70 anos CRM

320 28 14
                                    

|Jennifer|
-Não,obrigada. Não quero.-disse
-jenny-ele pegou minha mão,e um frio percorreu pela minha espinha.-não precisa ter vergonha de compartilhar as coisas,eu estou aqui para ajudar!
"Sei disso",queria dizer a ele,"sei também que estou tendo pesadelos malucos,e quase todos eles envolvem você."
Óbvio que eu não falei aquilo. Em vez disso,fingi um sorriso e disse:
-estou bem dani. Sério. Só tive um pouco de insônia,nada demais.
"Mentira,Mentira,mentira!",meu cérebro martelava.
-hoje teremos visitas!-falou.
-de quem?
-esse ano a clínica completa 70 anos!-Daniel explicou enquanto colocava panos brancos por todas as mesas,e enfeitava a sala.
-70 anos?não achei que fosse tanto tempo!-brinquei.
-quer me ajudar a perder esse cartaz?-ele pegou uma cartolina e desembrulhou,revelando um grande papel escrito "CRM 70 anos". Fiquei com vontade de perguntar o que essa sigla significava,mas me conti.
-claro.-pegamos um de cada lado do cartaz e prendemos bem na entrada.
-espera,ta um pouco amassado aqui!-ele disse vindo do meu lado e perdendo-o mais forte e fazendo sinal para que o ajudasse a prender novamente,Quando fui puxar o cartaz nossas mãos se encostaram:
-desculpe.-falei,tirando rápido a mão,mas ele sorriu:
-não tem problema,sei que a minha mão é irresistível às vezes-piscou e eu o empurrei de leve
-ata! Você fala como se fosse o cara mais atraente do mundo!
-o mais atraente eu não diria,mas vai negar minha beleza?-sorriu de canto
"Ah.....esse sorriso. Puta que pariu,quer me matar aqui?!",mas logo afastei esse pensamento.
-fala sério.-virei o rosto para que ele não me visse corar. Daniel riu,e voltou a enfeitar as paredes.
{...}
Eu não dormi mais. Fiquei com medo de ter mais um daqueles pesadelos malucos,e permaneci o resto da manhã acordada,trancafiada no quarto,olhando as paredes cinzas quase sem tintas do quarto. Daniel e os outros enfermeiros haviam me dito que todos os pacientes deveriam ficar no quarto enquanto eles arrumavam tudo,para a chegada da dona da clínica e sua equipe. Ele me disse que seriam apenas 1 hora no quarto,mas já tinham se passado 2,e ainda estávamos confinados e proibidos de sair.
-que saco!-gritei jogando uma almofada na parede. Levantei e andei de fininho para fora do quarto.mesmo sabendo que era proibido,eu não agüentava mais ficar naquele quarto sem nada para fazer!
-infringindo as leis?-pulei de susto ao ouvir uma voz atrás de mim. Era uma menina,de cabelo castanho crespo,preso em um coque,uma jaqueta preta sombria,e várias tatuagens estranhas pelo corpo. A iluminação era pouca no corredor,mas eu podia sentir que ela estava sorrindo.
-relaxa loira,não vou contar que te vi aqui. Afinal,eu também estou aqui não é?
Não respondi,ainda estava me recuperando do susto.
-ah,meu nome é Milena,mas a maioria das pessoas me chama de destruidora.
-meu nome é Jennifer-falei meio sem jeito-porque te chamam de destruidora?
-talvez porque eu posso arrancar sua cabeça,quebras seus ossos e comê-los no jantar depois.-sorriu,e eu engoli um seco-não que eu vá fazer isso,óbvio.
Respirei,aliviada. Milena estava só brincando.
-eai,porque veio parar aqui?
-hum.....eu meio que não sei.
-qual é,todo mundo sabe. Por exemplo,meus pais achavam que eu era agressiva demais porque vivia batendo nos meninos da minha antiga escola,e acharam que me mandando para cá eu iria deixar de ser assim.
-e você deixou?
-tenho cara de princesa encantada,que ama animais e sonha em conhecer seu príncipe encantado?-perguntou sarcástica
-não mesmo.-sorri.
-acho que o maior motivo de ter vindo parar aqui é que......eu meio que tentei....-engoli um seco novamente,e Milena me olhou desconfiada:
-você não tentou matar ninguém,né?
-o que?claro que não!! Eu....tentei me suicidar.
-ah.....seus pais resolveram que se recuperar aqui seria uma boa?-perguntou,como se o que eu tivesse acabado de falar fosse totalmente normal.
-minha mãe. Meu pai é um alcoólatra idiota que não liga para o que acontece ou não comigo.
-minha amiga era alcoólatra também. Ela morreu de overdose.
-credo!que horror!
-as últimas palavras dela foram "vou morrer bêbada,mas vou morrer feliz"
-nossa. Que profundo.-falei sem conseguir conter um risinho,e ela riu junto
-ela era doida mesmo.
Rimos de novo.

Sala 121Onde histórias criam vida. Descubra agora