Eu não queria a encontrar,ainda a detestava,sentava na mesma emburrada como uma criança mimada,fitava meus olhos na mesa ao lado,tudo para não fazer contato com ela,Lucia,minha irmã.Ana tentava apaziguar o clima pesado da mesa,contando vez ou outra alguma anedota sem graça."Me trás uma cerveja", minha voz percebtivelmente alterada corta a tentativa de assunto que Lucia tentava trazer a mesa."Não é nem meio dia Paola" dizia minha irmã,virei o rosto já a fuzilando com o olhar,e antes que pudesse dirigir um xingamento a ela,sou interrompida por Ana "o clima esta maravilhoso hoje",mas uma tentativa frustada dela de começar um assunto civilizado entre nós três.
Pedimos um lanche,Lucia novamente com sua mania de superioridade pede o mais caro, e sorri simpaticamente ao garçom,ela tinha facilidade para conversar com as pessoas,e adorava expor esse fato a mim sempre que possivel.Ela manusiava o lanche com delicadeza,dava algumas pequenas mordidas,e limpava sua boca com o guardanapo devidamente dobrado,pegava com a mão direita a água com gás e colocava na taça,segurava como se estivesse na mais chic festa de Paris,e esquecia que estava num restaurante classe média qualquer de São Paulo,ela colocava a mesa o copo novamente,e fazia algum comentário típico de burguês, "a decoração aqui esta impecável",pontuava.Logo ela levantou,e foi ao banheiro,ou melhor dizendo "toilet"segundo vocabulário da mesma.Enquanto ela se ausentava,soltei um suspiro demorado,mostrando minha total impaciência em ter ela aqui conosco.Ana após sua inocência recém adquirida,não percebia o como cada ato da minha irmã era destinado a me rebaixar,"calma" dizia ela a fim de evitar uma catástrofe.Lucia voltava do banheiro,e fazia mais comentários idiotas,minha paciência já limitada,solto um "vai se foder Lucia", as duas se voltam para mim,juntamente com as pessoas da mesa ao lado,não havia percebido que a xinguei tão alto,mas assim foi,ela começa a chorar,visivelmente um teatro,mas as pessoas que não a conhecia,convicta da sua encenação veio ampara-lá,e me julgavam com o olhar,eu me mantia ali,sentada,com os braços cruzados,já vermelha de tanta raiva,"para de chorar"eu dizia,"para",e ela aumentava os soluços,eu tamboreava a mesa com dedos,enquanto finalizava meu lanche,"que tipo de pessoa é você?!"questionava algumas senhoras que acudiam Lucia,que no mesmo instante chorava ainda mais,"quer saber vai se foder Lucia", "vai se foder","vai se foder",fui repetindo isso,até ao ponto que todos do restaurante já me observava,um garçom me cutucou no ombro,um olhar sério,era nitidamente um convite para eu sair do local imediatamente,peguei meu lanche na mão,e sai rumo a porta.Lá fora,conseguia ver Ana visivelmente sem graça,dando alguns tapinhas nas costas da minha irmã,que já se acalmava do choro,fiquei na praça que ficava em frente.Lucia saiu do restaurante brava,olhava pra mim com seu rosto corado,e olhos inchados e borrado de rimel preto,"mamãe esta morrendo",ela me solta essa,minha cara irônica se transforma num rosto completamente ápatico,me sento novamente no banco,já pálida com a notícia,Ana vendo o meu estado vem me acudir,minha irmã pega uma revista de sua bolsa,e começa a me abanar,tudo preto...eu desmaiei ali.
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Depois de Marcus...
RomanceAs marcas de um relacionamento abusivo se mantinham presente em Paola,após tantos anos sendo refém da sua própria inocência,se via finalmente livre,mas o que restava da vida,após ter sido manipulada pelo o homem que mais amou?Diante dessas reflexões...