Tolos

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"Estou cansado desse lugar, espero que as pessoas mudem. Eu preciso de tempo para substituir aquilo que eu dei e todas as minhas esperanças. Elas são altas, eu deveria mantê-las pequenas. Apesar de eu tentar resistir, eu ainda quero isso tudo." - Troye Sivan, Fools.

---Eu queria sair daqui, ir para outro lugar onde não me sinta sufocado. Eu queria estar com outras pessoas, rindo e comendo algo. Na verdade, eu só precisava de um abraço sincero agora. Eu não sei se consigo me expressar corretamente, mas sinto como se me faltasse o ar, como se estivessem me sufocando. E ninguém me vê, ninguém percebe que estão me fazendo mal, indiretamente, mas estão. Sinto que não há verdade em muita coisa e nem em muita gente. O que devo fazer? Sinceramente, eu não sei. Sinto como se um milhão de pensamentos borbulhassem na minha mente. Eu observo as coisas ao meu redor e só consigo ter nojo e revolta de como elas são. Por que tudo tem que ser tão difícil? E por que as pessoas têm que mascarar tanto? Me sinto cercado de mentiras e ilusões, e são poucas as coisas que posso determinar como verdadeiras. Acho que o mundo decidiu conspirar contra mim. Eu não consigo entender a atitude de algumas pessoas. O que dá o direito de controlar a vida do outro assim só por possuir um laço sanguíneo? Eu nunca vou entender como funcionam as coisas nesse mundo louco, com submissão a alguns padrões ridículos que a sociedade nos impõe. Será que vamos sempre ter esses rótulos? E será que vou sempre me sentir como um produto a ser vendido numa prateleira, onde o que importa é sua aparência e sua marca? Sinto que vivemos num mundo onde vale mais a aparência e o que você consegue portar no bolso do que o que o seu coração realmente sente. Isso não deixa de ser torturante e aprisionador.---Eu estava ao telefone, depois de dias tentando ter algum sinal de vida de Mariana. Finalmente, alguém atende o telefone, mas não era ela. Ao atender, a pessoa me diz "alô" e eu respondo:- Boa tarde, eu queria falar com a Mariana, este número é o dela.Eu falei com toda convicção possível, até porque eu tinha certeza de ter ligado para o número correto.- Eu sou o pai dela e sim, este é o número dela. Porém, ela não está no momento. Quem gostaria de falar com ela?Ele tinha uma voz rouca e grave. Por vezes, tive que afastar o celular do ouvido, pois ele falava muito alto.- Aqui é o namorado dela. Eu esperei ela retornar as minhas ligações, mas não obtive resposta e fiquei preocupado.- Veja bem, minha filha não tem namorado, e eu não tenho tempo para trotes ridículos. Espero que isso não se repita.Ele aumentou mais ainda o tom da voz, parecia enfatizar o fato de eu ter ligado apenas com o tom de voz que usava.- Nós começamos a namorar há pouco tempo, porém não consegui me comunicar com ela e fiquei preocupado.- Olhe, rapaz, minha filha não namora. E se depender de mim, ela não vai namorar tão cedo.Nessa hora, ouvi alguém dizer "pai" ao fundo da ligação.Eu ouvia a voz de Mariana misturada com os gritos do seu pai.- Preste atenção, rapaz. Eu não sei quem você é e pouco me importa. Porém, esqueça este número, minha filha não tem namorado.- Mas... senhor...Não consegui dizer mais uma palavra sequer, pois ele acabou desligando. E eu me senti como um pré-adolescente que sente que fez algo errado e tem medo de contar para os pais. Eu não desistiria tão fácil assim. No mesmo instante, peguei minha carteira e, mesmo já estando um pouco tarde, fui ao ponto de ônibus. Estava indo à casa de John. Eu teria que ter uma informação de Mariana, eu precisava e iria conseguir.---[Continua...]

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