No dia seguinte, eu já me preparava para passar a tarde assistindo a filmes, mas decidi sair de casa e respirar ar fresco, o que era bem raro de acontecer. O primeiro lugar que passou pela minha cabeça foi o parque que ficava perto da minha casa, e, pensando bem, ir até lá depois de tanto tempo não era uma má ideia.
Depois de guardar meus DVDs na prateleira e trocar de roupa, caminhei até o parque. Chegando lá, dei algumas voltas, até encontrar um banco vazio embaixo de uma árvore, onde me sentei. Fechei os olhos por alguns minutos, somente para ouvir o bonito canto dos pássaros.
— Oi, Luana — cumprimentou uma voz conhecida. Assim que meu olhar buscou quem era, deparei-me com Rafael fitando-me com seus olhos, que poderiam ser facilmente comparados com o azul do céu. — O que está fazendo aqui sozinha?
— Só queria respirar um pouco de ar fresco. E você?
— Estava entediado em casa, então decidi dar uma volta.
— Você não para quieto, não é?
Ele acabou rindo e concordando. Não demorou muito para que se sentasse ao meu lado e começasse a conversar comigo. Mais uma vez, a conversa fluiu naturalmente, e, a cada resposta dada, descobríamos mais uma opinião ou gosto em comum, o que me deixava imensamente feliz. Não era todo dia que eu conhecia alguém que pensava de um jeito tão parecido com o meu.
— Oi, gente.
Virei para ver quem era, e avistei Camila se aproximar, fazendo um nó se formar na minha garganta assim que me lembrei da conversa um tanto intrigante que havíamos tido no dia anterior.
— Oi, Rafael — cumprimentou, entusiasmada.
— Ah, oi... Carolina?
— É Camila — corrigiu com um sorriso forçado. — Posso sentar com vocês?
Rafael não respondeu, e senti a obrigação de concordar, ainda que só por educação. Ela sorriu e se sentou entre nós dois, impedindo que trocássemos uma palavra sequer. Ela se dirigia apenas a ele, como se eu nem estivesse ali.
Eu só me perguntava se existia um motivo que me impedisse de ir embora.
Isso não está certo...
Por mais que eu não estivesse tomando tal decisão por livre e espontânea vontade, sabia que era necessário. Levantei-me decidida a sair dali.
— Rafael, tenho que ir — avisei.
— Sério? Fica mais um pouco — pediu, tristonho, mas infelizmente não podia desistir.
— Desculpa, mas realmente preciso ir.
Ele não parecia feliz com essa decisão, mas no fim assentiu com um sorriso. Soltei um suspiro antes de dar as costas e começar a andar.
— Tchau, Lu — Camila falou, mas continuei andando sem olhar para trás.
Eu me sentia péssima. Em tantos anos de amizade, Camila nunca havia me tratado daquela forma. Aquilo me fez procurar um motivo para tudo isso.
Assim que cheguei em casa, vi Rebeca sentada no sofá. Ela logo se levantou com os braços cruzados e me encarou.
— Tudo bem, quem é você e o que fez com a Luana?
— Por que está dizendo isso? — perguntei, rindo, enquanto fechava a porta.
— O que acha? Toda vez que venho até sua casa, está trancada no quarto junto daqueles filmes melosos.
— Mas só fui ao parque.
— Não importa, continuo achando que você não é a Luana.
Soltei uma leve risada e neguei com a cabeça; em seguida, nós duas fomos para o meu quarto. Assim que nos sentamos na cama, Rebeca começou:
— E aí, alguma novidade? Deixe-me adivinhar... — Levou um dedo aos lábios, fingindo pensar. — Não. Acertei?
— Não dessa vez...
— Viu? É por isso que acredito em milagres — brincou. — Mas me fala, qual é a novidade?
