2 -Só mais um dia normal...

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Annabeth passou a viagem inteira tentando me convencer de que o acampamento era um lugar legal e seguro.

-Você vai gostar de lá! Todo mundo vai te receber de braços abertos! - ela falava com entusiasmo, mesmo percebendo que eu não me conformava em deixar tudo o que eu tenho para trás.

Logo quando estávamos perto da colina meio sangue o exército começou a chegar. 300 homenzinhos vermelhos correndo para o vale. Por pouco não viravamos jantar de monstro. De cima da colina meio sangue, consegui ver o vale, era realmente lindo, construções gregas, um lago, e um grande bosque que ocupava provavelmente ¼ do acampamento.

Annabeth me deu uma moeda antiga para a ligação de íris, falou as instruções e me deixou a sós com o lago. Miguel é praticamente meu irmão, deve estar desesperado agora...

Joguei a moeda na beira do lago, e recitei o nome de Miguel. Poucos segundos depois a imagem do loiro apareceu no reflexo do lago, com a cabeça enfiada no travesseiro e soluços doloridos...

-Miguel... - tentei chama-lo, nada, ele continuava entretido no ritmo das suas lágrimas. - Miguel! Levanta essa cabeça homem, eu te chamei já faz horas! - chamei como toda manhã fazia, tentando descontrair.

-Bernardo? - ele levantou a cabeça do travesseiro enxugando as lágrimas.

-Em carne e vapor! Tenho muito pra te explicar, então se acalma que a coisa é tensa...

-Tensa?! Garoto eu fiquei 3 horas com uma equipe de seguranças te procurando naquele maldito shopping!! Você não deve saber a definição de tenso! - ok, meu irmãozinho histérico de sempre. - Você tem 15 minutos para me explicar seu desaparecimento, daqui a pouco alguma monitora vai vir checar o porque eu ainda não fui jantar.

Depois de quase meia hora tentando explicar que sou filho de um deus grego, que monstros existem, que semideuses são sempre perseguidos por eles e que o único lugar seguro pra eles é o acampamento onde eu estou, Miguel respira fundo, relaxa os músculos do rosto e me olha como se fosse voltar a chorar.

-Então você não vai mais poder vir me visitar? Vão nos separar? Só vou poder te ver por essa nuvem? - ele foi falando e a cada frase seus olhos se enchiam mais.

-Não cara! Claro que não! Nem mesmo esses tais deuses me impediriam de te ver maninho!!! Eu PROMETO que nos vamos nos ver ok? - Miguel assentiu, respirou fundo, enxugou novamente suas lágrimas e bocejou. - Mano?

-Que é?

-Quando foi a ultima vez que você comeu?

-Hmm...

-Miguel!!! Já pra cozinha garoto!!! - pela primeira vez desde que fiz essa ligação, vi o sorriso de Miguel. - Sério, vai comer alguma coisa ok? - ele fez que sim com a cabeça. - Tenho que ir, vão tentar me integrar no acampamento, tchau Miguel, se cuida!

Meu irmão sorri e acena, passo a mão na água e vejo a "ligação" ser cortada. Um rosto feminino submerso na água observava tudo, uma garota de olhos totalmente pretos, cabelos longos fortemente ruivos, e a mesma camiseta laranja do tal Percy.

-Quem é você? - me inclino para perguntar.

-Uma náiade. - responde Annabeth atrás de mim.

-Ah, oi... - falo tentando disfarçar meus olhos recém marejados.

-E aí? - ela fala tentando puxar assunto.

-Hmm... Nada demais, só mais um dia normal de semideuses não é?

-Hmpf, pode crer... Não é sempre que eu e Percy somos enviados para uma missão de reconhecimento...

-Como assim?

-É que geralmente, os deuses consagram seus filhos aos 12 anos, e o "brasão" de seu progenitor ou progenitora o guia até o acampamento, junto com seu sátiro. Só que, no seu caso, na sua escola, não haviam sátiros infiltrados, aí a coisa complicava... Ainda mais com um exército atrás de nós...

-Então aquela caveira ia me trazer até aqui?

-De certa forma, foi ela quem trouxe, Percy e eu estávamos te procurando há semanas! Eu mesma tive de me infiltrar com o boné de invisibilidade na sua escola, esperar a tal excursão, só pra aquele resgate acontecer...

-Ah, obrigado, se não fosse por vocês, eu e Miguel seríamos jantar de monstro, obrigado.

-Disponha, isso vive acontecendo por aqui. Hey! Acabei de me lembrar, ainda não te apresentamos ao Quiron. Vamos, antes que o sinal do jantar soe.

Annabeth me guiou até uma grande construção meio grega meio casa de verão; uma casa de três andares, azul e com uma varanda grande.

-Vamos? - Annabeth me tirou do transe proporcionando pela arquitetura da casa. - Hey Quiron! - ela gritou para a traseira de um cavalo, opa, centauro.

-Annie? Já está de volta? Que ótimo! Está é a criança da profecia?

-Que profecia? - pergunto curioso

-Ainda não contou a ele? - Annabeth fez que não com a cabeça. - Então conte!

-Eu te falei que eu e Percy saímos em em uma missão de reconhecimento a você, só que, um pequeno detalhe, semideuses só saem em missões com profecias. E a sua foi :
"Pelo Tridente e pela Coruja o filho das Trevas e da Luz será resgatado, evitando as garras do exército vermelho e o sangue derramando". Bem, ainda não entendemos a parte sobre você ser filho da luz... Mas, até agora sabemos pelo menos que você é filho de Hades, deus das Trevas, submundo, morte, e outras coisas felizes...

-Annabeth? Já mostrou o acampamento ao... Qual é mesmo seu nome?

-Bernardo senhor. Bernardo Becher senhor.

-Hm... Intrigante... Quem é sua mãe?

-Minha mãe morreu, eu tinha 3 anos na época, seu nome era Aline Becher, fui criado num orfanato de Nova York junto com Miguel, meu irmão.

-Outro semideus? Onde ele está? - Quiron perguntou a Annabeth.

-É meu irmão por consideração... - respondi por ela.

-Ah, sim. - Quiron tomava fôlego para falar alguma coisa quando foi interrompido por um somde concha, o sinal para o jantar, suponho.

-Vamos Bernardo? Já é hora do jantar.

Annabeth me levou até um pavilhão usado como refeitório, onde todos eram separados por mesas, cada mesa era destinada a um deus, e seus filhos se sentavam nelas. A de Hades era uma de mármore negro, com um garoto magrelo de cabelo preto sentado. O refeitório mais bizarro do mundo, todas as mesas eram personalizadas com seus respectivos deuses. Me sentei na mesa de Hades e fiquei olhando para o garoto a minha frente, seus olhos eram fundos, como se ele tivesse passado muito tempo chorando, seu cabelo era escuro e longo, um pouco parecido com o meu.

-Oi, meu nome é Bernardo. - tentei puxar assunto.

-Oi, Nico di Angelo, filho de Hades, você é novo aqui?

-Sim...

-A mesa de Hermes fica ali... - ele apontou para uma mesa parcialmente cheia.

Glitter and deathOnde histórias criam vida. Descubra agora