7. Normalidade

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Depois de passar horas andando de loja em loja, Safira e Kyra foram a um bar que costumavam frenquentar. O deck estava cheio, todas as mesas e cadeiras ocupadas, exceto por uma que havia apenas uma pessoa sentada. Ethan.

Safira e Kyra se entre olharam.

— Você se importa ? — Perguntou Kyra.

— Você o conhece? — Perguntou Safira.

— Eu pretendia te contar dias atrás, mas me vi preocupada com você e acabei me esquecendo.

— Estou esperando. — Disse Safira chateada com a amiga.

Sabendo que eram ouvidas, Kyra pesou suas palavras e disse:

— Eu o conheci há uns quinze dias. — Enquanto falava, Kyra sorria e digitava algo no celular. — Nós trocamos algumas palavras e...

— Palavras? Sério Kyra?!

Kyra cutucou discretamente a amiga para que ela olhasse a tela do celular.

FOI INCRÍVEL!!! DEPOIS TE CONTO. E A PROPÓSITO, ELE É UM VAMPIRO. :-p

Safira arregalou os olhos e colando sua boca no ouvido da amiga, cochichou:

— É seguro?

Kyra riu diante da pergunta.

— Sim, a menos que considere assédio,  um perigo.

Agora foi a vez de Safira rir.

— Então vamos.

Elas ziguezaguearam entre as mesas e pararam diante de um Ethan sorridente.

— Olá. Como vai ? - Cumprimentou Kyra.

— Bem obrigado.

— Oi. — Cumprimentou Safira timidamente.

— Oi. — Respondeu Ethan. —  Fiquem a vontade. — Pediu indicando as cadeiras com ambas as mãos.

— Senhoritas. — Cumprimentou Gean, o garçom careca, ao qual apelidaram carinhosamente de Micael Kayle — Já sabem o que vão pedir?

— Um suco de laranja, por favor. — Pediu Safira.

— Eu vou querer o de sempre.

— Mudei de ideia, quero experimentar esse tal drink Ruby.

Pedidos anotados, o garçom se afastou.

— Então quer dizer que agora você vem sempre aqui ? — Peguntou Kyra.

— Sim. Me acostumei ao local, as pessoas que o frequentam. —  Declarou intensificando o seu olhar sobre Kyra, que conteve o sorriso mordendo o lábio.

— Bom, deixa eu te apresentar. — Disse indicando Isabelle que estava absorta a movimentação. - Esta é Safira, minha amiga.

Ethan estendeu a mão e Isabelle aceitou, sem se incomodar com o toque frio que aliás era muito frio, mas trouxe certo frescor àquela tarde quente.

Muito prazer, Safira.

— Ainda não sei se digo o mesmo. — Disse arqueando as sobrancelhas.

Ethan riu.

— Atrevida sua amiga, hein Kyra?!

— Ajudaria se você parasse de encará-la como se ela fosse seu jantar.

Ethan soltou uma gargalhada sonora e levantou as mãos em sinal de rendição.

O garçom voltou com os pedidos em sua bandeja, os depositou na mesa e saiu.

— Safira, o Ethan chegou recentemente a cidade, ele é da França.

— Impressionante. —  Safira fransiu as sobrancelhas verdadeiramente surpresa por não notar nenhum vestígio sequer de sotaque.

— Ele diz ser fluente em várias línguas. — Disse Kyra.

— Quantas?

Meio sem jeito, Ethan respondeu:

— Todas. — Deu de ombros como se querendo se desculpar.

— Então você aproveita sua imortalidade com coisas úteis?  — Perguntou Safira.

— Sim. Conhecimento é algo de grande valia, e um bem que não pode ser roubado.

— Concordo plenamente.

— De que região da França você veio? — Agora foi a vez de Kyra.

— Champanha-Ardenas, da cidade de Reims, mas sou natural de Marselha, que fica no sudeste da França.

— Sempre que penso em Provença, me vem a cabeça plantações de lavanda. O aroma, suas flores, a cor. — Disse Kyra com o olhar perdido em lembranças.

— Na cidade em que eu morava, tem uma estação de trem que é uma réplica da estação de Maselha, destruída na guerra. — Disse Safira relembrando o estado de completo abandono do local.

— Vocês já foram para França?

— Eu nunca, mas Kyra vai com frequência.

— Não faça biquinho! Sempre te convido e você sempre recusa.

— Uma crueldade de sua parte sabendo que não tenho condições financeiras para tal.

— Você é uma orgulhosa,  isso sim. — Kyra se virou para Ethan e explicou — Minha família mora em Versalhes. Meus avós na verdade.

— Interessante. Agora mudando de pato para ganso, você, Safira é uma mortal que conhece o mundo das sombras, cuja amiga é uma bruxa? - Perguntou Ethan.

- Sim. - Respondeu Safira.

- Não. - Disse Ethan pensativo, encarando Kyra. - Não é só isso, mas eu não meto meu nariz onde não sou chamado. - Concluiu sorrindo,  desinteressado.

Depois de duas horas de conversa descontraída e bem humorada, Safira e Kyra voltaram para casa.

Em seu novo, amplo e sofisticado quarto, Safira colocou sua bolsa, a caixa e as sacolas sobre a cama, foi para o banheiro onde tomou uma longa e relaxante ducha.

Ao sair se sentou ao lado da caixa.  Nela havia fotos de sua família, e algumas das jóias de sua mãe. Tirou de lá uma tornozeleira de ouro com vários pingentes e a vestiu.

Ao cair da noite as amigas se sentaram na varanda. O final de semana prolongado estava chegando ao fim.

— Seria ótimo se toda segunda-feira fosse feriado, ou parte do fim de semana. — Comentou Safira chorosa.

— Mas aí a terça seria a nova segunda-feira.

— É verdade. E por falar nisso, acho melhor eu ir me deitar. Morando aqui vou ter que acordar mais cedo, são dois ônibus a mais para pegar.

— Nem pense nisso, mocinha! — Exclamou Kyra exasperada. — Marcos vai te levar e buscar. Não me olhe com essa cara, não é uma oferta, é uma ordem.

Safira ficou sem reação diante da repentina irritação de Kyra.

— Tudo bem. — Disse Safira caminhando em direção a porta. Kyra a seguiu. — Obrigada por tudo que tem feito por mim, Kyra. — Agradeceu abraçando-a.

— Mais que amigas, lembra?

— Sim, maninha.

— Meu pai ligou ontem. Você tem uma entrevista de emprego marcada para sexta-feira às nove da manhã.

Safira se alegrou com a notícia.

— Obrigada amiga.

— Disponha. Deixei o endereço com a Rosa. Chegando lá, você vai procurar pela Karina, ela vai te dar um cargo.

Safira bateu palmas eufórica. Tudo parecia estar entrando nos eixos.

O Toque Da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora