4. The Beginning

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Eu geralmente evitava os vestiários assim como uma atriz de Hollywood evitava Fast Food.

Fazer educação física e assistir garotos normais se trocando já era tentador o suficiente... A ideia de atletas ficando pelados, correndo pelo vestiário acertando toalhas molhadas uns nos outros, se ensaboando debaixo dos chuveiros quentes... Na linguagem gay, isso é equivalente a como os garotos imaginam as garotas nas festas de pijama.

Harry apareceu usando a mesma jaqueta do time e sua camisa branca colada em seu peito devido ao corpo molhado, com a mochila jogada sobre um dos ombros, o cabelo molhado e liso penteado para trás e um cheiro refrescante de desodorante. Aquela foi a coisa mais excitante que eu já tinha visto. "Está me esperando há muito tempo?" Ele perguntou ao me ver, parando na minha frente.

A vida toda.

"Não muito," menti, tentando respondê-lo de forma casual para não demonstrar o cansaço de tê-lo esperado por quase meia hora.

Ele riu como se eu tivesse feito algum tipo de piada interna que só ele entendeu. "Você deveria ter entrado," ele disse enquanto tirava a chave do carro de dentro do bolso da jaqueta e destravava o alarme.

"Huh, não, obrigado," respondi, tentando não parecer tão óbvio com minha recusa. "Quero dizer, estava bem aqui fora."

Ele olhou para mim sobre um dos ombros e sorriu. "Certo. Esse é o meu carro." Ele parou de frente para um Mustangue amarelo que praticamente escorria dinheiro.

"Belo carro," eu disse enquanto entrava pelo lado do passageiro, aterrorizado com a ideia de estragar o carro de alguma forma com minhas inabilidades motoras. Ele jogou sua mochila no banco de trás e pulou para dentro, sentando-se no banco do motorista.

"Obrigado. Eu ganhei de aniversário," ele contou em um tom animado. Então, com uma voz mais mais baixa, ele continuou. "Meu pai é dono de uma concessionária, então ele escolhe um carro novo todos os anos." O brilho em seu rosto pareceu desaparecer, como se ele não tivesse feito nada de tão importante para ganhar aquele presente. Ele girou a chave e o carro rugiu como um tigre feroz. De repente pensei que aquele era o carro perfeito para ele. Era másculo, claro, e sofisticado ao mesmo tempo. Olhar para ele com as mãos no volante, me olhando com o canto dos olhos e sorrindo... Era como se eu estivesse olhando nos olhos de um deus do sexo.

"Algum problema?" ele perguntou ao ver que eu estava encarando-o.

Abaixei a cabeça rapidamente enquanto assentia, totalmente constrangido. "Huh, sim, apenas um pouco cansado, eu acho." Respondi, fingindo o pior bocejo na história das imitações.

"Ei, se você estiver muito cansado para fazer isso, podemos deixar para outro dia," ele murmurou em um tom preocupado.

"Não!" Respondi o mais rápido que consegui, observando-o sorrir para mim novamente. "Quero dizer, eu estou bem. Vamos logo."

  Percebi que eu era péssimo em mentir.  

"Se você diz," ele deu de ombros, jogando o assunto para trás e dando partida no carro. 

Enquanto ele saía do estacionamento da escola e entrava na avenida, me perguntei se estava ciente do que eu estava fazendo. De repente a realidade dos fatos me acertou em cheio como um soco no estômago e me fez acordar. Eu estava mesmo indo para a casa dele? Eu tinha aceitado ensiná-lo história? Eu tinha feito um amigo? O que significava tudo aquilo? Tentei não pensar em nada de ruim, como o destino me trapaceando e me esperando para rir na minha cara. Tentei também não panejar nada ou me animar com a situação. Não queria criar esperanças. Harry é hétero. Ele não é meu amigo. Ele só precisa da minha ajuda para estudar.

Ponto.



Boys Don't CryOnde histórias criam vida. Descubra agora