O passado sempre persegue

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O dia já clareava, os sons dos pássaros já avisavam que os raios solares elevavam a temperatura da manhã.

Os primeiros feixes de luz ultrapassaram a janela e vieram de encontro aos meus olhos, fazendo com que me acordasse.

Encosto a minha cabeça na janela e escuto a própria se estalar, esta casa é praticamente um paraíso, mas não está em boas condições, percebo isso olhando o quarto em que estamos, os papéis de parede estão se soltando, a pintura descascando e a madeira já tomada por cupins.

Tento me mover, mas Sarah está com a cabeça sob minha barriga, retiro o peso do meu corpo encostado na janela evitando barulhos, pois gostaria que minha irmã aproveitasse a cada segundo que temos aqui, simplesmente não sei quando teremos um momento assim novamente.

Ontem estávamos tão felizes que fomos dormir tarde, devido as inúmeras conversas, enquanto estávamos comendo o quanto podíamos de biscoito com geléia de morango. Sei que não estávamos totalmente seguras, porém pela primeira vez tivemos uma noite de sono sem nos preocupar com o perigo lá fora.

Acabamos dormindo no recanto próximo a janela, não me lembrava muito bem como era bom dormir encima de um colchão.

Junto as duas cobertas velhas sobre os ombros de Sarah e em volta do meu pé para esquentá-lo, acredito eu que a noite foi um pouco mais fria, mal vejo a hora de todo esse calor desaparecer, acho que o outono está se aproximando

Tento me aconchegar em uma posição e esperar que Sarah acorde espontaneamente, para tomarmos o nosso café. Olho através da janela e vejo a pereira no quintal carregada de frutas, vejo alguns esquilos nas árvores atrás da casa, mas fixo o meu olhar num ponto qualquer e acabo esquecendo tudo a minha volta para me lembrar do dia em que tudo aconteceu.

Não me lembro a data exatamente, mas sei que era de manhã...

***

Sarah como sempre acordava primeiro, e começava a fazer barulho para que eu acordasse também. Sempre fingia que estava dormindo, para que ela não começasse com as suas inúmeras perguntas, nas quais algumas delas eu nem mesmo sei responder.

Lembro muito bem do nosso quarto pintado de rosa claro, a mesa com o computador, os meus livros jogados no chão como de costume, uma grande janela de frente pra rua e o closet onde sempre dizia a Sarah que existia ali um monstro pronto para devorar criancinhas que falavam demais, esta era a razão que do lado da cama da minha irmã, era repleto de animais de pelúcias, tinha medo de dormir no escuro, a psicóloga aconselhou a minha mãe comprar os animais de pelúcia para que transmitisse Sarah mais segurança, felizmente ela não me dedurou para mamãe, pois prometi a ela que daria metade dos doces que conseguisse no Halloween.

No dia em que tudo aconteceu, acordei com uma forte dor de cabeça, como de costume imaginei que estivéssemos atrasadas para ir à escola, mas não nos importávamos, pois como de costume esperávamos pela nossa mãe nos acordar, porém nesse dia não houve um bater na porta, não escutei aquela doce voz novamente, dizendo que estávamos atrasadas ou que o café já estava pronto.

Era impossível dormir, pois minha irmã não parava de falar, aliás a pergunta do dia era "Por que o céu é azul".

- Sarah, por favor estou com dor de cabeça.

- Eu também estou com a cabeça doendo...

Me virei para o lado da janela, para que tentasse dormir um pouco mais, mas algo lá fora me chamou a atenção, até o certo momento não havia escutado a buzina do ônibus escolar, nem mesmo os automóveis passando na rua.

Diário de um solitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora