1 A PRINCESA DE ROSEWOOD DAY

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Alison DiLaurentis caminhou pelo corredor de Rosewood Day Middle School, seus saltos gatinho fazendo ruído, seu cabelo loiro balançando e sua saia do uniforme xadrez no alto das coxas. O professor de Ciências da Terra enfiou a cabeça fora da porta da sala de aula e ergueu as sobrancelhas. As luzes do teto, que deixava todo mundo parecer abatido e pálido, trazia tons de mel na pele de Ali e manchas verdes em seus olhos. Seus passos pareciam desfilar ao ritmo da música clássica que tocava "entre as aulas" da escola. E quando ela virou no corredor em direção ao refeitório, as multidões se separaram para ela como se ela fosse uma rainha. O que ela meio que era. Era primavera, quase no final do ano da sétima série dela, e Ali e suas amigas iriam comer na melhor mesa do lado de fora, uma mesa grande e quadrada com quatro lados iguais que tinha uma excelente vista para o campo de beisebol. Emily Fields, Spencer Hastings, Aria Montgomery e Hanna Marin já estavam sentadas e tirando seus almoços: rolos de sushi do balcão da Fresh Fields e pretzels macios do refeitório. Ali acenou para elas da porta. Spencer se iluminou. Hanna tirou um recipiente extra do rolo de sushi da sua bolsa e colocou no lugar de Ali. Emily olhou para Ali com um sorriso pequeno e animado, tirando superficialmente algumas folhas do assento favorito de Ali. Aria pousou o tricô e deu a Ali um enorme sorriso. Enquanto Ali atravessava o pátio, todos os olhos estavam sobre ela mais uma vez. Ela podia ouvir os sussurros de admiração e os assobios apreciativos. Devon Arliss, que fazia aula de história com Ali, correu até ela quando ela passou e entregou-lhe sua lição de casa daquela tarde, que ela nem sequer tinha pedido para Devon fazer por ela. E Heather Rausch, cuja irmã trabalhava na Sephora do shopping, entregou-lhe uma sacola de presente cheia de amostras da nova linha de maquiagem. - Você é a única pessoa, além dos funcionários que vão conseguir experimentar isso - Heather disse com orgulho. - Obrigada - disse Ali a Devon e Heather, atirando-lhes sorrisos indiferentes. Parecia que ela era uma celebridade VIP: Ela era tão preciosa e desejável, você tinha que estar em uma lista de espera apenas para chegar perto dela. Governar uma escola era, em uma palavra, incrível. Ela tinha tendências para lançar (ela sozinha fez todos de Rosewood Day usarem esmaltes verde-limão nessa primavera); pessoas para derrubar (colocar um recadinho de amor falso de Kirsten Cullen para Lucas Beattie foi a vingança perfeita para quando Kirsten havia criticado suas habilidades de hóquei de campo);
festas para planejar (a temporada de primavera-verão foi a mais movimentada); e meninas para esnobar. Incluindo suas melhores amigas. Ela andou até a mesa delas. - Ei, vadias! As amigas dela sorriram animadamente. - Ei, vadia! - todas disseram em uníssono, embora Emily parecesse envergonhada. Até mesmo os professores mal se encolhiam quando ouviam vadia nos corredores, mas Emily tinha sido praticamente criada por Amishs2, e ela ainda ficava cautelosa com os palavrões. Ali pegou a câmera Polaroid antiga que o pai dela havia lhe dado e tirou uma foto delas, as meninas sorriram alegremente. Embora Aria fosse a fotógrafa/cinegrafista oficial do grupo, a Polaroid era a marca de Ali - ela nunca ia a lugar nenhum sem ela. No início, ela carregava para todo lugar para que ela não esquecesse alguns detalhes sobre sua nova vida, caso ela fosse pega e enviada para a Reserva. Ela queria mostrar aos meninos bonitos que ela estava com suas amigas e que o lugar mais ensolarado do pátio era onde ela e suas amigas sentavam para almoçar todos os dias. Agora, tirar fotos se tornou um hábito regular. - E aí, quais as novidades? - Ali perguntou quando levantou a tampa do sushi. Hanna tinha escolhido o favorito de Ali, rolo de atum picante com tempero extra. - Eu vi Lara Fiori depois do ginásio - Aria disse. - Ela estava usando as mesmas sandálias Marc Jacobs que você usou na semana passada. Uma plagiadora total. Ali bufou. - Isso não - ela disse, se referindo ao jogo que tinha reaproveitado do irmão, Jason. Era a frase que ela e suas amigas diziam sobre alguém impopular ou chato. - Concordo. - Spencer tira algo de sua bolsa e entrega a Ali. - Kirsten Cullen me deu um convite para uma festa no country clube dela nesse fim de semana. Eu devo dizer que nós vamos? Ali analisou o convite, que era em papel cartão macio. - Parece perfeito, Spence. Definitivamente. Spencer parecia satisfeita. - Nós vamos ter que comprar vestidos, hein? - Ooh, a Bloomie tem uma nova remessa de DVFs3 - Hanna disse entusiasmada. - Eu liguei para eles obsessivamente toda manhã e a vendedora disse que guardaria alguns para nós. - Legal - disse Ali, batendo a garrafa de água Vitamin com a de Hanna em um brinde. Emily se inclinou para frente. - Você teve notícias de Matt hoje? Ali cutucou suas unhas. - Um milhão de vezes. - Matt Reynolds tinha sido namorado de Ali, mas ele se mudou para a Virgínia na semana passada. Ele queria continuar o relacionamento de longa distância, mas ela não queria. Embora ele fosse o garoto mais bonito da sétima série, ela nunca realmente tinha estado a fim dele. Mas, como a garota mais bonita da sétima série, era justo que eles namorassem. - Eu superei ele - Ali continuou. - Eu prefiro sair com vocês todos os dias. Suas melhores amigas de um ano e meio coraram agradecidas por terem sido recrutadas por Ali para seu grupo novo. E Ali estava muito agradecida a elas também. Se elas não
tivessem estado no quintal da família dela naquele dia, naquele momento crucial, as coisas seriam muito diferentes. Todos em Rosewood aceitaram o novo grupo de Ali rapidamente, e a popularidade das outras meninas tinha disparado. Foi uma vitória para todas. Elas tinham tido vários momentos de diversão. Como na casa nas montanhas em Poconos da família dela. Ou nas muitas festas que tinham sido convidadas, sendo bajuladas enquanto todas as outras meninas tentavam impressioná-las. Ou nessa mesma época no ano passado, quando elas nadaram nuas em Pecks Pond, as inúmeras festas de pijama que elas tiveram, as centenas de horas de conversas telefônicas, as compras e os dias de spa. Ali tinha reformado essas garotas. Elas passaram de ninguém para alguém, tudo porque ela era Alison DiLaurentis. Naturalmente, o que elas não sabiam era que ela não era Alison DiLaurentis. Mas Ali não gostava mais de pensar sobre o seu passado. Era algo que ela tinha aprendido no grupo de terapia há um zilhão de anos: Se ela só tivesse pensamentos positivos, isso iria conduzi-la a uma vida positiva. Sua antiga existência como Courtney tinha acabado. Ela olhou para Aria, que tinha acabado de pegar suas agulhas de tricô e um novelo rosa de mohair. - Você está fazendo outro sutiã? Aria acenou com a cabeça, em seguida, levantou a metade de um sutiã com bojo. - Você gostou? Ali tocou o tecido macio. - Você poderia vender esse na Saks. - Então ela olhou para Spencer, que estava escrevendo algo no seu calendário de planejamento do dia. - Deus, Spence, você tem uma caligrafia ótima. Spencer se animou. - Obrigada! Ali disse a Hanna que os novos óculos de sol que ela tinha comprado na H&M eram surpreendentemente chiques, e ela puxou o rabo de cavalo de Emily e disse que a camiseta canoa que ela estava usando destacava seus ombros musculosos. Elogiar as meninas era bom - não só porque elas elogiavam de volta, mas também porque as aproximava mais. Não havia nada no mundo mais poderoso do que um bando de meninas que eram sinceramente melhores amigas - não amigas e inimigas. Era algo que Ali tinha desejado por toda a vida. Mesmo assim, Ali não conseguiu evitar de declarar que era levemente melhor do que o resto delas. Ela pegou o celular, olhou para a tela e começou a rir. - Cassie me enviou uma mensagem muito engraçada mais cedo - ela disse, se referindo a Cassie Buckley, uma menina da equipe juvenil de hóquei de campo com Ali. - Ela é tão divertida. - Você ainda está saindo com ela? - Emily soou magoada. - O hóquei de campo acabou faz meses. - Nós estamos bem amigas - Ali disse despreocupadamente. - Na verdade, eu vou sair com Cassie e algumas outras garotas da equipe essa tarde. Houve uma longa pausa. Ali analisou suas amigas, satisfeita por suas expressões preocupadas e intimidadas. Ela sabia que elas queriam que ela convidasse elas para irem juntas, mas excluir elas era o objetivo. Não era exatamente para ser malvada. Isso lembrou ela dos labradoodles de Spencer, Rufus e Beatrice, que ficavam no quintal dos Hastings: Eles brincavam por um tempo, e depois Rufus subia em cima e prendia Beatrice para lembrá-la que ele era o alfa.
