaína.