01 - Monotonia Interrompida

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O som irritante do despertador ecoou pelo quarto. Sonolenta, esfreguei os olhos e me forcei a lembrar o motivo de tê-lo programado para as seis da manhã justo naquele dia. Bocejando, passava a mão pelo cabelo quando me veio à mente o que tanto tentava lembrar.

— Ai, meu Deus! — exclamei e saí da cama em um pulo.

Quinze de julho, justamente o dia em que voltaríamos às aulas depois das longas férias de inverno. Era meu último semestre no ensino médio, e tinha grandes expectativas sobre as boas memórias que eu e os meus amigos poderíamos criar antes de nos despedirmos da escola.

Antes, porém, não podia deixar de me ajoelhar e orar a Deus, agradecendo por mais um dia que se iniciava em Sua presença. Tinha consciência de que devia ser sempre grata pela maravilhosa Graça que era derramada sobre a minha vida todos os dias.

Coloquei a mochila nas costas e desci as escadas tentando fazer um coque no meu cabelo escuro; as mechas longas e onduladas insistiam em cair sobre o meu rosto e enroscar nos meus dedos.

— Bom dia, mãe — falei. Ela já preparava o café.

— Bom dia, querida.

Ela estava bem mais alegre que o normal. Seus olhos verdes, como os meus, brilharam ao me encarar, provavelmente por ela ter passado as férias inteiras torcendo para que as aulas voltassem logo, para finalmente me ver saindo de casa para encontrar meus amigos na escola — mesmo eu me encontrando com eles na Igreja frequentemente.

Ela dizia que, para uma jovem de dezessete anos, eu passava tempo demais em casa.

— Não cansa de ver o mesmo filme? — Era sua fala constante, me encorajando a sair e me divertir com meus amigos. — Vá aproveitar a vida e o pouco tempo que te resta no colegial.

Depois do café da manhã, fui me sentar no sofá para esperar Rebeca, minha melhor amiga. Não demorou muito para que a campainha anunciasse sua chegada.

Levantei-me em um salto e abri a porta, deparando-me com ela, que estava ofegante e com seu cabelo loiro levemente bagunçado.

— Desculpe o atraso — pediu. — Tive que resolver algumas coisas com a minha tia.

Chegamos à escola antes de o sinal tocar, e nos juntamos à maioria dos alunos no pátio. Rebeca tomou a frente e se sentou em um dos bancos, colocando a bolsa ao seu lado e me convidado com o olhar a me sentar também.

— E aí, Lu? — quis saber. — Alguma novidade?

— Sabe que não.

Ela sabia muito bem que a minha vida era monótona, mas insistia em repetir a pergunta com a esperança de que um dia eu falasse que tinha uma novidade "bombástica" para contar.

— Mas é claro que não tem; você nunca sai de casa.

— Já deveria ter se conformado com isso. Sabe que eu amo ficar no meu quarto lendo, ouvindo música...

— Está precisando de um namorado, isso, sim — disse em um tom brincalhão, e começamos a rir.

— Sabe muito bem que entrar em um relacionamento está bem longe dos meus planos.

— Não é por isso que você precisa viver trancada dentro de casa. Tem que se divertir também.

— Não preciso sair de casa para me divertir.

— Claro, porque passar o dia inteiro assistindo a filmes é muito divertido — afirmou, irônica.

— Isso mesmo.

Amor Sem Fim [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora