3 FESTA LÁ EM BAIXO

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UM fondue suíço com quatro espetos. - Uma garçonete colocou um caldeirão borbulhante de queijo derretido no centro da mesa. - Aproveitem! A mãe de Ali, uma mulher alta e elegante com longos cabelos loiros, um rosto em formato de coração e uma testa com botox permanente, colocou o guardanapo no colo e delicadamente pegou um espeto. Seu pai fez um som de humm e estalou os lábios, que Ali sempre achava que eram um pouco grossos e elásticos. Um fio de queijo estava esticado do espeto até a boca dele. Essa provavelmente era a razão da mãe dela nunca o levar para seus jantares de caridade. Ali franziu o nariz em desgosto. - O que é isso? Parece queijo Velveeta. - É fondue. - A Sra. DiLaurentis empurrou um espeto na direção dela. - Você vai adorar. - Eu provavelmente amo sorvete cheio de gordura, também, mas você não me vê tomando. Sua mãe tomou um gole do copo de vinho branco. - É francês, querida. Por isso, não tem calorias. - Ela torceu a boca como se fosse uma piada engraçada. Ali cruzou as mãos em seu prato vazio e olhou ao redor do restaurante. Era noite de quinta-feira, e ela estava com sua família no Rive Gauche, o novo bistrô francês que havia inaugurado na seção de luxo do shopping King James. O local foi decorado com vários espelhos, anúncios de bebidas alcoólicas retrôs e placas das ruas de Paris. Grupos de mulheres bem vestidas da Main Line compartilhavam mexilhões e batatas fritas em quase todas as mesas. Um grupo de jovens universitários que parecia ter saído das páginas da J. Crew estava tomando sopa de cebola em sopeiras francesas no canto. Ali considerou tirar uma Polaroid do novo restaurante legal, mas depois desistiu - esse lugar era incrível, mas ela preferia tirar uma foto dela com suas amigas. Ela mal acreditava que sua família tinha ido jantar fora; eles não faziam isso há muito tempo. Mesmo assim, seus pais estavam sentados tão distantes quanto possível nas cadeiras, como se fossem duas crianças do ginásio desconhecidas em um baile. A Sra. DiLaurentis estava colada em seu celular como se estivesse trocando mensagens com o Presidente, e o Sr. DiLaurentis continuava espreitando uma pilha de documentos jurídicos que estava em sua pasta. - Jason, você vai experimentar, não vai? - A Sra. DiLaurentis pousou seu celular perto do prato e balançou um espeto em direção ao irmão de Ali. O cabelo loiro e desleixado de Jason caiu em seus olhos quando ele balançou a cabeça. - Eu não estou com fome.
- Não se sente bem? - A Sra. DiLaurentis estendeu a mão para sentir a pele de Jason. Jason se afastou. - Eu estou bem. Ali bufou. - Parece que alguém está em um de seus humores de Elliott Smith - ela disse, fazendo referência a música depressiva e miserável que ele sempre ouvia quando estava deprimido. Jason olhou para Ali por uma fração de segundo, então fungou e se virou. Ali se perguntou se ele estava chateado por ouvir dizer que ela tinha fumado com Cassie, ou talvez que ela tinha flertado com Darren. Mas por que ele se importava com essas coisas? Na maioria das vezes, Jason fingia que Ali não existia mesmo. O que realmente machucava. Ali estava grata por seus pais não terem adivinhado quem ela era - eles estavam muito envolvidos em suas próprias vidas para prestar atenção. Enquanto ela parecesse o suficiente com Ali, eles não fariam perguntas. Mas ela achou que Jason notaria algo. Ele não deveria conhecê-la melhor do que todos os outros? Afinal, ele praticamente a visitou todo fim de semana em Radley, jogando cartas com ela na sala de visitas, dizendo a ela sobre as meninas que ele gostava, uma das quais tinha sido Melissa Hastings, com quem ele começou uma amizade. - É assim que você faz ela gostar de você - Ali tinha instruído ele, dando-lhe dicas que ela viu na Cosmo. Mas quando ela tinha tomado a vida de sua irmã, ela descobriu que Melissa estava namorando Ian Thomas, e Jason estava solteiro. Ela queria perguntar a Jason se ele estava bem, mas parecia fora da personagem - Alison achava que Jason era irritante e insuportável. Se ela quisesse atuar esse papel corretamente, ela teria que fingir que achava isso também. Se ela dissesse a verdade a pelo menos uma pessoa, seu segredo estaria a um passo mais perto de ser revelado. A garçonete pousou as bebidas de todos. Do outro lado da mesa, o Sr. e a Sra. DiLaurentis sussurravam. - Agora? - A mãe de Ali parecia alarmada. - Deveríamos esperar. - Isso não pode esperar - o Sr. DiLaurentis disse com firmeza. - Sim, pode. - O que pode? - Ali perguntou, pegando um pedaço de pão cheio de queijo e colocando na boca. O queijo derreteu calorosamente em sua língua. Era tão bom que ela quase desmaiou. Sua mãe se atrapalhou com os talheres. - Hum, nada, querida. Estamos um pouco estressados agora. Enviar Jason para Yale é muita despesa, e estamos tentando descobrir como administrar as nossas finanças. Ali começou a rir. - Se vocês estão tão preocupados com o dinheiro, então por que vocês estão construindo um gazebo enorme no quintal? Houve uma longa pausa. O Sr. DiLaurentis se levantou para usar o banheiro e esbarrou na mesa com tanta força que quase derrubou a panela de fondue. O celular da mãe de Ali tocou, e ela atendeu com uma falsa voz animada. Ali agarrou a taça de vinho de sua mãe quando ela não estava olhando e tomou um longo gole. Tanto faz. Um ano atrás, ela teria levado o comportamento bizarro deles para o lado pessoal - talvez os pais dela tivessem percebido quem ela realmente era e se recusavam
a compartilhar coisas com ela. Mas eles guardavam muitos segredos, coisas que eles não diziam a Jason, tampouco. O Sr. DiLaurentis voltou do banheiro e imediatamente pegou sua taça de vinho. Quando a Sra. DiLaurentis desligou o telefone, ela olhou para Ali. - Então. Vamos para o hospital nesse fim de semana. O estômago de Ali revirou. - De novo? Faz pouco tempo que fomos lá. - Faz dois meses que você não vai. Vai ser bom para você visitar sua irmã. - Eu já tenho planos - disse Ali rapidamente. As sobrancelhas do Sr. DiLaurentis franziram. - Sua mãe nem mesmo disse que dia nós vamos. - Eu tenho planos todos os dias. - Ali sorriu fracamente. - Por favor, não me façam ir. É tão difícil para mim emocionalmente. Eu passo horas chorando na cama sempre que volto de lá. A Sra. DiLaurentis parecia atormentada. Ali sentiu uma onda de triunfo. Jogar a carta emocional sempre funcionava. O resto do jantar foi formal e em silêncio, ninguém falou. A Sra. DiLaurentis se levantou na metade do seu prato principal porque viu algumas mulheres que conhecia da Liga Junior. Quando eles passaram no bairro deles, havia toneladas de carros estacionados na calçada. Mais carros estavam congestionados na garagem de Spencer, a maioria deles jipes, SUVs, BMWs antigas e Hondas. Um som alto retumbava do quintal. - Parece que alguém está tendo uma festa - a Sra. DiLaurentis murmurou. O Sr. DiLaurentis fez uma careta. - Em uma noite de quinta-feira? Ali saiu do carro para ter uma visão melhor. Os adolescentes estavam no pátio dos Hastings e perto do celeiro do quintal onde Melissa morava. Melissa estava sentada com as pernas cruzadas em uma das mesas do pátio - com os cabelos loiros na altura do queixo e as pérolas, ela parecia um clone da Sra. Hastings. O pai de Spencer, que era alto e largo com um nariz longo e fino, mandíbula forte, e cabelo escuro grosso e encaracolado, estava no terraço, girando uma taça de conhaque. O Sr. DiLaurentis revirou os olhos quando fechou a porta do motorista. - Eles têm que ser tão pretensiosos? Esse terceiro nível do terraço é ridículo. - E ela sempre fala que eles só servem Dom Pérignon nas festas - a Sra. DiLaurentis acrescentou. - Que brega! - Mas mesmo quando ela saiu do carro e caminhou para dentro, seu olhar permaneceu no meio da multidão. Ela parecia quase melancólica. Jason entrou sem comentar nada. Depois de um momento, Ali foi a única que permaneceu na calçada. Ela olhou através das hedges. A maioria dos adolescentes ela reconhecia: Justin Poole, um jogador de futebol gostoso chamado Garrett Flagg, e Reed Cohen, cuja banda quase se apresentou em um festival de música em Philly no ano passado. Ian Thomas, com seu cabelo cor de palha e confiança, o belo menino de ouro, estava ao lado da porta da frente do celeiro, segurando um copo de plástico vermelho que estava certamente cheio de algum tipo de álcool. Mas quando Ali viu a menina ao lado de Ian, flertando tempestuosamente, a boca dela escancarou. Era Spencer.
Instantaneamente, Ali começou a atravessar o gramado, não se importando se suas novíssimas rasteiras Maloles brancas se manchassem de grama. Ela ziguezagueou através das hedges e passou pela multidão de adolescentes até que estava ao lado de Spencer e Ian. Quando Spencer se virou, ela empalideceu. - Oh! - ela gorjeou nervosamente. Ian olhou para as duas, em seguida, se afastou para falar com outro sênior. Ali enfrentou Spencer e sorriu docemente. - Você não me disse que tinha uma festa hoje à noite. Os olhos de Spencer se lançaram de um lado para o outro. - Melissa organizou em cima da hora, ela foi aceita na Penn com uma bolsa de estudos integral. - Que bom para ela - Ali disse. - Mas você poderia ter me mandado uma mensagem. - Eu sinto muito. - Spencer parecia nervosa. - Eu achei que você não estava em casa. Eu vi o seu carro saindo mais cedo. Ali colocou as mãos nos quadris. - E? Spencer apertou sua boca em uma linha. - Ali, não era... - Então os olhos dela se fixaram em alguém por trás delas. Ian estava voltando, agora com um prato de comida na mão. - Quem grelhou esses hambúrgueres? - Ele deu uma mordida suculenta. - Eles estão incríveis. Spencer se animou. - Eu grelhei, na verdade. - Sério? - Ian parecia impressionado. - Você consegue fazer bifes? Spencer se dobrou em um quadril e deu-lhe um olhar muito sensual. - Eu posso fazer qualquer coisa. O sorriso de Ian se alargou. De repente, Ali se perguntou se foi por isso que Spencer não tinha contado a ela sobre a festa. Talvez ela quisesse ele só para ela. Ela se colocou no campo de visão de Ian. - Ei, Eee - ela disse, chamando-o pelo apelido que sua irmã tinha usado em seu diário. Ian voltou sua atenção para Ali. Seu sorriso se alargou, e ele a olhou de cima a baixo. - E aí, Ali? Ela piscou os cílios. Ele era velho demais para ela, mas era muito divertido flertar com ele e ela não podia resistir as covinhas sensuais quando ele sorria. - Você está bebendo Dom Pérignon? - Ela apontou para o copo. Ian deu de ombros. - É champanhe, mas não tenho ideia de qual tipo. Ali olhou para Spencer. - Aparentemente, sua mãe se gaba por só servir champanhe Dom Pérignon nas festas. Parece brega, porém, você não acha? - Ela adorava alfinetar Spencer com as coisas agressivas que os pais dela diziam sobre a família Hastings. - Quem se importa se é brega, se o gosto for bom? - Ian disse. Ele ofereceu a taça a Ali. - Quer um gole? - Ian? - Melissa interrompeu do pátio, pouco antes de Ali aceitar o copo. Ela estava no parapeito, olhando para eles. Ali deu-lhe um sorriso doce, mas a expressão de Melissa não mudou. - Estou indo - Ian disse, pegando o copo de volta de Ali. Ele atirou às meninas um sorriso de despedida e disse que iria vê-las depois. Quando ele colocou o braço ao redor dos ombros de Melissa, Spencer deu um gemido pequeno e torturado.
- Alguém está tentando conseguir o namorado da irmã? - Ali brincou. O rosto de Spencer ficou vermelho. - Claro que não! Ali revirou os olhos. - Oh, por favor. Está escrito em todo o seu rosto. "Eu posso fazer qualquer coisa" - ela acrescentou em voz entrecortada. - Vem para mim, garotão. Me dê um beijão molhado. - Cala a boca! - Spencer gritou. - Você flertou com ele, também! Ali encolheu os ombros. É claro que ela flertou com ele. Havia algo em seu DNA que lhe dava vontade de flertar com todos os meninos que Spencer gostava. Ela precisava provar que ela era melhor. Na verdade, Ali e Spencer estavam fazendo uma competição esse ano para ver quem beijava mais meninos mais velhos. Spencer continuava insistindo que ela estava ganhando, mas Ali estava convencida de que ela estava trapaceando. - Não era de verdade - ela disse. - Admita que você tem uma queda por ele e eu não vou ficar brava por você não ter me contado sobre essa festa de hoje porque queria Ian só para você. - Mas eu não sabia... - Spencer começou. - Só pra constar - Ali interrompeu. - Eu acho ele lindo. Você deveria ir atrás dele. - Você acha? - Os olhos de Spencer se iluminaram. - Mesmo que ele esteja com Melissa? - Por que não? - Ali perguntou. - Vale tudo no amor e na guerra. Na verdade, ela achava meio medíocre ir atrás de um sênior, mas ela esperava que amolecer um pouco Spencer iria fazê-la confessar ainda mais. Spencer suspirou. - Tudo bem. Eu tenho uma queda por ele. Mas você não pode dizer a ninguém, ok? - Seu segredo está seguro comigo. - Ali enganchou seu braço com o de Spencer e puxou-a para uma mesa de comidas e bebidas instaladas perto da grelha. E, vejam só, havia algumas garrafas de Dom Pérignon sobre a mesa. Mas quando ela pegou uma garrafa e despejou um pouco do líquido caro em um copo, ela se deu conta: Ao admitir que ela tinha uma queda por Ian, Spencer também tinha meio que admitido que tinha escondido a festa de Ali, afinal. Vadia.

Ali's Pretty Little Lies (pequenas mentiras de Ali)Onde histórias criam vida. Descubra agora