"Ondas mortais me envolviam, torrentes destruidoras me aterravam, cercavam-me laços mortais, as ciladas da morte me atingiam. No meu aperto invoquei a Javé, ao meu Deus lancei o meu grito."- Salmo 18
Uma e meia da manhã, sob o véu da escuridão, Safira caminhava a passos apressados, temerosa. Acabara de sair do trabalho e se sentia como um filhote vagando pela floresta, cercada por lobos famintos. A diferença era que a floresta era de concreto, os lobos eram criminosos que poderiam surgir a qualquer instante e ela o filhote, prestes a ser devorado por um predador qualquer. Uma tola que, desesperada, aceitou o primeiro emprego que apareceu.
Alguns quarteirões andados e lá estava o primeiro lobo, à uns cem metros de distância, fumando sabe-se lá o que. Safira mudou seu trajeto e virou à esquerda ao invés de seguir em frente.
Queria se distanciar ao máximo do cara, então pôs se a correr.
Seu alarme de perigo estava disparado. Safira já podia sentir a familiar onda de calor à envolver, algo que sempre julgou ser proveniente da presença de seu falecido pai.
Nas noites em que a tristeza e a saudade de sua família eram insuportavelmente dolorosas, esta presença surgia e a envolvia, acalentando seu pobre coração.
"Vire á direita."
Safira espantou-se ao ouvir a ordem.
Se fizesse isso estaria se distanciando de seu ponto final, e aquela, sem dúvida alguma, não era a voz de seu pai. A voz de seu pai era grossa e seu tom era suave, aquela era jovial e exalava firmeza.
Sem pensar duas vezes, confiando cegamente, ela virou. Safira estava, inconscientemente, abandonando seu lado racional.
O marginal viu, no último instante, quando ela virou à esquina às pressas e a seguiu.
Na cabeça da infeliz garota rodavam flashes com o desfecho daquela situação tensa e desesperadora, e terminaria com seu corpo sem vida, na calçada de uma rua qualquer, de uma cidade que ela sequer gostava.
Safira sentiu uma explosão de perversidade e ódio atrás de si se manifestando através de uma ameaça ininteligível.
"Foco, não pare de correr".
Para Safira, parecia estar correndo à horas. Os passos atrás de si continuavam acelerados e ritmados. Ela estava aflita e cansada.
"Continue correndo", ordenou a voz desconhecida.
Por um breve momento, Safira pensou na estranheza da situação. Aquela voz, não estava sendo capturada por seus ouvidos, ela estava na sua cabeça, porém o medo que sentia calava todo e qualquer pensamento ou emoção.
Ouvindo um grunhido de seu asqueroso perseguidor, um grito de socorro rompeu de seus lábios, subitamente.
Ela corria o mais rápido possível, mas não seria o suficiente para livrá-la do que estava por vir.
Safira estava perdendo o fôlego, suas pernas vacilavam. O momento derradeiro em que a mocinha cai, ficando a mercê do vilão, estava prestes à acontecer.
Sempre focada nos estudos, em busca de um futuro estável, poucas vezes havia praticado esportes, desconhecendo assim seus limites físicos.
Quando tinha treze anos, Safira e sua família sofreram um acidente na serra paulista, seus pais faleceram na hora, deixando seus corpos irreconhecíveis. Apenas um monte de carne, ossos e tecidos, compressados por metal. Ela ficou hospitalizada por alguns dias.
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O Toque Da Morte
FantasyCom a tensão de uma perseguição pelas ruas de São Paulo, Safira, prestes a ser violentada por um marginal, é salva por um belo e misterioso rapaz. Retomando sua vida após o incidente, Safira não consegue deixar de pensar no rapaz que a salvou. Logo...