— Bem, para começar, fui até o parque e acabei encontrando o Rafael. Conversamos por um tempo e... — Hesitei, sentindo meu coração se apertar levemente ao me lembrar. — Estávamos conversando normalmente, até que Camila apareceu e sentou entre nós. Começou a conversar com o Rafael e simplesmente agiu como se eu nem estivesse lá...
— É uma bobagem tremenda a Camila fazer isso por ciúme, né?
— Ciúme? — indaguei, e ela revirou os olhos.
— Vai me dizer que ainda não percebeu que Camila está a fim do Rafael? Até parece que nunca a viu assim antes.
— Não me lembro de já ter visto a Camila a fim de alguém.
— Como assim? Não lembra quando ela gostava do Daniel?
— Espera, que Daniel?
— O nosso Daniel — explicou, exasperada. — Mas, como era de se esperar, a paixãozinha dela não durou nem um ano. Claro que o fato de ele gostar de você não ajudou muito...
— Espera aí, o Daniel já gostou de mim? — perguntei com os olhos arregalados. — Me conta essa história desde o início, porque estou completamente perdida.
Apesar de ter ficado surpresa com a minha resposta, ela me contou tudo — lembrou que era amiga da Camila desde o fundamental e, por isso, sabia quando ela estava a fim de um garoto. Naquela época, Rebeca via essas situações como uma fase ou uma brincadeira de Camila, mas isso mudou quando Daniel entrara no nosso grupo.
Ele era um garoto tímido que tinha se aproximado de todos graças à enorme persistência da Camila. Segundo Rebeca, Daniel já parecia gostar de mim desde o início do ano, muito antes de todos se aproximarem dele. Isso não havia atrapalhado em nada o relacionamento do nosso grupo, até Camila começar a ficar com raiva de todos sempre que Daniel resolvia se aproximar de mim.
Ele fora o único motivo para Camila continuar sendo nossa amiga, principalmente por ela me detestar naquela época, apesar de eu não ter culpa de nada.
Só aí tudo fez sentido. Ela estava começando a gostar do Rafael e por isso agia da mesma forma estranha de anos antes. Mas tudo isso também acabou me fazendo questionar se nos últimos anos nossa amizade passara a ser sincera ou se, no fim, ela era falsa comigo desde aquela época.
— E sobre o Daniel, ele não está mais apaixonado por mim... está?
— Bem... eu não tenho certeza — admitiu. — O Daniel contou só para o Matheus e para mim, mas já faz muito tempo que não conversamos sobre isso, então não posso te garantir nada.
Como eu devia reagir ao descobrir que alguém que sempre considerara como um irmão já havia se apaixonado por mim? Ou pior, ele ainda podia estar apaixonado.
Já sobre Camila, eu nem sabia o que pensar. Eu a ajudara tanto, confiara tanto nela por anos... Era difícil aceitar que ela podia estar apenas fingindo, aproveitando-se de mim esse tempo todo.
Eu me sentia perdida, talvez até arrependida de ter ido àquele bendito passeio e ter conhecido Rafael. É claro que não era culpa dele, mas, se eu não o tivesse conhecido, então eu não ficaria a par de tudo o que estava acontecendo; assim, tudo poderia continuar do mesmo jeito.
— O que faço agora?
— Do que está falando?
— Imagina o quanto já posso ter machucado o Daniel sem perceber... Tem que haver alguma forma de resolver isso.
— Lu, isso não depende de você e não precisa carregar esse fardo sozinha.
Meu coração se apertou quando entendi que não havia nada que eu pudesse fazer para resolver a situação, e isso doía; doía tanto...
Rebeca logo percebeu que não havia muito mais a ser feito para me confortar e que eu precisava de um tempo sozinha; ela disse que oraria por mim e foi para casa.
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Amor Sem Fim [DEGUSTAÇÃO]
Tâm linhAos dezessete anos, Luana vive uma rotina monótona. Avessa a mudanças, sempre preferiu manter seus costumes previsíveis e seguros. No entanto, prestes a se formar no ensino médio, percebe que guarda pouquíssimas memórias divertidas da sua época de e...