I. Prólogo

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Vestida totalmente de preto, meu humor está tão sombrio quanto o céu nublado. Sinto-me completamente destruída, com olheiras profundas após quase um mês sem dormir bem. Sentada ao lado de minhas malas na frente do abrigo, espero que meu tio finalmente tenha a boa vontade de me buscar. Não sei nada sobre ele, nunca conheci a família da minha mãe, que ela sempre evitava mencionar, e para piorar, não falo alemão. Não sei nada sobre a Alemanha, nem para qual cidade vou. Tudo isso me causa um pânico horrível. Sou tirada dos meus devaneios por uma voz imponente e rouca.

— Estefânia?

— Oi — respondo, levantando-me rapidamente ao perceber sua presença. Fico impressionada com a beleza dele e sorrio sem que o sorriso alcance meus olhos, apenas para ser gentil.

— Vamos logo. Quero estar em casa e sair deste país ridículo. Não me lembrava o quão eu odiava estar aqui. — fala alto, sem se importar se alguém o ouve.

— Ok — respiro fundo, tentando não ter opiniões preciptadas sobre ele, porém já o odiando.

Ele pega minhas malas e as leva até um carro todo preto, cujo modelo não reconheço. Observo-o colocar minhas malas no porta-malas, abro a porta do carona e entro. Ele entra no carro, olha para mim por alguns segundos com uma expressão severa, e um calafrio percorre meu corpo.

— Se retire agora e vá para o banco de trás. Não seja insolente, sua mãe não te ensinou os principios basicos da edução de nossa familia? Vejo que vou ter muitos problemas com você. — Falou rispido. 

Assustada com a reação dele, abro a porta do carro e a fecho com toda a minha força, fazendo um estrondo. Entro novamente, desta vez no banco de trás, e coloco o cinto. Fecho a porta sem cuidado e pego meu celular no bolso da calça, começando a conversar com algumas pessoas por um app de mensagens. Sinto o olhar dele sobre mim, o que me deixa inquieta, mas não levanto a cabeça. Mantenho meu foco no celular até que acabo pegando no sono.

Não sei quanto tempo depois, percebo uma movimentação e vejo um rapaz carregando minhas malas para um avião de porte pequeno. Meu tio me manda sair do carro e subir no jatinho. Oh, meu Deus, ele deve ser rico! rico não, ricasso! 

Suspiro em pensamento e subo no jatinho, que é muito mais bonito e chique que minha casa. Não éramos muito pobres, mas não havia luxo; meu pai trabalhava na construção civil e minha mãe lecionava história, uma tipica familia brasileira classe média. Sento-me na poltrona, imaginando como seria voar no jatinho. Percebo que meu tio se senta ao meu lado e não tira os olhos de mim, ainda com o celular nas mãos. Ignoro-o, observo a porta do jatinho se fechar e escuto uma voz suave dizendo como proceder no avião e que vamos direto para nosso destino, Baden-Baden.

O avião começa a deslizar na pista e sinto um pouco de medo, mas nada muito forte. Desligo o celular e foco numa mancha qualquer qualquer que logo desaparece. Meu corpo está tenso como nunca antes, o que é ruim já que estar presa numa cadeira não ajuda a relaxar. Sinto a pressão e meu corpo é puxado para trás com a decolagem do avião. Lembro que meu tio esta ao meu lado e simplesmente travo. Não sei como reagir. 

Enquanto o jatinho ganhava altura, deixando a paisagem familiar cada vez mais distante, uma sensação de incerteza e medo misturava-se com uma curiosidade crescente sobre o que o futuro me reservava. As nuvens espessas abaixo pareciam um mar desconhecido, que eu não sabia como navegaria, mas eu não teria escolha, ou remava ou morreria afogada. Olhei para meu tio, cuja expressão impenetrável escondia segredos que eu estava prestes a desvendar. Sem perceber, uma decisão silenciosa tomou forma em meu coração: eu enfrentaria esse novo mundo com coragem, desvendaria os mistérios da minha família e encontraria meu próprio caminho, por mais desafiador que fosse. Era o começo de uma jornada que mudaria minha vida para sempre.

Meu Tio Dominador (REPUBLICAÇÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora