Minha mãe senta no sófa,como uma expressão séria,Lucia também estava lá,com cara de choro,não era a reação que eu esperava no meu aniversário de 13 anos."Você vai morar com o seu pai",disse minha mãe,de momento não consigui entender,ele jamais fez nada pela minha criação,e agora eu teria que viver com ele,não consegui dizer nenhuma palavra, me manti ali,firme,imóvel,esperando ela dizer que era mentira,e vim me abraçar,mas invés disso,as duas começaram a chorar,eu ainda sem dizer nada fui para o meu quarto,não precisa de explicações era obvio que minha ausência melhoraria a vida de ambas,peguei algumas roupas e lancei sobre a cama que permanecia desarrumada com o cobertor com estampa infantilizada de algum personagem de desenho animado,e violentamente, ia colocando sem muita cautela na minha mochila bem conservada de cor rosa,depois por falta de espaço enfiava as roupas restantes em sacos de lixos pretos e velhos,ainda sem chorar finalizava o que era de maior importância para levar comigo.
Sentei na cama,e num ato impulsivo abri a primeira gaveta,era aonde se mantia as fotos de família,eu,mamae e Lucia,rasguei todas que ali estava, joguei todas na parede que lentamente foram caindo no chão e formando montinhos ao canto,ainda não conseguia chorar,agarrei minha mochila rosa,e deitei em posição fetal,ouvi o barulho do carro,era o meu pai.Sai do quarto rumo ao carro dele,ele se mantia em pé segurando a porta,os cabelos estavam grisalhos,num sei ao certo quantos anos tinha mas provavelmente era mais novo do que aparentava,usava camisa social azul desbotada e calça preta,parecia uma tentativa forçada de me impressionar,e eu com dificuldade arrastava os sacos de lixo preto que continham as minhas coisas pelo quintal,e minha bolsa pesada nas costas,eu num olhei em nenhum momento para trás,não disse tchau a ninguém,mas consegui ouvir "te amo filha" e o soluço de Lucia,que eu considerava mais um ato de falsidade,e assim aconteceu...
"Você cresceu tanto" dizia meu pai em tom empolgado,ignorando todos os anos que passou longe sem nos notificar,"sei que hoje é seu aniversário,data importante,não?!",dizia tentando puxar assunto e de certa forma se redimir, "sim,Marcelo" disse a ele,"tente me chamar de pai,querida,por favor" dizia ele bem apelativo.Depois de duas horas de trânsito,chegamos no seu apartamento,era incrível e doloroso pensar em como ele morando na mesma cidade,ele jamais veio nos procurar,e como minha mãe teve que trabalhar a fim de manter eu e minha irmã bem,enquanto ele usufruia de um apartamente bem localizado no centro de São Paulo.Ele morava no terceiro andar,num prédio bem equipado classe média,entrei ainda curiosa pelo espaço que seria o meu lar,e dei de cara com uma figura no mínimo icônica,Vera,mulher do meu pai,"oi querida" dizia ela de forma exagerada puxando o "i" do oi,gesticulando afim de mostrar excitação pelo o momento,eu estava visivelmente surpresa,achei que seria apenas eu e ele morando aqui,não sabia que tinha casado novamente,torcia a essa altura para não ter mais nenhuma irmã,"oi" respondi,procurando meu pai afim que ele me explicasse quem era ela, "é Vera,minha mulher" dizia orgulhoso,e ela com um sorriso destacado por um batom vermelho mal passado que borrava seus dentes brancos,junto com uma sombra azul forte nas palpebras,e blush passado de maneira exagerada,entrava em conjunto com uma camiseta de alcinha de oncinha,que reçaltava seus seios imensos,que se expremiam numa roupa que devia ser três números menores que o seu,usava também uma saia jeans desfiada na ponta visivelmente curta e surrada pelo o tempo,e nos pés um tamanco vermelho,ainda olhava agitada pra mim,passando os dedos que tinham unhas postiças mal colocadas no tom bordo pelo os cabelos compridos loiros fruto de um aplique barato,e exibia sua raiz preta no topa da cabeça,"seu pai falou muito de você para mim",eu sabia que era mentira,ele nem conosco falava,quem dira dizer sobre nós para ela,Marcelo vendo minha reação de desprezo e desanimo tentou mudar de assunto, "olha filha,Vera fez bola pra você","13 anos né?" ela perguntava e sorria com sua boca borrada, "é sim" respondi, "pode sentar querida" meu pai pedia gentilmente com um tom de apreensão,sentei,e comi apenas um pedaço naquele momento,a minha compulsão alimentar se transformou num vazio imenso,e comida alguma poderia apazigar o fato que eu forá expulsa de casa,ainda sem chorar fui para o meu quarto,não tive nem apresso para observar a decoração do lugar novo,tudo era um enorme "não chora" na minha cabeça "não chora","não chora",e num grito abafado cobrindo a boca,fui ficando vermelha,meus olhos já não se fechava com lagrimas lutando para sair,um nó na garganta que precisava ser liberado,chorei...
No dia seguinte eu já estava mais calma,porém ainda tentando lidar com tal situação,consegui observar finalmente o apartamento com clareza,e notar o quanto gritante era a decoração,Vera tinha uma mania de grandeza assustadora,queria parecer rica a qualquer custo,por conta disso comprava um pouco de tudo,e colocava no mesmo espaço,era comum para ela usar sempre tons escuros e sempre acompanhado de imitações de quadros caros na mesma parede,os dois sofás também era escuro,vermelho,provavelmente sua cor predileta,tinha também pela sala um carpete marrom,e algumas mofadas coloridas,seguindo pelo o corredor as cores gritantes se mantiam presentes,verde,amarelo,e até mesmo rosa,configurando mais uma vez com quadros mal feitos,e que ela julgava de ótimo gosto,no banheiro a extravagância continuava,ao julgar pela banheira imensa,e o espelho que poderiamos ter uma visão completa de nós mesmo,além de ajuleiros amarelados."lindo né?"me pegou de surpresa Vera que me via observar tudo,"sim fantastico" respondi,felizmente ela não percebeu o tom de ironia que eu acabará de usar,e saiu contente pela cozinha,pegando sua mala de trabalho e indo rumo ao seu serviço,ela trabalhava como secretária em alguma empresa de imóveis,ocupava um cargo alto,o que permitia ir com trajes exagerados,hoje assim como ontem tinha as roupas em tamanho menor,uma saia social curta,um casaco que tinha numa tentativa frustada de a manter mais profissional,e um tamanco horrivelmente gasto,o cabelo tinha sido preso num coque bem elaborado,e a maquiagem era tão forte quando ontem,"tchau querida",dizia ela,e saia pela porta.Meu pai aparecia logo em seguida,penteava seu cabelo,e ajeitava o bigode que parecia ter saido de um filme tipico dos anos 80,"bom dia" dizia ele animado,e visivelmente ainda constrangido e perdido pela minha prescença ali, "bom dia" respondi simpaticamente mas não correspondendo ao sem tom de empolgação,"que sorte que o ano letivo começa agora,vou te colocar em uma ótima escola perto daqui,você vai amar" dizia ele com o olhar iluminado,eu concordava com a cabeça,mas sabia o que um colégio novo poderia significar para mim.
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Depois de Marcus...
RomanceAs marcas de um relacionamento abusivo se mantinham presente em Paola,após tantos anos sendo refém da sua própria inocência,se via finalmente livre,mas o que restava da vida,após ter sido manipulada pelo o homem que mais amou?Diante dessas reflexões...