Passaram-se mais de vinte minutos até que nós finalmente tivemos força o suficiente para nos levantarmos e irmos para a minha cama. Apesar de Harry ser maior do que eu, ele se apertou contra mim o máximo que pode. Havia algo nele que estava doendo e isso me fez esquecer da minha própria dor no mesmo instante. Talvez porque, em minha mente, ele era algum tipo de super heroi na escola, e o pensamento de um leão chorando por ter pisado em um espinho era demais para mim. Talvez era porque bem no fundo eu sabia que ele era uma pessoa melhor do que eu, o que significava que sua dor era mais importante do que a minha. Talvez era porque era mais fácil focar na dor de outra pessoa do que na minha.
Ou talvez porque quando ele se machucou, eu senti uma dor horrível em meu peito.
"Eu agi como ele," ele disse, sua voz baixa e arrastada. "Eu agi como meu pai quando ele grita com a minha mãe." Um silêncio seguido de um soluço preencheu todo o quarto, me fazendo saber exatamente como ele se sentia porque eu fui tratado daquela forma a vida toda. Era como se naquele momento tivéssemos nos tornado um só, os dois compartilhando da dor um do outro. Eu o apertei com força, forçando-me a acreditar que ele era uma pessoa real e não uma ilusão da minha cabeça.
"Está tudo bem," eu disse, soando mais miserável do qualquer outro ser humano na face da terra.
Ele olhou para mim, seus olhos vermelhos e marejados. "Não, não está." Ele agarrou minha camisa. "Eu não quero acabar como ele, Louis, eu não quero nunca acabar como ele." Sua cabeça se afundou em meu peito e suas palavras foram substituídas por um choro.
Eu sabia como ele se sentia.
Se eu tivesse que escolher entre ser pego por um grupo de canibais que estavam prontos para me devorar ou crescer e ser como a minha mãe, eu começaria a me temperar para facilitar o cozimento para eles. Eu me lembro de ver os ecos do que Harry talvez se tornaria na noite em que eu vi seu pai bêbado, seus olhos profundos me encarando, me julgando e imaginando como a minha vida era. Eu consigo ver como Harry se tornaria se ficasse como ele; irritado, amargo, seus dias cada vez mais horríveis, sua fama na escola ficaria para trás como a única coisa boa que ele havia tido na vida. Silenciosamente implorando perdão do purgatório que ele mesmo criou.
"Você não é como ele," eu menti, sabendo que aquilo era o que ele precisava ouvir. Eu sei porque era o que eu queria ter ouvido a minha vida toda, que eu era mais do que a soma de toda a minha genética hereditária. Que eu não estava condenado a ser como a minha mãe, a olhar o espelho e ver alguém que não era eu me olhando de volta.
"As vezes eu o odeio tanto," ele disse, se encolhendo contra mim, nossas pernas entrelaçadas como se nos mantermos perto daquela forma ainda não fosse suficiente. "Eu o ouço no andar de baixo e eu sinto essa raiva dentro de mim... E eu só quero..."
Senti seu corpo ficar mais tenso e de novo eu sabia como ele se sentia, e diferente dele, eu tinha palavras para definir aquilo. "Você só quer correr para fora do seu quarto e começar a gritar até que calem a boca," eu disse enquanto imaginava aquelas coisas. "Você só quer bater neles de novo e de novo. E não quer que eles morram, porque se eles morrerem, então eles não vão sentir mais nada. E se eles não sentirem nem um pouco da dor que te causaram, então qual é a graça?"
Pude sentir algumas lágrimas escorrendo por meu rosto enquanto eu olhava para o teto, afastando as imagens de minha cabeça. Ele se moveu sobre mim, seus olhos refletindo o horror que ele estava sentindo. "É assim que você se sente?" ele perguntou.
Senti meu rosto queimar enquanto eu assentia.
"Oh, Lou," ele disse e me puxou para um abraço mais apertado. "Eu nunca quero te machucar," ele disse enquanto eu sentia os machucados recentes em meu coração começarem a sangrar. "Eu prometo que nunca vou te machucar."
E ele estava falando sério, eu tenho certeza que sim.
Essa é a coisa engraçada sobre carros e adolescentes. Eles nunca querem te machucar quando batem, eles apenas machucam. É um risco que sabemos quando começamos a lidar com coisas que foram feitas para correr. As vezes você será terrivelmente machucado.
"Eu não falei sério antes," ele disse enquanto seus braços tentavam me proteger do mundo ao nosso redor. "Eu não falei sério com aquele 'o que você estava pensando quando se aproximou da mesa, porque você não merece estar lá'. Eu quis dizer, o que estava pensando quando fez aquilo sabendo que Liam estava lá?"
Senti minha mente se retorcer com a ideia de que eu estava completamente errado sobre ele.
"Ele é um completo babaca. Ele vive para fazer aquele tipo de merda. Eu achei que todo mundo o conhecia e por isso ninguém nunca tentava sentar com a gente."
Mentalmente me xinguei por todas as coisas ruins que pensei sobre Harry enquanto estava com raiva. Todas as vezes em que eu achei conhecê-lo, ele jogava algo que eu ainda não sabia contra mim e me fazia sentir um completo idiota.
"Eu quero que venha se sentar com a gente amanhã," ele disse, me afastando um pouco de modo que pudéssemos nos olhar.
"Não," eu disse, balançando a cabeça rapidamente. "Eu ia te perguntar uma coisa," murmurei enquanto tentava afastá-lo de mim.
Suas mãos seguraram meu rosto e me fizeram ficar parado enquanto ele disse em uma voz calma, "eu falo sério, eu quero que se sente com a gente e veja que não somos os babacas que todo mundo pensa que somos."
Eu ainda não tinha parado de balançar a cabeça.
"Louis, eu estou falando sério." Sua voz ficou mais grave, me fazendo arrepiar. "Por favor, sente-se com a gente amanhã na hora do almoço."
Minha cabeça parou de se mover.
"Sério?" eu perguntei.
Ao invés de responder, ele me beijou. Foi muito melhor do que se ele tivesse respondido um sim.
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Boys Don't Cry
FanfictionLouis sempre trabalhou duro para ser o estudante invisível, isolando-se na escola e evitando ser notado pelos outros alunos. Harry é o capitão do time de futebol e o centro das atenções por onde quer que passe. Os dois garotos estão quebrados de for...