[4] Final

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Roberto tombou de joelhos, vencido. Náuseas potentes como socos atacavam seu estomago. O vomito cobriu o chão de cor parda espalhando a mistura grotesca de cerveja e restos de comida. A visão ainda turva era vencida aos poucos. Olhou ao redor buscando uma pista que fosse de onde estava. Não demorou pra a se dar conta de que estava no que parecia um berçário, provavelmente provavelmente dentro de um hospital abandonado, ou talvez o que restou de um.

– Ai... O que porra ta acontecendo? Só me lembro de estar lá no túnel e... – Roberto correu a mão sobre a testa e com a dor veio a lembrança – e você ter me apagado.

O brilho estranho que emanava da poça de vômito no chão deixava o rapaz ainda mais intrigado.

– Meu Deus! Você me drogou?

– Eu te consagrei. – Disse, seca. Ela estava recostada em um velho birô que havia sido arrastado pra dentro da sala e colocado no meio de vários leitos jogados sem ordem, seu olhar não buscava os do rapaz. – Eu lhe dei a água da verdade e tudo o que viu foi o resultado dela limpando suas entranhas imundas por dentro. Eu precisava fazer isso antes do fim.

Roberto levantou, cambaleante. A cada inspirada nervosa de ar, os pensamentos pareciam entrar em ordem. Lembrou das cenas incríveis e assustadoras que havia presenciado desde que aquela noite bizarra havia começado, porém, agora com sua cabeça tamborilando, custava em acreditar no que quer que fosse. Não ligava mais em crer em criaturas malignas caçando-o, nas revelações que aquele sonho estranho havia lhe dado, nem, segundo as palavras daquela estranha que se apresentava como seu anjo da guarda, em como sua vida havia sido corroída pela mentira. Naquele momento sentia-se na ponta de um precipício, sem estrada há sua frente e lembranças dolorosas à suas costas, e preferia se concentrar no que aconteceria em seguida assim também como naquela figura em sua frente e em suas palavras fúnebres "precisava fazer isso perto do fim".

– Fim? – as palavras cessaram estancadas pelo frio que lhe correu a espinha. – Ei! Ei! O que está fazendo?! – Ele agoniou-se. – Por favor, não! Achei que sua missão fosse me proteger.

– É o que estou fazendo. – Ela segurava o cabo da arma com uma insegurança que nunca havia sentido. – Te proteger. É isso o que me dói.

Os olhares se cruzaram naquele momento que o rapaz sentiu ser morbidamente solene. O Olhar dele, apavorado. O dela, vacilante.

O estalar da agulha explodindo a pólvora da cápsula dentro do tambor sempre lhe foi tão comum quanto respirar era para o seu corpo. Contudo, agora, como dedo no gatilho, ela sentia como se puxá-lo pesaria uma tonelada.

Mas ela puxou o gatilho e o silêncio gritou, para depois se calar.

Primeiro, a sensação de que o sangue havia se transformado em gelo nas veias. Depois o frio correndo por todo corpo e a dormência. Quando o formigar que partia do peito chegou finalmente a cabeça, a visão já estava turva, e a respiração entrecortada. O coração crivado não demorou a falhar e só o que Roberto pode fazer foi olhar, como olhos incrédulos, o buraco de bala em seu peito. Assim, o olhar de desilusão e confusão lançado a jovem de cabelos carmim foi o ultimo ato do jovem. O corpo tombou no chão sujo. Em seus olhos não se via mais vida. Seu coração já não mais batia.

Aquilo estranho sentimento era culpa, ou seria apenas raiva de sua própria incompetência? Afinal, parte da responsabilidade em haver um cadáver ali em meio a uma poça de sangue era sua. Será que seria mais fácil se o tivesse deixado pra morrer nas mãos dos Indignos? Ela pensava enquanto apartava com força o cabo do revolver.

– Era meu trabalho. Sempre foi. Alguém como você, que não conhece a verdade não tem como entender... Foi pra te proteger.

– Não pensei que viveria o suficiente pra te ver assim, Ariel. Isso é mesmo compaixão, ou raiva por ter falhado?

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⏰ Última atualização: Oct 24, 2015 ⏰

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