- Hey - disse Spencer depois de um momento. - Precisamos descobrir o que vamos fazer na festa do pijama do fim da sétima série. Se você já não tiver planos para essa noite, Ali. - O tom dela era alegre, mas ela deu a Ali um olhar cauteloso. - Por favor, diga que você não tem planos! - Emily disse ansiosamente. - Eu não iria perder a nossa festa do pijama. - Ali olhou para Spencer. - E se fizermos no seu celeiro? - A família Hastings tinha um galpão no quintal da casa que eles tinham convertido em uma casa linda para a irmã mais velha de Spencer, Melissa. Com os seus tetos altos, closet enorme e banheiro completo de mármore e com banheira de imersão, seria uma despedida incrível. Spencer torceu a boca. - Não, a menos que nós quiséssemos que Melissa jogue verdade ou desafio com a gente. Ali revirou os olhos. - Expulse ela por uma noite! Seria perfeito, você não acha? Poderíamos colocar sacos de dormir naquele quarto principal grande, assistir filmes na tela plana e talvez até convidar alguns meninos... - Seus olhos brilharam. - Tipo Sean Ackard? - Hanna perguntou animadamente. - Noel Kahn? - Aria deu um sorriso. Spencer cutucou suas unhas. - O que você acha do seu quintal em vez disso, Ali? Ali fez uma careta. - Esqueceu do gazebo que estamos construindo? Meu quintal está um desastre. - Então ela deitou a cabeça no ombro de Spencer. - Por favor, peça a Melissa? Eu seria a sua melhor amiga. Spencer suspirou, mas Ali sabia que ela estava pensando. Esse era o poder que ela tinha sobre todas elas. Elas fariam qualquer coisa por ela, até mesmo coisas que não queriam. Assim como ela tinha feito pela irmã dela, há vários anos. O sinal tocou, e todas se levantaram. - Você nos liga mais tarde? - Hanna perguntou a Ali, e Ali assentiu. Normalmente, as cinco meninas faziam uma ligação conjunta no final do dia para colocar as fofocas em dia. Ali manteve a cabeça erguida quando virou no corredor em direção ao ginásio para a aula seguinte, os olhares invejosos das suas colegas de classe eram como o sol quente de verão em sua pele. Mas, de repente, algo no corredor a parou. Havia um novo anúncio na vitrine chamado CLUBE DE TEATRO DE ROSEWOOD DAY: RETROSPECTIVA. No centro do cartaz tinha uma foto do clube de teatro desse ano após a apresentação de uma peça, Um Violinista no Telhado - Spencer estava lá, ela havia interpretado uma coadjuvante, bem na frente. Em uma textura de raios de sol estavam as imagens centrais que eram fotos de peças antigas. Ali avistou uma Spencer mais nova interpretando uma árvore em Sonho de Uma Noite de Verão. Havia uma foto de Mona Vanderwaal, seu cabelo estava arrumado em tranças e sua boca cheia de aparelho de dentes, interpretando uma vaqueira em Bonita e Valente. Havia uma Jenna Cavanaugh mais nova, cantando um solo com os lábios naturalmente rosas e seus olhos grandes cor de avelã vendo tudo. E perto dessa, atrás de Noel Kahn que estava usando um tapa-olho, estava seu próprio rosto. Exceto que essa era de uma peça antes da sexta série. Antes de Courtney se tornar Ali, e Ali se tornar Courtney. Se você realmente se concentrasse, as diferenças entre as duas meninas eram óbvias. Os olhos da irmã dela eram mais largos e um pouco mais azuis. Ela ficava mais ereta, e suas orelhas não eram tão para frente. Mas ninguém havia notado essas diferenças, as pessoas raramente prestavam atenção aos detalhes. Ali pensou na Reserva de Addison-Stevens. Ela tinha ido visitar lá algumas vezes, e era ainda pior do que os rumores. A ala dos pacientes tinha paredes azuis descascadas, corredores escuros e grades nas janelas. As crianças se arrastavam pelos corredores desanimadas, algumas delas murmurando, outras gritando, a maioria se contorcendo. Sua irmã era uma delas agora. Ela vinha insistindo que era Alison DiLaurentis há mais de um ano, incansavelmente. Era uma bela situação sem saída: Quanto mais a verdadeira Ali insistia que tinha sido injustamente presa na Reserva, mais motivos a equipe tinha para mantê-la lá. Eles davam a ela tantos medicamentos que ela ficava babando a maior parte do tempo. Ali olhou por cima do ombro, de repente começando a sentir náusea como se alguém estivesse observando ela. Essa sensação a golpeava de vez em quando, embora na maior parte ela apenas atribuísse a estar estressada por causa da graduação. Ela se voltou para a foto. Ela parecia perigosa, de alguma forma. Ali nunca, nunca deixou alguém descobrir seu segredo; ela não iria para a Reserva nem morta. Ela abriu a trava da vitrine de exposição, enfiou a mão dentro, pegou a foto da Alison bonita da quinta série, e colocou-a em sua bolsa. Ela iria queimá-la quando chegasse em casa hoje à noite. O que os olhos não vêem, o coração não sente. Assim como ela costumava ser.

Ali's Pretty Little Lies (pequenas mentiras de Ali)Onde histórias criam vida. Descubra agora